sábado, 9 de janeiro de 2016

ARISTEU, A GENTE COLHE O QUE PLANTA

Artêmis

Aristeu, filho de Apolo e da ninfa Cirene, foi, em parte, responsável pela morte de Eurídice na véspera do casamento com Orfeu. Ao tentar fugir de sua sedução, Eurídice acabou sendo picada por uma serpente.

Era adorado como protetor dos caçadores, pastores e como o pai da apicultura, sendo senhor e mestre de todas as abelhas.

Apesar de filho de Apolo, não possuía (como Orfeu e Eurídice) a imortalidade.

As ninfas, companheiras e amigas de Eurídice, ficaram com tanta raiva de Aristeu que atacaram seu ponto mais fraco, aquilo que mais amava, suas abelhas, matando-as sem deixar sobrevivente.

O primeiro apicultor do universo entrou em estado de prostração e pediu ajuda para sua mãe, que por sua vez indicou-lhe pedir ajudar a Protheus, o velho e sábio profeta.

Bom destacar que todos estavam indignados com Aristeu, até sua mãe, pois o amor verdadeiro de Orfeu e Eurídice, que ele destruíra, embelezava o seu mundo e agora apagara-se deixando apenas tristeza.

Depois de uma luta enorme, em que teve que superar seu próprio medo, Aristeu conseguiu obter os conselhos de Protheus: “Deves reconhecer a besteira que fez interferindo no amor alheio, depois disso render homenagens fúnebres a Eurídice, e finalmente, sacrificar quatro dos mais belos touros e quatro de suas melhores novilhas e deixar as carcaças no bosque, cobrindo-as com folhas. Volte lá apenas depois de nove dias.

O apicultor seguiu as instruções e os próximos nove dias foram de expectativa e ansiedade. Mas ao retornar ao bosque encontrou um enxame de abelhas e uma nova colmeia.

Mas, suas tragédias ainda estavam longe de terminar.

Teve apenas um filho, Acteon. Um dia, enquanto caçava no bosque Acteon deparou com Artêmis, banhando-se totalmente nuas num lago.

Artêmis, a deusa da caça, uma das filhas diletas de Zeus, sempre foi famosa por sua castidades e timidez, preferindo a solteirice e a reclusão das matas. Ao perceber que era espionada ficou furiosa, segurou um pouco da água nas mãos e a soprou no espião, que se transformou, na hora, em um... veado.

Depois disso, o pobre Acteon teve pouco tempo de vida, pois foi perseguido e morto pelos seus próprios cães de caça.

Segundo o mito, Aristeu jamais se recuperou da perda do único filho, recolheu-se num monte na Itália, onde viveu muitos anos e onde morreu na mais completa e triste solidão.

O mito de Aristeu nos transporta à necessidade de todos nós de recomeçar, em algum momento de nossas vidas.

Assim como Aristeu somos frágeis, expostos e traídos pelos instintos e pelas paixões, aprendendo, às vezes, da forma mais cruel que, podemos fazer coisas num instante do qual nos arrependemos o resto de nossas vidas.

Recomeçar pode implicar em saber esperar e ter humildade e paciência. Assim como Aristeu esperou nove dias para ter suas abelhas de volta, nós, às vezes, podemos ter que esperar uma vida inteira até aprender onde erramos com nossos semelhantes.

O protagonismo das abelhas consideradas símbolo de castidade e de Artêmis, indica, de alguma forma, a importância do respeito ao direito feminino sobre seu corpo e seus desejos e suas escolhas.

Aristeu nos ensina, ainda, a importância de reconhecer nossos próprios erros.

Diziam os gregos que ele, inicialmente, se considerava vítima de Eurídice que lhe arrebatara o coração a ponto de nunca mais querer outra mulher, e de ter passado a maior das humilhações ao ser preterido por outro (Orfeu) e a aceitação de seus erros aconteceu apenas no final de sua existência.

Finalmente, sua morte melancólica, longe dos olhos dos simples mortais e na mais completa solidão nos recorda que cada ação, seja ela boa ou má, implica numa reação, que as vezes nos faz sofrer, mas que é na verdade, um aprendizado e simples consequência daquilo que plantamos.



Prof. Péricles

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