domingo, 24 de novembro de 2013

TONELEROS... A VERDADE PERDIDA



O relato abaixo é fruto de ficção, não devendo ser visto como um trabalho histórico científico. Mas... quem pode garantir que a ficção às vezes não conte mais verdades do que a história oficial? Leia antes, o texto anterior.



O plano é perfeito, exulta o general. O escândalo será grande. A mídia raivosa será abastecida com informações para ampliar a dramaticidade. Com certeza haverá manifestações de rua exigindo a renúncia do presidente. O exército será chamado para fazer o papel de protetor da constituição e da democracia, para derrubar o velho. Em seguida, antes que se perceba o golpe será completado com a tomada real do poder e a nomeação, de Lacerda, para exercer a presidência, ou mesmo, do próprio general. O plano é simplesmente genial.

É preciso criar a cena. Climério Euribes de Almeida, integrante da Guarda pessoal de Getúlio, aceitou o suborno para contratar o atirador Alcino João do Nascimento. Se algo sair errado, Climério será uma seta apontando para Vargas.

Alcino, pobre coitado, na verdade um marceneiro desempregado tentando ser um matador. Na única vez que foi contrataodo para atirar em alguém, acabou matando a pessoa errada (fato histórico).

As ordens são simples, Alcino deve esperar a chegada de Lacerda e atirar no jornalista, com cuidado para não feri-lo, nem ao filho, mas de forma próxima para dar credibilidade ao atentado. Lacerda deve reagir a tiros para criar a imagem de herói que não se entrega e em seguida, enquanto a polícia é chamada, o taxista Nelson Raimundo de Souza, na verdade, empregado de Climério, leva o atirador para lugar seguro pré-combinado.

Lacerda bradará por justiça e fotos suas ferido irão compor o mosaico do inocente covardemente atacado. A mídia criará a versão de um presidente que supostamente, manda matar seu adversário, e o exército dará o golpe final. Perfeito.

Perfeito, mas, saiu tudo errado.

Primeiro, o teimoso Major Rubens Florentino Vaz cismou de acompanhar Lacerda e o filho até em casa justo naquela noite. Não houve jeito de demovê-lo da idéia. Pior foi que o major reagiu e atirou-se sobre o atirador (fato histórico) que, amador, entrou em pânico e atirou pra valer acertando o militar. Até um guardinha acabou aparecendo com os disparos e anotando a maldita placa do táxi.

Lacerda, assustado com os erros cometidos, apesar de tudo ter sido tão bem planejado, acabou atirando com sua própria arma no pé, para poder afirmar que o alvo era ele e não o Major. Foi corajoso. Mas burro, pois sua arma era calibre 38 enquanto que do desastrado atirador era calibre 45 (fato histórico e “inexplicavelmente” esquecido nas investigações e no julgamento).

Era preciso evitar o desastre. Para desviar as atenções, o próprio exército cria um IPM e toma o caso das mãos da polícia, por isso mesmo, sem avisar o presidente da república (República do Galeão). Se perceberem a diferença do calibre das balas, se perceberem o extremo amadorismo dos envolvidos, se apertarem Climério, tudo poderá ser perdido e a verdade vir à tona. Getúlio passará de criminoso à vítima.

Alguém maior de Climério terá que pagar o pato, alguém próximo o suficiente para não deixar a menor dúvida... alguém... como Gregório Fortunato.

Gregório Fortunato foi preso e sob torturas inomináveis foi obrigado a assinar uma confissão. Foi deixado claro para ele que se assumisse publicamente tudo aquilo, sua família estaria garantida financeiramente para o resto de suas vidas e ele teria a pena anulada quando Lacerda e os militares assumissem o poder. Ele concordou, mas se recusou a apontar o dedo para Getúlio. Assumiria tudo e exigiu que a vida do amigo Getúlio fosse poupada, e assim ficou acertado.

Anos depois foi necessário queimar os arquivos e toda a verdade que ele poderia revelar (assassinato de Gregório na prisão, fato histórico).

Quando tudo parecia consertado e que, finalmente, daria certo, veio o pior, lembrou o general. A raposa do Getúlio Vargas percebeu as reais intenções golpistas por trás de toda a encenação e como último recurso para deter os fatos, cometeu suicídio. Maldito Vargas, morto, atrapalhou tudo, muito mais do que vivo (fato histórico).

O suicídio do presidente abalou o país. O povo nas ruas forçou os militares a recuarem e o golpe que seria dado em 1954 acabaria sendo executado apenas dez anos depois, em 1964 (fato histórico).

As evidências de um atentado forjado foram apagadas, o caderninho de Gregório destruído e o Atentado da Rua Toneleros se tornaria uma das estórias mais mal contadas da história oficial brasileira.

Prof. Péricles

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