segunda-feira, 18 de abril de 2016

SOBRE GOLPES E CULPAS

Buscando entender melhor a crise brasileira em seus desdobramentos até o 18 de abril, data da aprovação do pedido de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o Blog ousa selecionar abaixo o que considera como os maiores responsáveis pela difícil situação a que chegou a democracia brasileira.  Além de apontar os fatos buscou-se também hierarquizar as responsabilidades do menor para o maior.


6º Lugar: A Cultura Golpista Brasileira

Temos uma tradição de golpismo em nossas veias históricas. Normalmente se prefere a extração do que a reparação. Nossa classe média mais uma vez demonstrou ser uma das mais preconceituosas do planeta, enquanto nossas elites (aquela mesma que se recusou abolir a escravidão por um século inteiro) demonstram seu lado mais reacionário e perverso. A cultura do golpismo presente nas campanhas anti-Lula e anti-Dilma, que dá vitória eleitoral para qualquer um que não seja candidato do PT em estados importantes, como o Rio Grande do Sul, se manifestou latente nos meios de comunicação e nas conversas de esquina, reforçada pela intolerância e pelo racismo tão vivo e tão negado entre nós.

5º Lugar: A Crise Financeira Internacional

O mundo do capital passa por uma de suas piores crises pós a Segunda Guerra Mundial. Essa crise começou em 2008, nos Estados Unidos, mas, graças às políticas de novas parcerias do presidente Lula, não nos atingiu como em outros tempos e por aqui passou como uma “marolinha”. Em 2010 a tsunami econômica chegou à Europa e ao Oriente, e, desde então, vem ameaçando desde economias de papel sustentadas pela União Europeia até gigantes como a Itália e a própria China que desacelerou o ritmo do crescimento depois de duas décadas frenéticas. Dessa vez a crise nos atingiu e atingiu nossos parceiros do BRICS e o efeito tem sido danoso. Se em 2008 a direita não tentou o impeachment de Lula quando do “Mensalão” porque, ela sabia bem, estava ganhando, agora se colocou contra Dilma e sua propalada ineficiência no combate a crise, tendo o impeachment aparecido como uma boa ideia, não meramente pela troca de nomes, mas porque os arquitetos do golpe estão comprometidos em aplicar novas medidas neoliberais, como a terceirização da mão-de-obra (na prática o fim da CLT). Para os donos do poder, o neoliberalismo aparece como a salvação imediata de seus problemas e Dilma e o PT são cartas fora do baralho.

4º Lugar: A Imprensa Golpista

O papel da mídia, especialmente da Rede Globo de Televisão, já havia sido assustador quando da eleição do primeiro presidente após a ditadura militar, Fernando Color, derrotando Lula e Brizola. Sabemos que a imprensa trabalhou arduamente pelo golpe de março de 1964 e é histórico que o império Globo nasceu sob os auspícios dos generais da ditadura, mas, dessa vez o golpismo se superou. Selecionando o que transmite e o que não transmite, escolhendo como transmite, que ângulos detalha ou esconde e que falas vão ao ar. Supervalorizando fatos negativos e contrários e sonegando informação sobre fatos positivos. O que a Rede Globo fez, juntamente com a já folclórica Revista Veja, mas não somente elas, mas todo o conjunto da mídia coorporativa, foi algo de criminoso. Tão devastador que a polícia federal, uma polícia de inteligência, tornou-se polícia ostensiva com seus agentes disputando o lugar ao lado dos detidos, em nome da fama. Tão corrosivo que é mais responsável pelo golpe do que a própria crise econômica que acabou se tornando uma de suas armas. É impossível pensar qualquer projeto de democracia daqui para a frente sem o enfrentamento do superpoder midiático e seu literal esfacelamento, fazendo com que deixe de ser um agente político e seja apenas o que tem concessão para ser: um veículo de divulgação de notícias, como é, não em Cuba ou na Rússia, mas na Inglaterra e nos Estados Unidos.

3º Lugar: O Sistema Judiciário Brasileiro

Sempre bem quisto pela população como sua última esperança contra os desmandos dos poderosos, o sistema jurídico brasileiro entrou em falência com os fatos. Tudo começou ainda no mensalão quando juízes se deixaram contaminar pela “síndrome de celebridade” e passaram a fazer evidente jogo de cena em busca dos holofotes. O Juiz deve ser como o árbitro de futebol, quanto menos aparecer melhor para o jogo. Porém, togados se tornaram “heróis” de capa e espada para certas fatias da sociedade, sempre levados pela mídia ao ponto de um juiz de 3ª instância de São Paulo ter tentado atravessar o processo e convocar o ex-presidente Lula para depor onde não tinha qualquer competência. Era o desejo infantil de aproveitar a onda e se tornar também, celebridade. Outro assumiu postura partidária e abandonou a imparcialidade chegando a convocar coercitivamente alguém que jamais fora convocado antes. Outro ainda tornou-se personagem televisivo no STF por representar o “clamor da oposição” de forma descarada. Da mesma forma que é impossível se pensar em democracia no Brasil daqui para a frente sem o enfrentamento da imprensa também o será a necessidade de humanizar o judiciário, fazendo os juízes deixarem de ser deuses e tornarem-se apenas cidadãos, funcionários públicos, que cumpram com seu papel institucional e que possam e devam ser punidos quando deixarem de cumprir.

2º Lugar: Dilma Rousseff

O primeiro dever de um presidente da república é defender a constituição e a soberania nacional. Infelizmente Dilma fracassou retumbantemente no primeiro dever. Dilma sempre acreditou que venceria o golpe com medidas institucionais. Jogou pérola aos porcos. Tentou ser querida pela direita escolhendo um Ministro da escola liberal que, logicamente a afastou do povo. Dilma, uma ex-guerrilheira destemida esqueceu as estratégias de guerra e marchou como um patinho para a panela. Não se enfrenta o fascismo com medidas suaves, pergunte para qualquer historiador ou velhinho da Itália, da Alemanha e da Espanha. A presidente evitou o confronto. Adulou a Globo. Afastou-se de Lula e dos organismos sociais, num primeiro momento. Se é verdade que é a primeira vítima pessoal do golpe, também é, em muito, responsável por tudo o que acabou acontecendo.

1º Lugar: O Governo do PT, incluindo setores políticos que o apoiam e também o ex-presidente Lula

O PT vendeu sua alma ao diabo para chegar ao poder. A esquerda histórica do partido dele se afastou desde esse momento. Mesmo assim deu início a vários programas sociais importantes e urgentes, responsáveis pela melhoria da situação dos mais pobres e por um surto consumista no país. Mas, da mesma forma que na Venezuela, no Paraguai, no Equador e, de certo modo, na Argentina, não avançou além das primeiras jardas. O PT acreditou que apenas os programas sociais poderiam garantir a manutenção do poder, mas, a história nos mostra que não é assim. Todo governo de esquerda que evita radicalizar seu projeto social, que vacila, acaba fracassando. No dizer de Leonel Brizola, o PT foi a esquerda que a direita queria. A direita aliás que muito se beneficiou dos governos do PT, mas que não hesitou em dar um pé na bunda quando perdeu a serventia. O governo petista guardou sua militância na gaveta e só pediu ajuda quando já fazia água. Da mesma forma cabe crítica aos movimentos que tradicionalmente têm a força das ruas para evitar o pior. Alguém sabe, por exemplo, por onde anda a UNE?

O texto acima reflete a opinião pessoal do autor do Blog. Gostaríamos imensamente de contar com opiniões e participação, tanto para concordar, como para discordar, de seus leitores.


Prof. Péricles
















Um comentário:

Unknown disse...

Realmente para mim que sou leigo tanto em história qto em política o texto para mim é uma aula da qual passo longe de fazer qualquer crítica ou comentário pois não tenho a menor idéia. Fiquei surpreso com as falhas da Presidente e as do PT não fazia a mínima e foi interessante saber a final onde erraram.E uma coisa que me chamou atenção pois era justamente o que pensava sobre o ontem 17 de abril foi justamente a questão da atitude humilde diante de faíscas.. ..pensó que todos que disseram o não tentaram conter seus ódios somente exteriorizando em seus rápidos discurso de voto que virava piada para o time de fácista acho que a sessão tinha que ter sido tumultuada até ter de ser cancelada...nossos deputados do não ao golpe foram verdadeiros heróis mártires de aguentar aquilo imagino que hj devem estar sofrendo do fígado por conter tanta bílis... .mas observe que disse para tumultuar e não brigar...Embora pudesse chegar a tal ....no começo da seção todos do não tinham que ter subido ao redor da mesa como sugeriu o fdp Cunha.....teriam assim provocado uma guerra que paralisar ia a votação e daria tempo para o o Povo se unir exigindo o afastamento de Cunha aí sim na marra..kkkk