terça-feira, 7 de abril de 2015

O JESUS HISTÓRICO



Tenho uma amiga que fica braba quando digo que não existe Jesus histórico.

Ela não entende, apesar de bem informada, que, quando dizemos isso não estamos afirmando que Jesus não existiu mas, apenas que, não existem documentações de base histórica sobre a vida de Jesus sendo que, em síntese, o que se sabe desse personagem que moldou o ocidente é através dos evangelhos, textos religiosos não históricos.

Apenas um historiador contemporâneo dos fatos registrou algo sobre Jesus, o historiador latino de ascendência judia Flávio Josefo, que nasceu no ano 37 (quatro anos depois da morte de Jesus) e morreu no ano 100. E mencionou de forma muito leve não nos deixando muitos elementos que pudessem ser comprovados.

Os próprios evangelhos canônicos (escolhidos pela Igreja) são de autoria não identificada e escritos num tempo bem além da morte de Jesus. Certamente não foram escritos pelos apóstolos Mateus, Marcos, Lucas e João.

Outros evangelhos, denominados apócrifos (não aceitos pela Igreja Católica), apresentam narrativas que, às vezes, confrontam as narrativas oficiais.

O ano de nascimento de Jesus, calculado pela Igreja, está incorreto.

O fato histórico usado como referência para a datação do nascimento é o primeiro recenseamento da população da Palestina, ordenado pelas autoridades romanas com o objetivo de regularizar a cobrança de impostos. Lucas diz em seu evangelho que Jesus nasceu na época do censo. Estudos mais recentes situam esse acontecimento entre os anos 8 e 6 a.C.

Segundo o evangelho de Mateus, o nascimento de seu mestre foi saudado por uma estrela (que guiou os reis magos). Consultados os mapas estelares verificasse que apenas um fenômeno foi forte o suficiente para causar impressão visual na Terra naquela época, a passagem de um cometa, no ano 6 antes de Cristo. E isso, ratifica a especulação dos estudiosos.

Era comum na época que, as pessoas se fixassem no local de nascimento para responderem ao tal censo e, por isso Maria e José, os pais de Jesus, teriam se deslocado de Nazaré, na Galileia (onde viviam) para Belém, na Judéia. Essa informação é contestada por historiadores que indicam que Jesus não nasceu na Judéia, mas na própria Galileia. Diziam os judeus preconceituosos (igual certos brasileiros se referindo aos nordestinos) que nada de bom vinha da Galileia o que, de certa forma, explica a rejeição no início da pregação de Jesus.

Para a Igreja Católica, Maria permaneceu virgem mesmo depois do nascimento de Jesus. A expressão irmãos e irmãs, empregada por Mateus e Marcos, designaria parentes mais distantes de Jesus, como seus primos. Essa opinião é contestada pelos protestantes, que acreditam que os irmãos que aparecem nos evangelhos eram irmãos mesmo. Eles são citados pelos nomes: Tiago, José, Simão e Judas. Tiago, conhecido como Tiago, o Maior, fez parte do círculo dos discípulos mais íntimos; após a morte de Jesus e a saída do apóstolo Pedro de Jerusalém, assumiria a chefia da Igreja.

A ação de Jesus transcorreu principalmente entre os pobres e marginalizados de seu tempo. A fértil região da Galileia, onde presumivelmente passou a maior parte de sua vida, abrigava uma população miserável, vista até com desconfiança pelos judeus conservadores (qualquer semelhança com o Brasil atual não é coincidência).

A espetacular descoberta das ruínas e dos manuscritos da comunidade dos essênios, ocorrida em 1947 na localidade de Qumran, às margens do mar Morto, no atual território de Israel, alimentou durante bom tempo a suposição de que Jesus pudesse ter pertencido a essa irmandade religiosa. Mas a crítica mais recente vem desmentindo também essa hipótese.

É provável que a ideologia dos essênios tenha influenciado o pensamento e a prática de Jesus, assim como da comunidade cristã primitiva. Mas as diferenças também são muito grandes. A maior delas é que, enquanto os essênios se afastavam do mundo injusto e corrompido para viver um ideal de pureza à espera do messias, Jesus mergulhava nesse mundo para transformá-lo.

Fato muito pouco conhecido do ocidente, mas, registrado pela história é que após a morte de João, o Evangelista (aquele que teria batizado Jesus nas águas do Rio Jordão) alguns dos seguidores desse pregador acreditaram que seu mestre fora traído por Jesus e daí fundaram uma religião, o mandeísmo de que há tênues vestígios ainda, no Irã e na Turquia.

O núcleo de sua mensagem de Jesus está no extraordinário Sermão da Montanha, de conteúdo marcadamente social, por isso mesmo, inquietante para as autoridades políticas e eclesiásticas.

Os modernos estudos críticos dos evangelhos vêm permitindo tratar da dimensão existencial de Jesus, antes encarada como tabu. Como mostra Leonardo Boff, em seu livro Jesus Cristo libertador, tudo que é autenticamente humano aparece em Jesus: alegria e ira, bondade e dureza, tristeza e tentação. No entanto, suposições como a de um eventual relacionamento amoroso com Maria Madalena não encontram nenhum apoio nos textos evangélicos.

Um dos pontos mais delicados na tentativa de reconstituir a dimensão histórica de Jesus são os milagres a ele atribuídos. É preciso ter claro que a separação que se faz hoje entre natural e sobrenatural praticamente não existia naqueles tempos. Os evangelhos dão numerosos testemunhos das curas operadas por Jesus. Em meio a um povo miserável e inculto, Jesus vai libertando as pessoas de seus males: a cegueira, a mudez, a surdez, a paralisia, a loucura.

Um dos milagres de Jesus, citado com mais detalhes por Lucas, é o da cura da mulher que sofria de hemorragia ininterrupta.

Aproximando-se por trás de Jesus, que caminhava entre o povo, ela tocou a extremidade de sua veste. Jesus perguntou então: "Quem me tocou?" Como todos negassem, Pedro disse: "Mestre, a multidão te comprime e te esmaga". Mas Jesus insistiu: "Alguém me tocou; eu senti uma força que saía de mim". Então a mulher se apresentou e Jesus lhe disse: "Minha filha, tua fé te curou; vai em paz". O que chama a atenção, no caso, é Jesus ter sentido "uma força que saía" dele algo que, em linguagem moderna, talvez pudesse ser chamado poderes paranormais ou mediúnicos.

Prof. Péricles
Leia também “Esse homem chamado Jesus” por José Tadeu Arantes

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