sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

BRIZOLA, HERÓI NACIONAL



Nasceu no Vilarejo de Cruzinha, hoje município de Carazinho em 22 de janeiro de 1922.

Chegava cedo no colégio trazendo os dois sapatos nas mãos e, só então, já no pátio, os colocava nos pés. Motivo: poupar as solas pois era o único par e sabe lá quando poderia ter outro.

Seu verdadeiro nome era Itagiba, mas, ao entrar na política adotou o nome de um líder maragato da Revolução Federalista de 1923, Leonel Rocha.

Rebelde desde criança, Itagiba nunca se conformou com a pobreza de tantos se comparada com os poucos que viviam em opulência.

Nunca aceitou ordens ou gritos como forma de coação.

Sabia pilotar aviões e era nas alturas que sentia-se senhor de si mesmo, o mais próximo que podia chegar daquilo que mais amava, a liberdade.

Com seu linguajar simples, mas reconhecido por todos e de um carisma extraordinário, tornou-se uma das mais importantes lideranças do PTB, partido político criado por Getúlio Vargas para unificar os movimentos trabalhistas.

Foi deputado estadual e governador do estado do Rio Grande do Sul nos difíceis anos 1961-1964, quando o país equilibrava-se entre a normalidade e o golpe.

Escreveu de forma heroica uma das páginas mais belas de nossa história, a “Campanha da Legalidade”, fazendo aquilo que todos queriam, mas que ninguém tinha coragem, enfrentar os militares e os golpistas que pregavam o golpe contra o presidente João Goulart.

Não há brasileiro vertebrado que não se identifique com imagem de Brizola acuado no bunker nos porões do Palácio Piratini, ameaçado de bombardeio, de prisão, de morte, falando nos microfones da Rádio Guaíba para o estado inteiro, conclamando pela resistência e desafiando todo o poder que lá fora, cercava a sede do governo gaúcho.

Foi Brizola que impediu o golpe em 1961 depois da renúncia de Jânio Quadros.

Foi de Brizola uma das poucas vozes a conclamar a resistência ao golpe em 1964.

Sozinho, com a desistência do próprio presidente, foi obrigado a se exilar no Uruguai e mais tarde nos Estados Unidos e em Portugal.

Teve que passar mais de 20 anos longe do Brasil, sem dúvida o maior sofrimento que poderia suportar.

Casado com a irmã de João Goulart ficou 10 anos, nesse período de exílio, sem conversar com o ex-presidente, indignado pela falta de luta do cunhado.

Mesmo no exílio, apoiou, fortaleceu e auxiliou como pode, os movimentos de resistência e de luta armada contra o regime militar.

Era o homem mais odiado pelos generais-presidentes e sua camarilha civil e militar. Jurado de morte e perseguido durante a “operação condor”.

Foi Presidente de Honra da Internacional Socialista e assistiu emocionado a Revolução dos Cravos em Portugal.

Ao retornar foi insistentemente prejudicado pelas associações Globo e filiadas.

Teve a sigla “PTB” sonegada pela Justiça Eleitoral e fundou o PDT.

Candidato ao governo do Rio de Janeiro teve que enfrentar a divulgação de pesquisas falsas e de uma tentativa de fraude nas contagens dos votos que tinha como executores a mídia golpista.

Foi o responsável por uma das maiores vergonhas da TV Globo, obrigada pela Justiça Eleitoral a divulgar, através da leitura de Cid Moreira em horário nobre do Jornal Nacional, uma nota em que Brizola relatava a fraude de que quase fora vítima e o papel nefasto da Globo contra ele.

Seu governo do Rio de Janeiro (foi o único político do Brasil a governar dois estados diferentes) foi boicotado diariamente, quando 80% do tempo do Jornal Nacional era de transmissão de notícias negativas, principalmente sobre a violência urbana, sendo a responsabilidade apontada sempre no governador.

Brizola foi candidato a presidência nas eleições de 1989 perdendo para a Lula a vaga para disputar o segundo turno contra Color por um fiapo de votos.

Foi ainda candidato a presidente em 1994 e a vice na chapa de Lula em 1998.

Leonel de Moura Brizola deveria ser eterno, mas a morte, inexorável, o atingiu em junho de 2004, vítima de problemas cardíacos.

De lá para cá deixou um vazio que não esteve nem perto de ser suprido por qualquer político.

Agora, uma liderança que nunca negou a enorme admiração por ele, e que o designa como um de seus ídolos, a Presidente Dilma Rousseff, sancionou seu nome para ser incluído no “Livro dos Heróis da Pátria”.

O livro, com páginas de aço, fica exposto no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, em Brasília e contém, nomes como de Tiradentes, Zumbi dos Palmares, D. Pedro I, Duque de Caxias, Santos Dumont, Chico Mendes, Getúlio Vargas, Anita Garibaldi.

A lei sancionada por Dilma em 29/12/2015, também altera o tempo necessário para que uma personalidade possa ser homenageada no Livro dos Heróis da Pátria após sua morte, de 50 para 10 anos.

Mas, não serão os anos que contarão a validade do herói para o imaginário popular e a saudade nacional.

Itagiba que lutou para que nenhuma criança precisasse chegar no colégio carregando nas mãos os sapatos, e que foi o criador da primeira experiência de reforma agrária do país, agora pertence à história.

Já a sua alma, sobrevoa os espaços da liberdade, assim como quando pilotava aviões sobre o Rio Grande amado e sonhava liderar o país nos caminhos da igualdade.


Prof. Péricles












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