domingo, 16 de dezembro de 2012

CHIMANGOS E MARAGATOS - TRAUMAS DE GUERRA



Bagé, 23 de novembro de 1893. Fumaças ainda predominam no ar e brotam dos corpos de combatentes mortos.

Às margens do Rio Negro (atualmente território de Hulha Negra) ainda ouve-se gemidos. É final de tarde e os Maragatos, com seus lenços vermelhos, acabaram de vencer a importante batalha do Rio Negro.

Entre mortos e feridos 300 Chimangos estão amarrados e imobilizados. Sobreviventes derrotados da batalha eles agora são prisioneiros de guerra, amontoados em um cercado (mangueira de pedra) para o gado que o povo chamaria mais tarde de “O Potreiro das Almas”.

Durante aquela tarde, até os últimos raios de sol, um a um, aqueles 300 homens serão degolados. Trezentos corpos, alguns, inteiramente sem cabeça irão ser abandonados no charco fétido entre o estrume do gado.

O povo da região afirma categoricamente que o lugar é amaldiçoado e em certas noites sem lua ainda se ouve o barulho da carne sendo estraçalhada e de gritos de pavor. Ninguém, até hoje, fica muito tempo próximo ao Potreiro das Almas.

Pouco mais de quatro meses depois, na Batalha do Boi Preto em 5 de abril de 1894, 250 prisioneiros maragatos são degolados em represália ao massacre do Rio Negro. Muitos foram, ainda, torturados antes da execução.

Desde então a degola e seu ritual macabro tornaram-se rotina e a contabilidade dos degolados, um elemento da guerra.

Pelo menos 10 mil pessoas morreram na Revolução Federalista, além de um incontável número de feridos. Alguns milhares foram degolados após serem feitos prisioneiros.

Com o tempo surge a triste figura do degolador, militar que carregava consigo a adaga de ceifar vidas. Marchava no meio da coluna para se defender dos franco atiradores. Era odiado pelos inimigos e temido e abandonado até pelos companheiros que diziam ser, o degolador, um ser das sombras. Homens do campo, rudes, acostumados a carnear animais, os degoladores se tornaram símbolos dessa guerra e suas histórias repetidas nas conversas de fogo de chão nos galpões de campanha.

Na degola convencional à moda gaúcha, a vítima, ajoelhada, tinha as pernas e mãos amarradas, a cabeça estendida para trás e o degolador com a destreza adquirida nas lides do campo, executava dois profundos cortes na jugular provocando dois esguichos de muita pressão. O sangue saltava por alguns metros. Quando a raiva preponderava o talho era profundo fazendo a cabeça manter-se sobre os ombros apenas por um fio de pele.

Na moda dos Maragatos, denominada de “Gravata Colorada” a faca cortava fundo a carne de orelha a orelha num talho em forma de meia lua. Depois, a língua era puxada para baixo ultrapassava o corte, ficando exposta ao lado de fora da garganta.

A Revolução Federalista, sem dúvidas, deixou traumas que ainda hoje o Rio Grande tenta esquecer.

Prof. Péricles

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto traumático professor!!! Qro dizer professor q suas aulas no ano de 2013 foram fundamentais para o meu crescimento e aprovação. Por isso sempre leio o blog-as vezes mais,outras menos- pois ao ler lembro de detalhes de sua aula que nos ensinava a pensar! Um grande abraço prof Pericles.
ATT
leonardo curso vigor Esa

Anônimo disse...

A degola era no meu ver uma forma de guerra psicológica para aqueles quem ainda lutavam ou se preparavam para luta, pois para aquele que seria e foi degolado isso não importava mais, e sim a grande repercussão que isso causava nos vivos, a propaganda se espalhava e no inimigo causava aquele pavor. ''Pois quem quiser lutar contra nós que lute, mas se cair prisioneiro a faca na guéla vai te pegar'' !!
Luis Alberto Garcia Pancich - Uruguaiana-RS