sábado, 13 de dezembro de 2014

EDUCAÇÃO DE SUPERMERCADO


Por Antonio Carlos Vieira

Quando ainda era estudante, a estrutura da educação pública e particular era muito diferente do que existe nos dias atuais. Naquela época só existia o chamado Ensino Regular alias, nem se usava esse nome, já que era o único modelo existente. Da época que era aluno, até o dia atual foram aparecendo algumas mudanças interessantes.

No início, quando algum aluno não estava no mesmos nível que os demais colegas da mesma série, como por exemplo: enquanto a maioria já sabia ler sem soletrar as palavras e algum aluno estava fora deste padrão, ele era aconselhado a fazer banca e ter uma atenção maior dos professores, para que no final do ano ele passasse a ler sem a necessidade de soletrar as palavras. É claro que naquela época não existia tantos alunos por sala de aula e os professores tinham tempo de corrigir individualmente cada atividade dos alunos.

Com o passar do tempo, a profissão do professor passou a ser desvalorizada (o mesmo teve que passar a ter dois empregos para obter o sustento da família) e na maioria das vezes, houve um aumento no número de alunos por sala de aula. Isso impossibilitou a correção e a tomadas de lições individualizadas dos alunos. Como conseqüência, o número de alunos reprovados começaram a aumentar e ficarem atrasados e estudarem com idades consideradas fora do limites padrões para cada série escolar. Esta pequena mudança nesta falta de ajustamento dos alunos, fez surgir um exercito de alunos com idades um pouco elevadas para as série que estavam estudando. A escola passou a trabalhar como uma fábrica, se ensina determinado assunto, o aluno que aprendeu e acompanhou o desenvolvimento é aprovado para o ano letivo seguinte e os que não, eram reprovados e ficavam marcando passo na mesma série. O nome que dei a esse procedimento foi "Educação de Olaria". Você tem uma forma e sai batendo o barro para fazer o tijolo, os que saem torto (o aluno que não consegue acompanhar o assunto) é reciclado como um novo bolo de barro (reprovado) e é jogado na forma mais uma vez (repete a série) até que o tijolo saia na forma correta. Com o decorrer do tempo, os tijolos tortos passaram a aumentar de número e alguns passaram a não frequentar a escola.

Como fazer para que esses alunos passassem para a frente e desocupassem as salas de aulas para a chegadas de novos alunos? Muito simples, é só aplicar a dinâmica dos Supermercados. Quando uma mercadoria está encalhada é só fazer uma promoção, ou seja, foram criados os chamados pacotes (EJA, Acelera, Se liga, etc, “pague um semestre e leve dois”, ou seja, você estuda um semestre e está aprovado no correspondente a um ano letivo. Agora você tem garantido uma série anual pagando somente um semestre de estudo (antes para ser aprovado em uma série se estudava um ano). É claro que a idéia é fazer com que os alunos passem pelos bancos escolares o mais rápido possível para deixarem vagas para os novos alunos!

Atualmente, criou-se a chamada Avaliação de Desempenho. Só que uma Avaliação pode ser usada com várias finalidades e por motivos diversos. Sem falar que tem muita gente confundindo avaliação com normas de procedimentos e se criou uma tabela de normas (Tabela de preços existentes nos supermercados). Por quinze minutos de leitura em cada aula, o professor tem direito a um ponto, para cada debate em sala de aula, o professor tem direito a mais um ponto e assim vai. Dependendo como o professor cumpra as normas existentes nesta tabela, será considerado insuficiente ou não. Só que neste caso eles inverteram uma das regras do supermercado para incentivar os professores.

Nos supermercados, quando um funcionário é considerado bom, ele tem sua foto colocada em destaque dentro da instituição como colaborador do mês (isso para incentivar outros funcionários a trabalhar melhor) e no caso dos professores, será colocado em destaque os professores e alunos considerados insuficientes (ruins) e ficando as expostas e desmoralizados perante a instituição e comunidade freqüentadora da mesma, ou seja, em vez de criarem incentivos estão tentando desmoralizar os professores.

Para o futuro, está transitando no congresso, um projeto que amplia o número de 200 dias letivos para 220 dias! Quando resolveram que os supermercados iriam abrir aos domingos usaram de vários argumentos de melhoria (não consultaram os funcionários) e que os trabalhadores não seriam prejudicados e que seriam criados novos postos de trabalhos. Os trabalhadores passaram a trabalhar aos domingos sem terem um centavo a mais nos seus salários, as folgas estão sendo tiradas nos dias da semana (o chefe escolhe o dia), e não se tem notícia de se ter criado um único posto de trabalho por tal iniciativa. Os dias letivos serão aumentados em vinte dias, mas, os salários dos professores continuaram os mesmos!

O inconveniente, é que outrora foi aumentado os números de dias letivos e mesmo assim não houve melhoria de qualidade de ensino, pelos simples motivo: a educação só irá melhorar quando se mudarem a maneira, organização e estrutura, esquecerem que escola não é fábrica ou supermercado e houver os investimentos necessários para tal fim.

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