domingo, 25 de dezembro de 2016

O MUNDO DE HADES



No início da criação dos mundos, em determinado momento, os três filhos de Cronos, Poseidon, Zeus e Hades, viram-se diante de um dilema: que área infinita da manifestação divina cada um deles deveria governar?


Como nenhum deles teve uma ideia melhor, resolveram pelo simples e eficiente sorteio.


Juntaram três pequenos gravetos de tamanhos diferentes que foram escondidos na mão fechada de Zeus. Hades e Poseidon, escolheram aleatoriamente um gravetinho cada um, que, a mão fechada, não permitia ver o tamanho.


Segundo os gregos, o grande sortudo foi Zeus que, ficando com o graveto maior tornou-se governador da Terra e de todos os seres vivos que vivem nela. Seria o deus mais bajulado e querido, senhor de todos os homens e pai de muitos outros deuses.


Poseidon não se deu tão bem, mas não podia se queixar, afinal, seria o senhor de todos os mares e oceanos. Todas as criaturas vivas das águas marinhas lhe deveriam obediência e reinaria absoluto e incontestável no seu mundo.


Quem se deu mal mesmo foi Hades que, ao ficar com o graveto menor tornou-se deus do reino dos mortos, senhor dos infernos e de todas as criaturas danadas e das sombras. Os gregos detestavam a ideia da morte por isso Hades seria um Deus muito mais temido do que amado.


Se até mesmo para os seres supremos, imortais e infinitamente poderosos, a sorte é caprichosa e decisiva, podendo sorrir mais para uns do que para outros, imagine para nós, simples mortais.


Mas, nem sempre quem tem sorte percebe que a teve e os benefícios de certas escolhas ou situações só serão completamente conhecidos muito mais tarde, assim como a falta de sorte pode enganar muita gente.


Os golpistas não sortearam, mas ratearam de acordo com as conveniências, seus nacos de poder após o vergonhoso golpe que engendraram no Brasil.


Alguns deles pensaram ter muita sorte pela situação ter chegado ao que chegou no dia 31 de agosto desse ano, quando Dilma Roussef foi definitivamente afastada pelo senado.


O próprio vice que, jamais seria eleito presidente, deve ter se achado com muita sorte por ganhar dois anos inteirinhos e um país para brincar de presidente.


“Ganhei o Olimpo”, talvez tenha imaginado.


Mas, como já nos avisavam os gregos, o tempo é o senhor da razão.


Nem terminou ainda 2016 e já se percebe no ar que alguns não tiveram tanta sorte assim.


Toda ação provoca reação e achamos que sabemos como começam as vilanias, golpes e traições, mas ninguém sabe como acabam.


Muitos que se imaginavam seguros contra investigações inconvenientes foram surpreendidos na sequência inevitável dos incêndios criados para outros fins.


Alguns, percebendo que o caixa vazio é frio e sinistro, começam a duvidar da eficácia em seus negócios dos resultados de toda essa confusão criada ou apoiada por eles.


Provavelmente o vice-presidente diante das nuvens cada vez mais negras no horizonte e percebendo que apoios absolutos são momentâneos e podem sumir com a rapidez de uma crise provocada pelo dólar, esteja pensando que, achando ter conquistado o Olimpo esteja agora abraçado com o inferno, sendo muito mais temido do que amado.


E as similaridades não são poucas, entre homens e deuses.


Os senhores do Olimpo, dos oceanos e dos infernos, eram egoístas, arrogantes e autoritários.


Exigiam serem reconhecidos por seu poder e adoravam bajulação.


Dizem que muitos senhores hoje banhados pelas luzes da mídia generosa também mavegam nas mesmas emoções.


Os deuses, muitas vezes movidos pela paixão ou inebriados pela idolatria cometiam injustiças das quais até mesmo, se orgulhavam.


Parece que no nosso mundo, também.


Mas, tudo passa, e se até os deuses envelhecem, juízes e oráculos também perderão seu fulgor diante das dificuldades e mais uma vez será impossível cobrir o sol com a peneira para sempre.


Não se sabe se um dia o Brasil será algo parecido com o Olimpo de Zeus, mas, com certeza, atualmente, se parece muito com o traiçoeiro mundo de Hades.



Prof. Péricles

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