sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O NOSSO CANTINHO



Nada é mais íntimo do que o “nosso cantinho”. Aquele santo esconderijo dos problemas e das rotinas do dia a dia, onde jogamos o tênis em qualquer lugar, dormimos no sofá e fazemos xixi com a porta aberta.

Na minha época ansiávamos em ter grana e idade suficientes, ou só idade mesmo, para poder sair da casa dos país em busca do “nosso cantinho”.

Pode ser o mais humilde, simples, feio, mas que seja nosso. 

Altar secreto para receber colegas, amigos e principalmente, amigas.

Ah, o nosso cantinho! Onde somos genuinamente nós mesmos e onde tudo a nossa volta, a decoração ou a bagunça, revela um pouco de nossa personalidade.

Lula, no Palácio da Alvorada, sentia-se no “seu cantinho”.

Dava para perceber pelo sorriso franco e pela agilidade com que movia-se entre as antessalas e corredores do poder.

Tinha aquela desenvoltura de quem está em casa. De quem está no seu refúgio.

Aquela desenvoltura que só mesmo a democracia pode estabelecer através de milhões de votos feito procurações autorizando o direito de habitação ao vencedor de uma eleição presidencial.

FHC não demonstrava a mesma desenvoltura embora fosse um morador legítimo do Palácio, talvez porque não ficasse à vontade no papel que exerceu, ou como exerceu. Talvez sentisse que outros, morassem em andares acima e que esses outros mandassem mais na casa do que ele próprio.

Dilma, sentia-se bem, mas manteve aquele jeito de quem está apenas de passagem e tem mais com o que se preocupar do que com a decoração da casa. Dilma não era recatada e do lar, era da guerra de movimento e sentia-se melhor circulando entre as trincheiras.

Mas, definitivamente, o Palácio da Alvorada jamais será o “cantinho” de Michel Temer.

Talvez por não ter as milhões de procurações que legitimam o poder, sinta-se um grileiro, um posseiro que expulsou o legítimo proprietário.

Temer mostra-se desconfortável.

Imagino à noite indo buscar um copo d’agua na cozinha, tateando no escuro, não sabendo bem onde fica a chave de luz e dando topada com a canela em tudo que é móvel.

Ele não é dali. Ele não deveria estar ali, e sabe disso.

Sabe que jamais poderá jogar o tênis em qualquer lugar, ou fazer xixi de porta aberta pois, assim como é ilegítima sua hospedagem, é também, muito provavelmente, temporária.

E, o “nosso cantinho” nunca é temporário, quando legítimo.





Prof. Péricles

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