domingo, 7 de agosto de 2011

GETÚLIO VARGAS E A CARTA TESTAMENTO

Nesse mês de agosto faz 57 anos que o Brasil passava por um dos mais intensos dramas que uma nação pode passar. O suicídio do presidente da República.
A Carta Testamento é sempre citada como importante componente desse drama humano e histórico.
Abaixo transcrevemos a famosa Carta Testamento, fazendo um breve comentário sobre o seu significado:

24 de agosto de 1954

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. - (Já na abertura da Carta Getúlio volta a unir seu nome ao do povo, como se fossem uma coisa só. Lógico, isso é uma pretensão orquestrada em sua vida, o culto à sua personalidade que foi sempre seu objetivo maior).

Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa.
- (Refere-se ao caso do Atentado à Rua Toneleros em que Carlos Lacerda e um militar sofreram um atentado, no dia 5 daquele mesmo mês. Getúlio era acusado de ser o mentor do ataque).

Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto.
- (Novamente une suas ações como sendo ações do próprio povo e colocando seus adversários como adversários do povo).

Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci.
- (Getúlio refere-se à Revolução de 1930 que destituiu o Presidente Washington Luis, impediu o eleito Júlio Prestes de assumir e acabou com a República Velha).

Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar.
- (Durante a Ditadura varguista (1937-1945) Getúlio instaurou a CLT inspirada na Carta do Trabalho do fascismo italiano, uniu-se aos nascentes sindicatos de trabalhadores (sindicatos pelegos, que sempre o apoiavam) e fez nascer e cresce a idéia de “Getúlio, o defensor dos trabalhadores”. A afirmação de ter instaurado o regime de liberdade social é totalmente falso e na verdade ele não renunciou, mas sim, fora deposto em novembro/1945 pelos militares comandados pelo General Góes Monteiro).

Voltei ao Governo nos braços do povo. (eleito em 1950)
A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Getúlio governo com um modelo econômico denominado de “Nacional-desenvolimentista” onde procurou não contrair dívidas externa, o estado atuou intensamente na economia e buscou limitar a influência externa na industrialização do país.

Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
- (Após uma longa polêmica nacional, a Campanha “O Petróleo é Nosso” acaba vencedor com Getúlio criando a Petrobras em 03/10/1953. Novamente liga seu nome aos interesses do povo).

Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
-(Eu e o povo X os gringos e seus amigos)

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.
- (Todas as afirmações desses parágrafos finais reforçam as afirmativas anteriores, porém num tom messiânico, fortalecendo a imagem de um Getúlio único, quase santo, defensor dos trabalhadores e dos interesses nacionais).

Getúlio Vargas

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