quinta-feira, 12 de novembro de 2015

É O MERCADO, ESTÚPIDO


Por Moisés Mendes



Uma das propostas de resgate de fortunas extraviadas que recebi por e-mail neste ano me desafia a buscar US$ 85 milhões no ICBC, o Banco Industrial e Comercial da China.

É o apelo de sempre: o dinheiro abandonado por um investidor poderá ser meu.

Por que sempre tão longe? Por que não no Equador? De qualquer forma, é tentador. É perto dos US$ 97 milhões que Pedro Barusco, o ladrão avulso da Petrobras no tempo do governo tucano, levou para a Suíça.

Foi a primeira vez que recebi tal convite vindo da China.

Tenho e-mails enviados da Síria, do Sudão, da Líbia, da Tunísia, do Azerbaijão.

Ainda me causa estranheza que a terra de Confúcio seja citada entre os lugares de fortunas sem dono. Até pouco tempo, não havia especulação financeira na China, que aos poucos acabou virando essa coisa estranha, disforme, que ninguém sabe direito o que é.

Fortunas de financistas extraviadas na Índia, na Ucrânia, no Paquistão, tudo bem. Mas na China?

E recebo o apelo na hora em que se anuncia que o país vai quebrar. O mundo aguarda a implosão do comuno-capitalismo confuciano.

O que será do povo comunista que investiu loucamente em ações, quando o povo capitalista ocidental tentava se desfazer das suas? De onde os chineses tiraram que o mercado de ações funciona, se desde 2008 as bolsas do mundo rico estão emperradas?

Seria o fim da superbolha chinesa.

Imagine um chinês ainda agarrado à lembrança de Mao Tsé-tung — e ainda em dúvida sobre o que levou o país a esse estranho capitalismo —, agora falido e com um monte de ações que não valem nada.

A China pode ter seu crash de 29, apenas quatro décadas depois da morte de Mao.

Vou esperar o livro Breve Introdução à História da China, que o professor Carlos Eduardo da Cunha Pinent lança agora pela Sulina, para entender a crise de identidade do capitalismo chinês. Gostaria que o professor me ajudasse a decifrar o ódio que certos jovens liberais brasileiros sentem pela ditadura cubana e a adoração que nutrem pela ditadura chinesa.

Um amigo apressado me disse: é o mercado, estúpido. Cuba não tem mercado, nem mão de obra de graça, nem bagulhos baratos. Cuba, estúpido, só tem médicos.

Pobre Mao Tsé-tung.

O estágio superior do capitalismo está vicejando na sua China. Mao não merece. Nem Confúcio.

E muito menos os nossos velhos liberais.




Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre/RS




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