domingo, 8 de junho de 2014

FERNANDÃO


A história não se restringe ao seu contexto oficial. Existem muitas histórias e muito jeito de contá-las.

Toda história é importante e todas estão interligadas.

A história do futebol, e de seus times, é das mais significativas para milhões de brasileiros que fazem do futebol o palco maior de sua liturgia, e não é por se tratar de um segmento esportivo que deve ser menosprezada.

A história de seu clube é também a história de sua paixão, de seus mais intensos sentimentos que variam da euforia indescritível à frustração imensa e dolorosa.

Existem vitórias e derrotas tão marcantes que quando mencionadas nos “levam” imediatamente ao que fazíamos e onde estávamos quando aconteceu, e isso, muito mais do que outras referências, reconta a nossa própria história individual.

Por isso, a morte de um ídolo como Fernandão, mexe com todos os que gostam de futebol, sejam eles torcedores do seu clube, no caso, o Internacional, ou de seus adversários.

Nunca conversei com Fernandão. Não o conhecia pessoalmente. Mas ele, muitas vezes entrou na minha casa, me entristeceu com suas habilidades a serviço do rival, e foi embora depois dos 90 minutos, para voltar no jogo seguinte.

Jamais tomamos um cafezinho e conversamos sobre política, mundo, ou sobre mulher, mas, de certa forma, éramos íntimos.

Não me venham dizer que não posso me emocionar pela morte de um desconhecido. Eu o conhecia. Nos víamos em todas as rodadas. Fazia parte da família.

Lembro de sua intensa e comovedora liderança entre seus companheiros. Aprendi que nenhum time, por mais qualificado tecnicamente é campeão sem líderes como ele era, dentro do gramado e, especialmente, fora dele.

Foi numa entrevista de Fernandão que, muito antes de Yokohama, temi que o Inter conseguisse o sonhado campeonato.

Admirei quando após abandonar o futebol foi, humildemente, ocupar um banco escolar de treinador de futebol.

Ao contrário de muitos que por terem jogado já se consideravam conhecedores de tudo, foi estudar. Tem como não admirar uma pessoa assim?

O mundo do futebol perde prematuramente um de seus personagens mais encantadores. O Rio Grande do Sul, em especial, e a torcida colorada, em especial.

Mas perdem, sobretudo, todos aqueles que admiram as pequenas ações, os gestos mais simples e a humildade de saber ganhar.

Como gremista jamais me senti desmerecido por esse atleta, pois nunca ouvi de sua boca, uma frase menor de soberba ou de deboche.

Apesar de vocacionado à grandeza, como ser um dos símbolos da conquista do mundial, essa mesma conquista começou, com certeza, com um pequeno gesto de apoio, um olhar, uma crítica fraterna e furtiva, uma mão estendida pelo seu capitão.

Bola pra frente. A vida é assim e Fernandão agora é uma estrela do mundo do futebol, que brilhará para sempre para todos aqueles apaixonados colorados, de todas as gerações.

E para os jovens, muito jovens de hoje, ou os futuros colorados que ainda não nasceram, haverá sempre a história, a testemunha mais importante para cada um de nós, para resgatar sua lembrança.

Prof. Péricles

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