segunda-feira, 21 de março de 2016

O GOLPISMO SEM VERGONHA



O golpe contra Getúlio Vargas em 1954 e o golpe contra Jango em 1964 tiveram lideranças que, utilizando-se do sigilo tramaram os fatos mais delicados que levariam à crise final.

Carlos Lacerda, o corvo,  é uma figura golpista predominante nos dois casos, mas outros atores também se destacam nos sinuosos caminhos da conspiração, como Roberto Marinho e o General Costa e Silva, por exemplo.

Além disso, a sombra sinistra dos Estados Unidos através de seus organismos de espionagem esteve presente de forma disfarçada, como na criação de institutos aparentemente inofensivos como os IPES e IBAD.

Foram golpes planejados e dirigidos por cabeças que não ficavam expostas embora delas partissem toda a trama que levaria aos negros anos de ditadura militar.

Na história da América Latina ser chamado de golpista sempre foi ofensivo e os golpistas buscaram esconder suas reais intenções.

A crise que assistimos atualmente tem lá seus ineditismos.

Dessa vez o golpismo não se escondeu nem usou sigilo. Ao contrário foi escancarado e se anunciou no horário nobre e misturado com toda a programação, assim como pode ser visto nas bancas em edições semanais.

Os golpistas perderam a vergonha de conspirar contra a ordem democrática.

A mídia nunca mais será vista da mesma forma depois de tudo o que está acontecendo.

Qualquer um que pare para pensar com frieza sobre os fatos que nos trouxeram até aqui poderá ficar surpreso ao perceber que o “caos” foi construído sobre nada verdadeiramente concreto.

O que de material sustenta uma acusação formal contra Dilma ou contra Lula?

Igual um feiticeiro misturando componentes mágicos para construir um sortilégio a mídia golpista misturou de tal forma fatos com especulação que já não se pode mais separar claramente um do outro.

Pegou como componente principal o ódio ao petismo que já vem temperado com o conservadorismo histórico de nossa cultura com o anticomunismo e a intolerância.

Misturou com mágoa e inconformismo da direita pela terceira derrota eleitoral sucessiva.

Adicionou boatos folclóricos transformados em verdades dogmáticas como “todo político é ladrão” e “a cubanização do Brasil”.

Apontou favores de exposição que aguçaram a síndrome de celebridade de algumas pessoas, juízes, policiais federais, etc.

E acabou criando um bolo explosivo e venenoso.

Não se mente mais que o presidente é comunista, mas que a presidente é amiga do ex-presidente que é ladrão.

E chegamos ao apogeu da hipocrisia para justificar um golpe de estado, que, se for vitorioso terá sido o mais diferenciado da história, pois absolutamente vazio de argumentos.

O bolo foi feito e está posto à mesa.

Agora é hora de prova-lo.

Triste é que, talvez, ele seja amargo demais... e mortal.

Mas, para os golpistas, parece que isso não vem ao caso.

Já que perderam a vergonha, não precisam mais disfarças os sentimentos.





Prof. Péricles

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