segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

SOCIALISMO, COMUNISMO E OUTROS SONHOS


As origens do socialismo são belas. Nasceram do desejo de justiça e liberdade aos menos favorecidos.

As primeiras propostas foram dos chamados “socialistas utópicos”. Pensadores que defendiam a criação de um modelo social menos desumano, porém, sem saber bem como construir uma sociedade assim, suas propostas esbarravam no impraticável, tornando suas idéias algo como que sonhadoras.

O “capitalismo bonzinho” não poderia mesmo ser ponto de partida para nada mais concreto.

Os anarquistas, cujos pensamentos geraram uma infinidade de variáveis teóricas, apregoavam, basicamente, um estado sem poder central, enraizado na fraternidade e no respeito ao direito do próximo. Como promover a fraternidade, eles não sabiam bem.

Porém, valores burgueses como propriedade privada, exército, nacionalismo, lei e religião, eram tão questionados pelos anarquistas que estes não foram vistos apenas como sonhadores e, contra eles, levantaram-se os ódios mais profundos do capital.

A dupla Marx e Engels difere-se dos utópicos exatamente porque basearam suas conclusões na observação histórica da formação das sociedades.

Partindo da premissa que o mundo em que viviam (o século XIX) não era justo e no desejo de demonstrar como seria uma sociedade igualitária, indicaram o que, consideravam ser, o caminho para a construção de um mundo melhor.

Primeiro Marx desmontou a forma clássica de interpretação da história, demonstrando que o que move as civilizações para frente não era a vontade iluminada de soberanos, os desejos particulares ou a bondade da busca do bem maior, mas, sim, a luta de classes entre os que habitam o andar de cima do prédio social contra os interesses dos que habitam andares inferiores, tão violenta quanto silenciosa.

Nesse contexto, proprietário e escravo, patrício e plebeu, senhores e servos, eram atores do mesmo espetáculo interpretado inúmeras vezes na história.

Num trabalho imortal do intelecto humano, Marx comparou a sociedade a um prédio e explicou o que era a infraestrutura (os pilares da obra do prédio), redefinindo o que seria salário, trabalho, capital, propriedade. Também demonstrou quais eram as superestruturas sociais (o acabamento do prédio) e quais suas funções na manutenção da ordem burguesa o papel da religião, do patriotismo, da guerra, de nacionalismo.

Marx e Engels demonstraram que, apesar de moraram no mesmo prédio, as pessoas não eram iguais e demonstraram sociológicamente, o que as tornavam diferente.

Especialmente interessante na visão marxista é o papel e a representatividade do governo e da própria democracia, sendo o governo muito mais um comitê que representa os interesses dos poderosos do que um órgão representativo do todo e a democracia uma fumaça que confunde o foco dos mais pobres.

Depois, especialmente em “O Manifesto Comunista” editado pela primeira vez em 1848, o historiador e sociólogo Karl Marx aponta (não prevê no imensurável) criticamente, historicamente, quais seriam os passos futuros da humanidade.

Para ele, sendo a mola propulsora do mundo o modo dialético onde uma situação, um tese, inexoravelmente se esgota dando lugar a uma antítese, uma nova situação, o capitalismo, pela própria criação da miséria que lhe é inerente seria desafiado num futuro próximo, donde ocorreria uma das seguintes situações – o proletário organizado em um partido operário forte e consciente, por ser esmagadora maioria, chegaria ao poder de forma revolucionária, jamais pela democracia burguesa (desconstruindo o velho e criando o novo), gerando a ordem proletária de organização social, ou, os capitalistas se reorganizariam em novas ordens gerando reformas (mantendo o velho e mudando apenas a roupagem).

Se tudo desse certo e os proletários organizados e politizados chegassem ao poder, o que teríamos primeiramente seria uma sociedade em que boa parte da propriedade seria estatizada atingindo de morte a propriedade burguesa, e a sociedade seria governada por esse partido representativo das massas.

A Ditadura do proletário, na verdade, significaria o poder da maioria sobre o estado, e não o contrário, o estado acima de todos, como apregoam os menos informados.

A existência de governo e de estado, e nisso marxistas e anarquistas concordavam, ainda seria a manutenção das estruturas arcaicas de poder, por isso, num segundo estágio, com a ampliação da igualdade, da responsabilidade compartilhada e do entendimento que todos, no mundo inteiro são iguais, assistiríamos o nascimento da sociedade comunista, o paraíso na terra, segundo Marx, onde não haveriam governos, fronteiras, nacionalidades e exércitos.

A teoria assustou, como não poderia deixar de ser, os donos do capital. Mas, por algum tempo permaneceu apenas uma teoria.
O que mudaria o mundo, para sempre, seria o dia que a teoria, pela primeira vez seria posta em prática.

Isso aconteceu a partir de outubro de 1917, na Rússia, mas já é outro assunto.

Prof. Péricles

Um comentário:

Ariosto Azeredo disse...

Em 1917 inicia-se a busca pela concretização dessas ideias, mas que se perde pelos mais diversos motivos, gerando a burocratização do Estado e pena de morte do Socialismo Soviético. Defendo sempre que uma das razões foi que o Ser Humano ainda não estava - não está - pronto para esse passo.
Há pouco comentei sobre o termo Ditadura do Proletariado no meu face, mas escreveste em uma linha o que levei várias.