sexta-feira, 29 de abril de 2016

DOS BANCOS QUE NÃO VEMOS



Minha querida colega Maria Alice é uma pessoa muito especial no nosso meio.

Amada por seus alunos, respeitada por seus colegas, preciosa para seus amigos.

Curiosidade de criança é capaz de fazer toda sala de professores rir, mesmo nos piores momentos, com uma simples pergunta.

Capaz de encurralar até um veterano professor de história como eu com questionamentos inéditos e impensados.

Mas, não se conhece todo um tesouro com apenas um olhar, e minha amiga Maria Alice desafia todos os olhares.

E num deles, mesmo que furtivo, somos capazes de descobrir riquezas escondidas nessa professora de português.

Mesmo que ela não aceite, mesmo que ela resmungue, tenha certeza... disfarçado naquele jeito de menina espavitada se esconde uma poetisa de talento e teimosia.

No texto abaixo, por exemplo, ela nos fala de algo muito comum e no qual esbarramos com frequência, mas, na pressa de levar os dias para frente, não damos o valor necessário, já que tudo é trivial nesse nosso andar de hoje em dia.

Os bancos das praças e das cidades, estão ali, e não vemos.

Silenciosas testemunhas de tantas juras e de tantos abandonos aceitam humildemente nossa ignorância.

Para eles basta estar ali, onde o teremos sempre que quisermos recostar nossas dores para tomar fôlego diante do caos.

Aos olhos do poeta, entretanto, eles são visíveis como o sol que nos anima.

Leiam o texto, e descubram a poetisa, Maria Alice Mendes, minha amiga.


DOS BANCOS QUE NÃO VEMOS


Os bancos me perseguem.

Aonde vou, eu os encontro. Até no pátio dos hospitais.

Parecem sinais! De que devo parar. E sentar. E pensar. Afinal, quanto tempo me resta?

Por mais que seja, é menos. Bem menos do que já foi. Do que fui. Então, que eu pare.

Que eu repare. Que eu preste atenção. Que eu escute mais uma vez aquela canção.

Que nada mais me passe (como já passou) sem que eu veja, sem que eu perceba que foi uma pena não ver o que eu não vi. E deixar de viver o que não vivi.

Que eu mantenha os meus olhos atentos, pois que ainda há tempo, sim! De reler Os Tambores de São Luiz, de fazer o que não fiz, de dizer o que eu não disse.

Claro que não será como seria, se eu tivesse dito (na hora de dizer).

Mas, e quem sabe?? E a hora não é agora?? Porque agora (e há muitas e muitas horas) eu já me desfiz dos falsos brilhantes, daqueles sonhos que sempre foram muito distantes.

Agora, eu tenho os bancos que vejo (e que fotografo) e tenho um novo retrato de mim.

Acho que vou, realmente, me sentar nesses bancos (e o farei sem culpa).

Se mais não fiz, não fiz porque não pude fazer. Então vou reler nem só Os Tambores de São Luiz, mas toda a obra de Machado de Assis.

E assim vou reinventando a vida, pois que "a vida só é possível, reinventada".

Isso não é um desencanto. É um novo canto, que canto, e me encanto de poder cantar (apesar dos pesares) e dos outros cantares que não deu para cantar.



Prof. Maria Alice Mendes

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