terça-feira, 23 de dezembro de 2014

PAPAI NOEL E A COCA-COLA


Em meados do século IV, quando a Igreja começava a ficar realmente poderosa, uma coisa irritava profundamente seus líderes. A teimosia do povo em não abandonar as sacrílegas festas pagãs. Logo a Igreja percebeu que não adiantava nadar contra a maré. O povo curtia suas festas e ponto final. Era algo como o governo hoje querer acabar com o carnaval.

Foi então que os homens da Igreja tiveram uma idéia. Ao invés de combater as festas mundanas por que não trazê-las para a própria Igreja, alterando suas tendências heréticas e dessa forma, controlar melhor o alarido do populacho?

Alguém teve a idéia de aproveitar a farra do “Natalis Solis Invicti”.

“O Nascimento do Sol Invencível” era uma festa animada, em que se comemorava desde tempos imemoriais a chegada do solstício de inverno no hemisfério norte. Muito popular caía sempre entre os dias 21 a 25 de dezembro.

O evento escolhido pela Igreja para ser comemorado nessa época foi o nascimento de Jesus, e o dia, que deveria ser fixo, o 25 de dezembro.

Pronto, nascia assim o natal, que se transformaria com o tempo na maior festa religiosa cristã.

O primeiro natal foi comemorado no ano 354 em Roma.

Cinco séculos depois os alemães introduziram a árvore natalina como uma das atrações do natal. Já o hábito da troca de cartões de natal nasceu na Inglaterra por volta do século XIX.

Já a lenda do Papai Noel, teve origem na Turquia, no mesmo século da introdução da festa em Roma. Nessa cidade vivia um homem da fé cristã, Nicolau Taumaturgo, que, pelo que diz a lenda, costumava doar parte de sua fortuna pessoal aos necessitados, geralmente, de forma anônima. Para a Igreja Católica, um santo, São Nicolau.

Papai Noel, você sabe, vive no Pólo Norte com Mamãe Noel. Fabrica brinquedos o ano todo em sua fábrica mágica auxiliado por inúmeros elfos e na noite de natal sobrevoa o mundo num trenó voador puxado por renas fantásticas.

Mas, a lenda não surgiu pronta. Ela foi se transformando com o tempo e muito do Papai Noel de hoje em dia devemos a Coca-Cola.

Antigamente, Papai Noel era representado com um semblante triste, mas propício a um santo do que aquele velhinho alegre que ri “ho-ho-ho”. Suas vestes eram escuras, próprias para alguém que vive na neve, geralmente verde-escuro.

Quem teve a idéia, pela primeira vez de um Papai Noel mais light e sorridente foi um cartunista alemão chamado Nast que, em 1886 desenhou papai Noel vestindo roupas vermelhas com detalhes brancos, cinta e botas pretas.

Pois, em 1931 a Coca-Cola utilizou a coincidência das cores do Papai Noel com sua própria logomarca e espalhou cartazes e outdoors com Papai Noel de Vermelho e tomando Coca-cola. Foi um enorme sucesso que atravessou fronteiras e mudaria para sempre a imagem do bom velhinho.

Até hoje Papai Noel anda por aí fantasiado de Coca-Cola.

Ainda hoje as crianças se encantam com a lenda. Adultos se esforçam para mante-la viva, todos se recordam de seu tempo, e poucos recordam daquele que, teoricamente deveria ser o mais lembrado, Jesus.

Talvez o marketing da Coca-Cola seja mais forte que o marketing da figura meiga de Jesus, afinal, em tempos de consumo onde faturar é lei, Papai Noel vende, Jesus não vende.

Provavelmente haveria espaço para a alegria infantil e para a reflexão necessária se houvesse entre as pessoas, essa vontade.

Refletir sobre a imortal filosofia de Jesus e sua moral revolucionária.

Não, ninguém quer estragar seus festejos, justos e merecidos que coroam um ano de trabalho que se encerra.

Nem se quer que entre o consumo de perus e castanhas se recorde que 12,9 milhões de crianças morrem a cada ano no Brasil, antes dos 5 anos de idade. Nem que 40% da população mundial vivem em situação de extrema pobreza e que 9% das crianças do mundo inteiro morrem de fome ou de doenças ligadas a miséria.

Isso talvez faça mal à digestão.

Mas, lembrando aquele aquém a festa deveria ser oferecida, reserve um espaço, um cantinho que seja, do seu tempo, para pensar sobre os abandonados da sorte, os entulhos do capitalismo.

Não se resolverá o problema das injustiças sociais e da miséria, mas, combatendo o “nem to aí” e domando seu egoísmo comprometendo-se a um ano de 2015 mais fraterno e comprometido, sua ceia ficará, com certeza, mais gostosa.

Não existe, nem existirá, tempero mais gostoso do que a solidariedade.

FELIZ NATAL!


Prof. Péricles


Um comentário:

Alex disse...

Uma reflexão que as pessoas precisariam fazer antes de tanto desespero consumista. Mas a massificação e a cegueira são implacáveis.