sábado, 25 de abril de 2015

O PAÍS DAS MIL E UMA MENTIRAS



Pedro Álvares Cabral fez de conta que chegou aqui sem querer, e a Espanha fez de conta que acreditou.

A Igreja mentiu que negro não tinha alma para apoiar a escravidão africana que lhe proporcionava lucros, e o resto, disse amém.

Os donatários mentiram que tinham interesse em vir para o fim do mundo e colonizar a Terra.

O Branco mentiu aos índios que era amigo e os padres mentiram que salvariam suas almas.

Os bandeirantes fingiram não ter encontrado ouro nas matas.

Os inconfidentes mentiram que lutariam pela independência do Brasil até a morte, mas fizeram acordos.

Os acordos foram cumpridos e criaram um mártir.

A elite agrária mentiu que a nação precisava de um imperador, quando apenas queria, manter a escravidão. E o povo se vestiu de súdito.

D. Pedro mentiu para os ingleses que acabaria com a escravidão no máximo em cinco anos e assinou que faria isso, sem nunca realmente pensar em fazer.

Também disse publicamente que jamais pagaria pela independência, mais pagou.

Durante 50 anos governo e aristocracia rural mentiram que iriam acabar com a escravidão criando leis ridículas de tapeação: Lei Euzébio de Queirós, Lei Visconde do Rio Branco, Lei Saraiva-Cotegipe e finalmente uma Lei que mantinha a exclusão e a miséria, mas foi chamada de Áurea.

As autoridades enganaram o povo fazendo do Paraguai um perigo maior do que era e isso justificou o maior massacra entre povos da América Latina.

Os proclamadores da República mentiram que estavam criando uma nação soberana e ratificaram a dependência econômica e acordos comerciais espúrios.

A primeira Constituição Republicana definia o voto como universal, mas determinava que mulheres e analfabetos, a imensa maioria, não tinha direito a voto.

Na virada do século rotularam os miseráveis de Canudos de bandidos, e a Revolta da Vacina de coisa inconsequente como birra de criança.

Prometeram para João Cândido que ninguém seria punido na Revolta da Chibata e quase todos os líderes morreram na cadeia.

Combinaram dia e hora para a Revolta Tenentista, mas deixaram apenas 18 homens pendurados no pincel, e foram mortos, quase todos, nas areias de Copacabana.

Anunciaram a morte de um candidato a vice, João Pessoa, como crime político gerando uma comoção nacional quando, era apenas, um marido traído que se vingava dos chifres, e isso deu início a Revolução de 30.

Já a Revolução Constitucionalista Paulista de 1932 não era revolução, nem constitucionalista e muito menos só paulista.

Mentiram que o Brasil tinha que entrar numa guerra que não era sua, a Segunda Mundial, e jovens brasileiros morreram por causa estranha e seus corpos ainda jazem em solo italiano.

Disseram que Jango era comunista e corrupto e dizendo defender a democracia deram um golpe de morte na própria democracia.

Assim nasceu a Ditadura Militar, mimada pela hipocrisia dos que diziam defender Deus, a Pátria e a família. A Ditadura não teve Deus, apenas demônios, vendeu a pátria e dividiu a família estimulando a delação.

Golpistas, fascistas, reacionários fizeram uma Ditadura que se dizia revolução e se auto-intitulava de "Redentora".

Criaram um gigante de papel que finalmente despertava, montado em capitais estrangeiros. Brasil, ame-o ou deixe-o, mas matavam antes que houvesse uma escolha. Ninguém segura esse país rumo ao abismo. Pra frente Brasil, agora vai. E fomos todos para o buraco de uma década perdida.

O fim da ditadura e a volta a normalidade levou 10 anos, recheada por uma paz falsa, como o atentado do Rio-Centro, cuja bomba-neném explodiu no colo de um militar a paisana.

Por dez meses fizeram valer a fraude do Plano Cruzado para vencer as eleições constituintes de 1986, e depois anunciaram uma Constituinte independente e democrática, mas criaram o “centrão” unindo as forças conservadoras que barrou todos os avanços populares.

Mentiram ao fazer um sociólogo Ministro da Fazenda e pai de um plano que não era seu, apenas para, novamente, ganhar uma eleição, em 1994.

Brasil, uma história de mentiras só poderia mesmo gerar uma nação mentirosa, onde o racismo é tão violento como em qualquer outro lugar, mas escondido em nome do orgulho de uma terra multirracial.

O maior perigo de conviver com as mentiras é acabar se acostumando com elas e o mais grave, gostando de ser enganado.

Deixa-se de ser vítimas para ser mansos.

O perigo é achar que quem mora lá no morro já vive pertinho do céu e por isso não é necessário lutar por um Brasil mais justo.

A história do Brasil não deve ser apagada por ser mentirosa, mas recontada, com suas mentiras entendendo-se quem as criou e com que objetivos.

A história não se repete, mas as mentiras sim.


Prof. Péricles

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