quarta-feira, 6 de junho de 2012

BIOGRAFIA



Aos 10 anos acompanhou toda conversa que seu pai e seu Tio Manco mantinham sobre a Revolução Cubana.

Embora ameaçado de palmadas, e o tio manco baixasse por demais o volume da voz, ainda assim, escondido entre os sacos de batatas e cebolas do armazém, conseguia ouvir alguns relatos.

Passou a admirar Tche Guevara, como o grande lutador da liberdade e apesar da confundir o nome de Fidel com a designação de “comandante” achando que eram duas pessoas, amou a ambos.

Aos 14 anos abraços seu Tio Manco que chorava com o jornal amassado entre os braços noticiando que o Presidente se retirava do país sem lutar. Fez que não percebia que seu pai fugia quando com apenas uma pequena bagagem se despediu de sua mãe, dele e de sua irmãzinha, com o beijo mais dolorido que jamais sentiu um dia.

Aos 18 entrou na faculdade em março, tornou-se freqüentador das reuniões sigilosas do centro acadêmico em maio e soube que o centro estava fechado com o AI-5 em dezembro.

Aos 19 anos uma carta de sua mãe anunciava a morte do Tio Manco, surrado até a morte numa delegacia de polícia.

Bem sabia que o velho Tio Manco não resistiria muito às torturas, mas o surpreendeu, quando aos 20 anos soube que seu pai morrera nas dependências do DOPS de Pernambuco, estado que ele nem conhecia.

Leu livros proibidos: Marx, Lênin, Bakunin, Hegel. Sonhou que namorava com Olga, com Rosa e que pedia conselhos a Antônio. Escreveu panfletos subversivos. E passou a militar em partido clandestino. O mesmo PC do B de seu pai e do Tio Manco.

Aos 21 tornou-se clandestino. Sem endereço, sem lenço e sem documento, e viajou para destino ignorado até por ele.

Aos 22 anos, em certa noite de lua cheia, devido à insônia, mesmo torturado pela malária, pôs de lado os trapos que serviam de coberta e ao erguer-se da cama improvisada foi atingido sem aviso e sem chance de defesa por uma rajada de metralha.

Morreu no Araguaia.

Hoje seu corpo continua desaparecido, mas sua alma, junto com seu pai e com o Tio Manco, faz versos de liberdade que, juntos, recitam para as estrelas.


Prof. Péricles

Nenhum comentário: