terça-feira, 18 de novembro de 2014

PETROBRAS, UMA VELHA HISTÓRIA




Em junho quando, ao ser nomeado Presidente da Petrobras, Albino Silva afirmou que as falhas da Petrobras “deveriam ser atribuídas à própria empresa e não aos trustes internacionais do petróleo. Jairo Farias e Hugo Régis, diretores da Petrobras que assumiram seus cargos simultaneamente com o presidente, interpretaram a declaração como sendo fruto da sua posição política.

Interpelado por supostas declarações contra Albino, Jairo Farias negou que tivesse ofendido seu superior hierárquico.

“Não estamos diante de uma simples situação de acusações recíprocas, mas diante de investidas de grupos internacionais contra o monopólio estatal do petróleo e do próprio governo”, afirmou, garantindo que havia muito tempo que a prática de superfaturamento fazia sangrar a empresa em milhões de dólares, com o que não compactuava.

Defendeu também seus companheiros das acusações de Albino Silva, dizendo que os 35 mil funcionários da Petrobras o conheciam muito bem e que a sua preocupação não era de defender-se, mas de “defender os companheiros dirigentes e subordinados envolvidos nas dúvidas e insinuações do presidente da companhia”.

Por sua vez, Albino Silva acusou os comunistas e negociatas de jogá-lo contra a opinião pública e rebateu com veemência qualquer interesse pessoal nas péssimas negociações realizadas.

“O Brasil chegou a negociar óleo com o Canadá por um dólar e 65 cents, quando a cotação internacional é de dois dólares e 40 cents. Além disso, o transporte ficou por conta da Petrobras." Toda essa transação foi feita sem meu conhecimento, pois o escândalo já existia antes de minha posse, denunciou.

Albino Silva sugeriu que se requisitassem os livros de contabilidade para constatar a prática de superfaturamento nas importações e exportações e dos prejuízos causados ao Brasil pelas vendas ao Canadá.

Num editorial do “Jornal do Brasil” afirma “a crise intestina de que padece a Petrobras demonstra que o monopólio estatal transformou-se em elemento de corrupção e de ação ideológica de diversas formas”.

A principal revista do país afirmou que o que estava em jogo era a tese do monopólio estatal ou a privatização, bem mais interessante e benéfica à nação.

O governou resolveu agir. Exonerou Albino Silva da presidência embora tenha emitido uma nota informando que a decisão de se afastar havia sido do próprio exonerado e substitui os diretores envolvidos.

Você sabe do que estamos falando, mas deve estar estranhando os nomes, não é?
Isso porque toda essa crise que começou em junho de 1963 chegou ao seu apogeu em janeiro de 1964.
A oposição aproveitou o fato para forçar a criação de uma CPI cujo único objetivo era enfraquecer o presidente João Goulart que acabaria sendo deposto no malfadado golpe militar de 31 de março de 1964.

Nada, portanto, é novidade.

Basta trocar o nome das pessoas, substituir o “Jornal do Brasil” pelo Estadão e Folha, ou a Revista “O Cruzeiro” pela “Veja” que temos o mesmo drama, com os mesmos atores, apenas, com nova roupagem.

O uso da Petrobras, a maior empresa brasileira, criada por Getúlio Vargas no ápice da Campanha “O Petróleo é Nosso” e fundada por ele em 3 de outubro de 1953, como instrumento de perturbação e de ataques ao governo, é muito antigo.

A Petrobras monopoliza agora a extração do petróleo no pré-sal brasileiro. Os olhos da ganância internacional e da mediocridade nacional a ela associada estão arregalados.

As intenções parecem claras, reverter a derrota nas urnas e propor, em seguida, a privatização da empresa.

O roteiro é o mesmo e a história já nos mostrou o que pode vir depois. O entreguismo, o autoritarismo, as sombras da violência e da barbárie.

Ninguém assiste duas vezes a um filme que detestou.

Perda do patrimônio brasileiro. Ditadura.

Nunca mais.


Prof. Péricles

Fonte – “1964 O Verão do Golpe”
Sander, Roberto
Maquinária Editora
2° Edição - Fls. 74/79


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