sábado, 22 de agosto de 2015

EUROPEU CONTRA GAUCHO


Por Santiago, de Porto Alegre


Fiquei sabendo da existência do “Gaucho” na leitura de um artigo da edição de 15 de julho de 2015 do heroico Charlie Hebdo. O texto de Fabrice Nicolino fala da crise grega e comenta a dívida não paga da Alemanha desde a Primeira Guerra e principalmente atenta para a dívida ambiental que as germânicas Bayer e BASF tem com a Europa, devido aos seus terríveis venenos agrícolas.

Pois o “Gaucho”, assim sem acento no “U” e com grafia hispânica, é um poderoso pesticida fabricado pela Bayer e que está exterminando abelhas na Europa e Estados Unidos. A sua substância é a Imidacloprid.

Tem havido manifestações na Europa contra a Bayer e o “Gaucho” – não contra nós, o povo cavaleiro da pampa sul americana, mas contra o agrotóxico inimigo das abelhas e com cujo nome a Bayer teve a bela ideia de nos homenagear.

O Imidacloprid substância da família dos neonicotinóides, afeta o sistema imunológico do inseto.

A Bayer fazia parte do grupo IG Farben, que fabricava o gás Zyklon-B, usado nas câmeras de gás dos campos de concentração nazistas.

De acordo com organização PANNA da América do Norte, 94% das sementes de milho dos Estados Unidos são tratadas com neonicotinóides, portanto as abelhas são submetidas a uma carga tóxica cada vez maior nas lavouras de milho.

Afirmam os biólogos que se as abelhas desaparecerem, a humanidade teria poucos anos de vida, já que a reação em cadeia começará a erradicar certas espécies devido à falta de polinização e afetará culturas de passarinhos.

Num estudo publicado na revista Science, o biólogo da Universidade de Sussex Dr. Dave Goulson, diz que a “exposição a pesticidas neonicotinóides, que são uma neurotoxina em essência, estava afetando a capacidade das abelhas de aprender, de encontrar o caminho de volta para casa, de navegar, de coletar alimento, e assim por diante, o que não é surpreendente se acaso percebermos se tratar de neurotoxinas.

O que encontramos, e que tenho que confessar ter sido surpreendente em seu âmbito, foi que os ninhos tratados cresceram mais lentamente, porém, de forma mais dramática, o efeito sobre a produção da rainha foi realmente forte. Assim, tivemos uma queda de 85% na produção dos ninhos da rainha que foram expostos durante um período de apenas duas semanas a concentrações bastante baixas destes pesticidas em comparação com os ninhos de controle.

Mas a generosa homenagem não ficou num nome só, tem o “Poncho” um outro veneno também da Bayer, para controle de pragas do milho à base de Clothianidin. Injusta denominação, já que o “poncho” é a capa grossa de lã ou feltro, usada contra as intempéries dos campos do sul e não só é inofensivo às abelhas, como ao contrário, fornece abrigo no caso de algum campeiro que se veja atacado por um enxame, no descampado das coxilhas.

As gigantes da área biotecnológica, Bayer et Syngenta, que fabricam os neoniconinoides, estão gastando milhões de dólares para evitar a suspensão destas substâncias, além de terem processado a Comissão Europeia pelo banimento destas classes de inseticidas.

Na época da Segunda Guerra a Bayer era uma das cinco empresas que formavam a IG Farben, acusada de fornecer ao nazismo o produto Zyklon-B para as câmaras de gás. Por isso a IG Farben foi levada ao Tribunal Militar dos Estados Unidos em 1948 e alguns dirigentes foram parar na prisão.

Espera-se para breve enérgica manifestação nas assembleias da ONU por parte dos CTGs (Centros de Tradição Gaúcha) contra o uso indigno do nome. Tão logo nós gaúchos, que mal nenhum fazemos às laboriosas abelhas, exceto em algum momento em que o gaúcho é tão macho, mas tão macho, que não chupa o mel – come a abelha!


Santiago, artista gráfico e cartunista ilustrador gaúcho.

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