sábado, 8 de março de 2014

O CORNETEIRO DE AFONSO HENRIQUES


D. Afonso Henriques tornou-se conde com a morte do pai, Henrique de Borgonha. A pedido dos reis espanhóis enfrentou os mouro (árabes que se fixaram na Península Ibérica conquistada em 743) e, brilhantemente os venceu, na batalha final de Ourique em 1139.

Surpreendentemente, após a vitória militar, Afonso Henriques não entregou as terras conquistadas aos aliados de Espanha, ao contrário, declarou aquelas terras um reino e ele mesmo seu rei. Estava fundando um novo país - Portugal.

Conta-se que nesses primeiros tempos incertos, Afonso Henriques permitia que seus soldados saqueassem o exército vencido, ou a cidade moura conquistada. Mas era na ordem, sem bagunça.

Funcionava assim; Encerrada a batalha, um corneteiro oficial tocava sua corneta e a partir desse toque, e só então, era permitido o saque (e estupro pois essas coisas caminham juntas). Quando o mesmo corneteiro soasse o instrumento pela segunda vez, estava encerrada a permissão pra saquear e a ordem readmitida. Roubo e estupro voltavam a ser crimes.

Consta que, numa das principais batalhas da reconquista, o corneteiro tocou o sinal para iniciar o saque, mas, provavelmente por estar ferido, morreu durante a ação e não executou o sinal para encerrar a bandidagem.

O Brasil, como todos sabem, foi colonizado pelo país que Afonso Henriques inventou. Somos, em boa parte, a extensão da cultura e do jeito português de ver a vida, o mundo e a si mesmos.

O saque, de certa forma, transferiu-se para cá.

Aqui se travestiu de corrupção se institucionalizou nas fissuras de nossa cultura.
Nos orgulhamos de ser o país do “jeitinho”.

E todos ainda esperam pelo corneteiro.

A culpa não é nossa, cadê o segundo toque?

Exigimos dos outros ouvidos apurados, enquanto o nosso é surdo como o corneteiro morto. O errado é perdoado desde que não seja descoberto.

É preciso reeducar nossa tropa, para que juntos, possamos soprar, dentro de nós, aquela maldita corneta.

Prof. Péricles

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