segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA

Dizem, na Sala dos Professores, que ensinar é um fato compartilhado e que quando transferimos conhecimento, um pouco de nós passa a fazer parte de quem conosco aprendeu.

Essa afirmação é totalmente procedente e ao longo de nossa carreira aprendemos ser impossível ensinar sem aprender junto, assim como é impossível educar sem doar uma boa parte de si mesmo.

Sendo isso verdadeiro, uma boa parte de mim morreu em Santa Maria na madrugada do dia 27 desse mês de janeiro.

Foram muitos os ex-alunos de pré-vestibular incluídos entre as vítimas da tragédia da boate Kiss.

Diante de tanta dor que vitimou tantos jovens e sabendo que muitos levaram consigo um pouco de nós, nos perguntamos se não é uma ilusão a morte por inteira e se na verdade não morremos por partes.

Se pedaços inteiros partiram, não partimos também?

O mesmo, evidentemente, ocorre com os pais, os primeiros e principais educadores de seus filhos.

Quando começamos a morrer de fato? Certamente antes, bem antes do nosso último suspiro.

Morremos, talvez nas pequenas tragédias do dia a dia, as vezes imperceptíveis, assim como nos grandes holocaustos como esse do dia 27.

Mas também renascemos. Talvez viver seja apenas uma continuidade infinita de mortes e renascimentos.

Fiquei com a sensação que o Brasil renasceu também nesse dia.

Milhões de pessoas, em todos os quadrantes desse país, foram capazes de sofrer e de chorar por pessoas que jamais conheceram pessoalmente.

Se somos capazes de sofrer sem segundas intenções e se somos capazes de chorar sem com isso negociar recompensas futuras, é porque, apesar de tudo, das crises econômicas, políticas, sociais, morais, midiáticas, etc, apesar de tudo isso, ainda não perdemos a nossa humanidade.

Deu para perceber que morremos por parte e em cada parte, formando uma só unidade. No altruísmo da dor renascemos como pais, mães, amigos, colegas.

E aí está mais uma verdade discutida nas Salas dos Professores: quem ensina é o primeiro a aprender e nossos jovens acabaram expondo esse Brasil renascido. Aprendemos também.

Dos nosso alunos que partiram restou a certeza de ter valido à pena cada parte doada.

Aos seus pais cuja dor intensa é imensurável, a certeza de que é necessária a resignação para poder continuar, sempre lembrando que resignar não implica em não sofrer, mas sim acreditar que tudo isso, um dia, fará sentido.

Dizem os poetas que, quando damos flores o melhor do perfume fica em nossas mãos.

Da mesma forma, quando produzimos filhos ao mundo ficamos eternamente com o brilho de seus sonhos.


Prof. Péricles



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