sábado, 16 de janeiro de 2016

SUPLÍCIO DE TÂNTALO

“Como pode” dizia a tiazinha na fila do caixa do supermercado, falando com a “vizinha” da frente, “como pode gente tão rica roubar tanto?”

“Verdade” diz a “vizinha”, já ganham tanto pra trabalhar tão pouco e querem mais e mais... “senador, deputado, governador, empresário... o que mais eles querem”?

Para responder as tiazinhas talvez o melhor fosse contar a história de Tântalo.

Tântalo era um rei da Lídia (ou Corinto). Filho de Zeus com uma princesa terrena, não era imortal.

Mas, por ser filho de Zeus, além de justo e leal com seu povo, tornou-se o preferido dos deuses e o único mortal a ser admitido à mesa dos olímpicos, onde desfrutava de todas as frutas, do néctar e da ambrosia.

Os deuses não escondiam sua predileção e isso foi parindo no íntimo de Tântalo, uma vaidade que não parou mais de crescer, sufocando as suas virtudes sem que ele percebesse.

Cego pela soberba, passou a se imaginar um igual entre os deuses.

Resolveu confirmar sua superioridade, enganando os próprios deuses.

Convidou a todos do Panteão para um banquete em seu palácio e, pondo em teste a onisciência divina, lhes ofereceu o alimento terrestre sob sua forma mais abjeta: a carne humana, de seu próprio filho, Pélops.

Mas os deuses, são sim oniscientes e reconheceram a blasfêmia jogando pra longe seus pratos. 

Apenas a Deméter (deusa da agricultura) perturbada pelo recente desaparecimento de sua filha Perséfone, estava tão desatenta que ingeriu um pedacinho da carne.

Furioso, Zeus ressuscitou Pélops, que retornou à vida faltando apenas um pequeno pedaço no ombro, reconstituído com mármore (marca), que passará a ser a marca do pecado da vaidade (tal qual o pecado original de Adão e Eva).

Como castigo Tântalo foi lançado ao Tártaro, onde, num vale abundante em vegetação e água, foi sentenciado pela eternidade a não poder saciar sua fome e sede, visto que, ao aproximar-se da água esta escoava e ao erguer-se para colher os frutos das árvores, os ramos moviam-se para longe.

Sabiam os deuses que muito dói estar tão próximo e ao mesmo tempo tão distante e que as vezes só a dor faz germinar a humilde.

O mito aborda o eterna inconformidade com o que é possível e o eterno desejo de ser maior e de como isso pode ser destruidor.

A cobiça incoerente de quem já tem tanto e mesmo assim corrompe-se.

O ser humano busca a felicidade suprema, não a felicidade possível. 

Quer o máximo, podendo esse máximo estar o Olimpo, o nirvana, o céu, ou um simples copo d’agua.

Sempre se considera merecedor, sem perceber que esse “merecimento” é um mito que cria sobre si mesmo e com valores próprios à sua psique, não necessariamente reais a quem está ao lado.

Conforme o mito, talvez muitos personagens envolvidos na corrupção grotesca de nossos dias possam até fugir da condenação da frágil justiça brasileira, mas, de um jeito ou de outro, nos dizem os gregos, não fugirão do seu Suplício de Tântalo.

Afinal, para esses, tudo é vaidade.




Prof. Péricles



2 comentários:

inapiario disse...

Assim seja. Muito bom, eu gostei do texto.
Um abraço.

inapiario disse...

Assim seja. Muito bom, eu gostei do texto.
Um abraço.