quinta-feira, 12 de março de 2015

ESTADO ISLÂMICO, FRANQUIA DO INFERNO



Quando a “Primavera Árabe” apareceu no cenário mundial, trazia promessas de novos tempos para a sofrida população dos países muçulmanos.

Esperava-se que o processo iniciado na Tunísia, em 2010, representasse o início de uma nova era, algo assim, o que representou a Reforma Religiosa e o Iluminismo para o Ocidente.

Liderados, na maior parte, por grupos estudantis, portanto, majoritariamente, jovens, a “Primavera Árabe” prometia trazer consigo a tolerância religiosa, a democracia, quem sabe até, promover uma troca dos estados fundamentalistas por estados laicos.

Doce sonho, amargo despertar.

O tempo encarregou-se de mostrar as duas faces negras escondidas sobre o véu de Alá.

Primeiro, uma faminta interferência internacional, liderada pelos Estados Unidos, e seguidos de perto pela OTAN. Tal interferência espúria, decidiu, com o uso da força, os caminhos seguidos pelos movimentos.

Segundo, a existência de grupos oportunistas dentro desses movimentos, mas, apoiados pelos Estados Unidos e OTAN, que longe de promover a tolerância e a liberdade, trouxeram ainda mais radicalismos e terror.

O grupo jihadista (Jihad = Guerra Religiosa) Estado Islâmico (EI), desde o início de 2014, vem obtendo vitórias militares e anexando territórios aos seus domínios, situados, parte no Iraque, parte na Síria, aproximando-se perigosamente da fronteira com a Turquia.

No dia 29 de agosto de 2014, o Estado Islâmico proclamou que seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, havia se autoproclamado “califa do Oriente Médio”.

Nos meses seguintes eles iriam invadir os telejornais ocidentais com imagens de execuções “ao vivo” através de decapitações e até da queima de um piloto de caça jordaniano, abatido na Síria.

Além das execuções comprovadas, são ainda acusados de prática tenebrosas como mutilações, crucificação, estupro de mulheres e crianças, além da destruição de patrimônio histórico internacional.

Sua capital é Mossul, cidade ao norte da Síria, mas destacam-se ainda as cidades de Tal Afar, Kikut e Tkrit (cidade natal de Saddam Hussein).

De uma forma assustadora, esse grupo ultra fundamentalista consegue atrair a atenção de jovens europeus, especialmente, franceses, gregos e italianos para enfileirarem-se com eles como voluntários em sua guerra santa.

De onde nasceu o estado Islâmico?

Por que, de forma tão repentina, tornam-se ameaça a paz global?

A resposta é tão triste quanto previsível: da interferência do ocidente nos assuntos internos dos países do Oriente.

O Iraque foi invadido por tropas norte-americanas que apenas recentemente, literalmente, abandonaram seus aliados e o país à própria sorte.

Divididos por muito ódio entre sunitas, xiitas e curdos, e sem o seu presidente Saddam Hussein, morto durante a invasão, o Iraque é hoje um “saco de gatos” irreconhecível e irreconciliável. Conquistar o apoio de desesperados e tomar generosas fatias do país não foi difícil para o EI.

A Síria queda-se numa guerra civil que já matou centena de milhares de pessoas. De um lado o presidente inimigo dos Estados Unidos, Bashar al-Assad e seus aliados. De outro, tropas de “rebeldes” e mercenários de multinacionalidades, armados e treinados pela OTAN. Para complicar ainda mais o caos, China e Rússia, além do Hezzbolah, estão com o presidente.

Por sua vez, não custa lembrar que o “Estado Islâmico” nasceu de uma divisão na Al-Qaeda, grupo fundado por Osama Bin Laden sob os auspícios da CIA e do governo norte-americano, nos anos 80.

Ou seja, o ocidente construiu seu próprio pesadelo, que recentemente chegou até a França para matar cidadãos franceses em um jornal popular.
Mas, daí não podemos pensar que tudo seja uma sequência de azar dos mentores ocidentais a golpes e intervenções.

Não. Na verdade, tudo faz parte de um plano maior que visa desestabilizar completamente a região mais importante para a produção de energia do globo e criar uma espécie de franquia do inferno, administrada por Washington.

Desgraças, não existem na política internacional. Tudo são consequências das ações planejadas e executadas, num contexto de dominação e de interesses.

Prof. Péricles

2 comentários:

Unknown disse...

Que história hein??????
Quantas injustiças..
Uma narrativa sem deixar dúvidas..
Uma história a ser guardada e relembrada.
Para muitos boa...Mas para outros,quanta tristeza..e tudo é a política....Sempre ela...
Parabéns Péricles pela grande capacidade de escrever parecendo a realidade..e sem ficar com dúvidas.

Alex disse...

Perfeita análise, com a qual compartilho. Seria esta, num prazo mto curto, uma das consequências da mentira de Bush e seu acoleirado perdigueiro Powell, sem juízo de valor aqui sobre a era Saddan. Grande abraço professor Péricles.