sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

MANDELA E O COBERTOR


Contava Mandela que fazia muito frio na prisão em que se encontrava. Houve um tempo em sua vida que sua maior ambição, seu maior desejo, era um simples cobertor. Logo ele percebeu que não adiantaria escrever um tratado acadêmico ao Diretor da Prisão solicitando o cobiçado cobertor, pois isso iria gerar burocracia, despertaria expectativas políticas e ele continuaria passando frio por muito tempo.

Percebeu, então, que a única forma de atingir seu objetivo era o responsável pela seção da cela onde estava. Um simples, mas, naquele sentido, poderoso funcionário.

Para que suas noites fossem menos penosas ele precisaria dialogar com o carcereiro. Não com o Diretor.

O diálogo o levou a entender melhor aquele homem. Soube que era muito mal
pago, assim como seus demais colegas, praticamente não tinha nenhum estudo formal e tinha medo, muito medo que os negros tomassem seu emprego, expulsassem sua família, o deixassem sem nada, talvez até, sem vida.

Nelson Mandela, que era advogado, tornou-se uma espécie de conselheiro daqueles homens manteve o interesse em suas reivindicações e ajudou-os inclusive em questões trabalhistas.

Ele sempre contava essa história, que chamava de “estratégia do cobertor” para dizer o quanto aprendera na prisão.

Ouvir as pessoas humildes. Entender como o medo separa as pessoas que nem sequer se conhecem. Reconhecer o poder muito maior dos pequenos, do que, nos governantes.

Ao ganhar a confiança daqueles homens, dizia, entendeu melhor o quanto somos iguais em nossas carências.

Já na presidência do país, Mandela repetiria que a opressão trás o medo e o medo a separação. Era necessário, dizia ele, um cobertor novo para o país.

No primeiro dia de mandato percebeu, ao entrar na sede do governo, que os funcionários (todos brancos) o esperavam perfilados, certos de que seriam demitidos e trocados por servidores negros. Ergueu a voz para que todos pudessem ouvi-lo dizer que, caso desejassem ir embora, não seriam detidos, mas se quisessem ficar e ajudar a reconstruir uma nação, doando ao país sua experiência, seriam muito bem aceitos. Segundo testemunhas, houve uma profunda emoção entre todos e Mandela pôde contar com toda a fidelidade daquele grupo.

Nos cinco anos em que esteve na presidência (1994-1999) ele mudou as condições de vida de muita gente. Pessoas que nunca haviam tido eletricidade em suas residências. Novas casas foram construídas para quem vivia em bairros de lata, muitos passaram a ter água potável. Mas, sem dúvida, seu maior feito foi ter impedido o grande massacre que ameaçava se abater sobre o povo sul-africano.

Ah... sobre o cobertor, Mandela nunca mais passou frio à noite.


Prof. Péricles

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande e iluminado Nelson Mandela!Que ele siga em paz por outras paragens, por outras querências!