quinta-feira, 2 de junho de 2011

A REVOLTA DOS PADRES

Pernambuco, 1817.

Um forte sentimento antilusitano pode ser percebido nas ruas.

Além de olhares rancorosos por aqueles que controlam o comércio e residem nas melhores casas, dos melhores bairros, os brasileiros ainda dedicam aos portugueses apelidos como “galegos”, “pés de chumbo” e outros menos publicáveis.

Os brasileiros guardam ainda, uma mágoa especial, a seu governador, Caetano Pinto Montenegro. Ao pé de ouvido se diz que o tal é Caetano no nome, Pinto na coragem, Monte na altura (1:90m) e Negro nas ações.

O patriotismo está forte como jamais esteve em terras nordestinas.

São tempos de ousadia. Afinal, os Estados Unidos (1776) e o Haiti (1806), por exemplo, já não haviam rompido as amarras coloniais?

Então, todos os sentimentos explodiram no dia 6 de março.

O início foi num batalhão de soldados negros, os “Henriques” insatisfeitos com os péssimos salários, mas logo, lideranças das conhecidas Casas Maçônicas Patriotas e Aerópago de Itambé como Domingos José Martins, Antônio Carlos de Andrada e Silva e ainda de religiosos como Frei Caneca, assumem o movimento, que acabaria também conhecido como “A Revolta dos Padres”.

O Governador, após pifia resistência, foge, sob a zombaria geral.

Então, por 75 dias Pernambuco sonhou.

Um sonho brasileiro. Um sonho de brasilidade. Um sonho que se alastrou para o Rio Grande do Norte, a Paraíba e o Ceará.

Foram incentivadas as ações que demarcassem nacionalidade.

Até nas missas, onde o vinho (português) foi substituido pela aguardente (brasileira) e a hóstia passou a ser feita da mandioca brasileira em lugar do trigo.

Em maio, Antônio Gonçalves Cruz, o Cruz Cabugá, desembarcou na Filadélfia com 800 mil dólares (atualizados, aproximadamente 12 milhões de dólares ) na bagagem com três missões: Comprar armas para combater as tropas de D. João VI; Convencer o governo americano a apoiar a criação de uma república independente no Nordeste brasileiro e Recrutar alguns antigos revolucionários franceses exilados em território americano para, com a ajuda deles, libertar Napoleão Bonaparte, exilado na Ilha de Santa Helena para comandar a revolução pernambucana.

Um sonho brasileiro de 75 dias, a última tentativa de criação de um Brasil popular.

Mas o sonho acabou.

Tropas enviadas da Bahia avançaram pelo sertão pernambucano, enquanto uma força naval, despachada do Rio de Janeiro, bloqueou o porto do Recife. Em poucos dias 8000 homens cercavam a província. No interior, a batalha decisiva foi travada na localidade de Ipojuca. Derrotados, os revolucionários tiveram de recuar em direção ao Recife. Em 19 de maio as tropas portuguesas entraram na cidade e a encontraram abandonada e sem defesa. O governo provisório, isolado, se rendeu no dia seguinte.

Apesar do número relativamente pequeno de vítimas em combate (100 mortos e 150 feridos), a repressão não se fez de rogada: 13 executados na forca (inclusive um menino de 16 anos), 28 mortos no cárcere (suicidados), 1.203 degredados.

Quando o enviado especial aos Estados Unidos, Cruz Cabugá retornou ao Recife acompanhado de quatro veteranos oficiais de Napoleão para dar andamento ao sonho, tudo já estava consumado e o movimento completamente derrotado.

Caetano Pinto Montenegro e os portugueses voltaram a erguer o queixo e o Brasil continuou sua rota que o levaria a “independência” desenhada pelas e para as elites.

Napoleão Bonparte? Provavelmente jamais ficou sabendo do sonho sonhado por aqueles brasileiros malucos.

Prof. Péricles

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