quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

HERÓI AMERICANO


Entre 1999 e 2009, o então oficial do pelotão Charlie, terceiro grupo da força Seal da Marinha norte-americana, construiu para si uma temida reputação como o atirador mais letal da história da corporação.

Oficialmente, o Pentágono registra 150 mortes no seu nome – o que em si já representa um recorde em relação ao anterior, de 109, até então mantido por um atirador durante a Guerra do Vietnã.

Entretanto, Kyle afirma que sua contagem é maior. Só na segunda batalha de Fallujah, no fim de 2004, diz, tirou a vida de 40 inimigos.

"Adorei o que fiz. Ainda adoro. Se as circunstâncias fossem diferentes – se minha família não precisasse de mim – eu voltaria em um piscar de olhos", escreve o atirador. "Não estou mentindo nem exagerando quando digo que foi divertido."

Sua companhia Charlie foi uma das primeiras a desembarcar na Península de al-Faw no início da chamada Operação Liberdade, iniciada em 20 de março de 2003 pelo então presidente dos EUA, George W. Bush.

No fim daquele mês, na área de Nasiyria, os oficiais Seal aguardavam em um povoado iraquiano a chegada dos marines, fuzileiros navais estadunidenses, que se aproximavam.

No topo de um edifício, Kyle conta que ele e outros integrantes de seu pelotão tinham como objetivo oferecer cobertura aos fuzileiros.

Quase todos os moradores se trancaram em suas casas, de onde assistiam a tudo por detrás das cortinas. Apenas uma mulher e uma ou outra criança se movimentavam na rua.

Quando os marines se encontravam a certa distância, a mulher tirou um objeto amarelado de sua bolsa e caminhou em direção aos militares. "É uma granada! Uma granada chinesa", disse o chefe de Kyle. "Atire." Ao vê-lo hesitar, o chefe repetiu: "Atire!"

Kyle puxou o gatilho duas vezes, a "primeira e única vez" em que matou uma pessoa no Iraque que não fosse homem e combatente.

"Era meu dever. Não me arrependo", escreve. "Meus tiros salvaram vários norte-americanos cujas vidas claramente valiam mais que o daquela mulher de alma distorcida. Posso me colocar diante de Deus com uma consciência limpa em relação ao meu trabalho."

Na 2ª Guerra Mundial, atiradores de elite eram considerados assassinos em série. O recordista mundial de mortes é um atirador finlandês que naquele conflito tirou 475 vidas russas durante a invasão da Finlândia pela então União Soviética.

O militar diz que sua fama de matador mais eficiente da história das Forças não é de grande importância. "O número não é importante para mim. Apenas queria ter matado mais gente. Não para poder me gabar, mas porque acho que o mundo é um lugar melhor sem selvagens à solta tirando vidas norte-americanas."

Reformado de sua função em 2009, ele hoje vive no Texas, onde é diretor de uma empresa que presta serviços para as Forças Armadas dos EUA, treinando atiradores de elite. É este tipo de pessoa que a política belicista dos Estados Unidos criou.


Com BBC

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