quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O MAIOR JORNALISTA BRASILEIRO

Cipriano Barata


Por Appólo Natali


Um jornalista baiano é, até hoje, considerado exemplo de independência dentro da profissão.

Tanto ele como seu implacável perseguidor, D. Pedro I, morreram em 1838, um aqui, outro na Europa.

Ao final da vida tormentosa dos dois, se D. Pedro I tivesse alguma coisa ainda a dizer, diria: dominei-o com 11 anos de masmorras e uma prisão perpétua.

Foi assim: no tempo em que era crime não se ajoelhar e beijar as mãos do imperador, o baiano virou-lhe as costas durante sua visita à masmorra, o que lhe valeu a pena de prisão perpétua.

O baiano defendia o fim da tortura praticada por bagatela pelos dominadores e exigia a abolição de seus instrumentos.

E se tivesse ainda alguma coisa a dizer, o que diria o baiano? Eu o derrubei do trono, tirano – chamava-o de tirano – depois da minha libertação fui à Bahia como emissário da conjura pela Abdicação.

Uma das primeiras lideranças políticas de amplitude nacional que se forjou no imediato período pré e pós-Independência, ele foi, na Colônia, no Império e na Regência, temido, prestigiado e perseguido líder, incansável e intransigente combatente da opressão lusitana.

Incendiou a Bahia com a guerra de guerrilha para expulsar os portugueses da Província, então dominada pelas forças do brutal general Madeira.

Foi ativista e participante de históricas revoltas regionais que se espalharam pelo Brasil contra a tirania portuguesa, durante a Colônia, Império e Regência.

Proclamava-se um liberal que açoita a tirania e defende a pátria.

Sempre acusado de pregar a Republica. Há 200 anos defendia eleições diretas para os presidentes das províncias. A abolição dos escravos, que aconteceu em 1888, ele a queria para 1860.

Um dos fundadores do jornalismo político no Brasil.

Deputado pelo Brasil nas Cortes, em Lisboa, sustentou com valentia verbal e física a causa da liberdade. 

Atracou-se e derrubou um marechal português no plenário durante defesa que fazia dos interesses brasileiros e do direito de cidadania dos escravos. O Marechal rolou pelas escadas. Fugiu para a Inglaterra.

O baiano indignou-se com a afirmação do padre Diogo Feijó, Regente de um governo forte e centralizador, de que o brasileiro não foi feito para a desordem, que o seu natural é o da tranquilidade. Esse termo docilidade aplicado aos brasileiros, disse o baiano, é como dizer brasileiro ovelha mansa, que trabalha como burro para pagar tributos em benefício dos satélites do governo.

Era médico. E jornalista.

Em meio aos ferros de tortura e insetos peçonhentos, nas várias masmorras inundadas, fétidas, sem ar e calor abrazador onde era aprisionado, o baiano editava seus jornais e distribuía para todo o Brasil.

Dizem que com a ajuda de sociedades secretas que almejavam a Independência.

Sentinela da Liberdade era o título de seu jornal, com o nome do Forte ou masmorra onde estava preso e o brado: Alerta!

Em 9 de abril de 1823, uma quarta-feira, nasceu o número 1, Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, Alerta!

O último Sentinela, do total de 66 exemplares que editou, saiu em dezembro de 1835, em Recife.

Foram doze anos do denominado jornalismo do cárcere, como é conhecida sua atuação como jornalista.

O médico Bezerra de Menezes, nome sempre citado pelos espíritas hoje, dirigiu um Sentinela da Liberdade, no Rio de Janeiro. 

Exilados publicaram em 1825, na Inglaterra, o Sentinela da Liberdade na Guarita de Londres, como suplemento do Sunday Time.

Não receberei anúncios sobre venda de escravos porque minha gazeta não é leilão nem capitão do mato, ironizava.

O historiador Pedro Calmon o vê como um dos grandes seres que passaram pela Terra. Disse dele o historiador Nelson Werneck Sodré, que poucos fizeram tanto pela nossa Independência quanto esse baiano que, ainda no Brasil Colônia, já conheceria as amarguras do cárcere por sonhar com nossa liberdade política.

Sentinela da Liberdade foi uma epopéia da imprensa brasileira, um dos momentos supremos da vida da imprensa brasileira, um dos marcos na luta pela nossa liberdade, diz Sodré.

Para intimidar os dominadores daquele Brasil cativo, muitos escreviam nas portas de suas casas: Barata.

Quem, além de Cypriano Jozé Barata de Almeida (era com “z” que se escrevia), pode ser considerado o maior jornalista brasileiro de todos os tempos?





Apollo Natali foi o primeiro redator da antiga Agência Estado, foi redator da Rádio Eldorado, do Estadão e do antigo Jornal da Tarde.

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