terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

LINCOLN




A proclamação de independência dos Estados Unidos da América do Norte, de 04 de julho de 1789, é uma ode à liberdade.

Escrita em sua maior parte pelo iluminista Thomas Jefferson, a declaração enaltece o direito dos livres e se rebela contra a servidão a que a Inglaterra e suas Leis Intoleráveis queriam submeter os americanos.

Tudo muito bonito. Porém, muito hipócrita.

A hipocrisia está na raiz da visão de mundo livre que eles defendiam simplesmente porque mantinha a escravidão negra no novo país (os Estados Unidos assim como o Brasil recebeu grande quantidade de mão de obra escrava africana para trabalhar principalmente nas áreas rurais).

Os “heróis da liberdade” eram também proprietários de escravos e por isso, bem, esquece isso de abolição.

As conseqüências dessa deliberada covardia seriam nefastas.

Ao longo dos anos seguintes, os Estados Unidos ampliaram drasticamente seu território com as Guerras contra o México e a Marcha para o Oeste.

O capital acumulado (apenas Estados Unidos pode criar um mercado próprio ao longo no colonialismo), o crescimento populacional e a política externa fizeram nascer uma pujante indústria na região e com isso surgiram “dois Estados Unidos”.

Um era composto pelos estados do sul, onde a economia era basicamente agrária, quase um plantation como no Brasil, sustentada pela mão-de-obra escrava.

Outro era formado pelos estados do norte, em avassalador processo industrial, precisando cada vez mais de consumidores e de assalariados para mover a engrenagem.

O resultado foi uma guerra terrível, a Guerra de Secessão, entre os do norte (chamados de União, capital Washington) e os do Sul (chamados de Confederados, capital Richmond, Virginia) que sangrou esse país entre 1860 e 1865.

O presidente da união era Abraham Lincoln, político do Partido Republicano que desde o início de sua carreira posicionara-se a favor da abolição da escravatura.

Em 1863, aproveitando que a sorte da guerra começava a lhe sorrir, Lincoln proclamou o fim da escravidão nos estados do norte e áreas conquistadas do inimigo.

Seu temor, porém, era que os estados do sul vendo-se militarmente perdidos, negociassem a paz impondo a manutenção da escravidão nos seus territórios como condição.

Para acabar com essa possibilidade Lincoln propõem uma mudança na Constituição norte-americana, a 13ª Emenda, que decretaria o fim da escravidão em todo o território nacional.

A corrida desesperada pela aprovação dessa emenda na Câmara de Deputados, nos quatro últimos meses da guerra é retratada no Filme “Lincoln”.

Dirigido por Steven Spielberg com uma interpretação extraordinária, quase mediúnica de Daniel Day-Lewis, no papel principal, o filme narra a guerra de bastidores entre os homens do presidente que tentam convencer deputados a apoiar a aprovação da Emenda, e os contrários ao fim da escravidão.

O filme não se dedica a falar da Guerra de Secessão, atendo-se basicamente a aprovação da Emenda.

Interessante reparar que, de forma sutil, o cineasta que utilizou como roteiro o Livro Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln de Doris Kearns Goodwin, mostra que para a aprovação da Emenda Lincoln, não titubeia em recorrer a um mensalão, para “convencer os indecisos”.

Os esforços do presidente e de seu mensalão atingem pleno sucesso em sessão parlamentar de janeiro de 1865.

Vale à pena conferir no cinema.

Quanto ao presidente Lincoln, após a vitória, deu andamento a medidas que buscavam a emancipação dos negros recém libertos visando integrá-los plenamente ao mercado de trabalho e a vida civil da nação (coisa que nunca aconteceu no Brasil). Mas, infelizmente suas medidas e idéias acabaram silenciadas pela ignorância e violência que o atingiram em 14 de abril daquele ano de 1865, quando foi assassinado a tiros nas dependências do Teatro Ford.


Prof. Péricles

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