quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

COLÉGIO ELEITORAL, A LOUCURA AMERICANA



Por José Inácio Werneck



Os americanos gostam de proclamar que seu país é “excepcional”. Pode ser verdade, mas é necessário acrescentar que exceções podem ser boas ou ruins.

Uma exceção ruim dos Estados Unidos é o aloprado sistema do Colégio Eleitoral.

Pela segunda vez em 16 anos teremos um cidadão que recebeu menos votos assumindo a Presidência da República.

O primeiro caso foi com Al Gore, no ano 2000. Ele ganhou a eleição no voto popular mas perdeu no Colégio Eleitoral para George W. Bush.

O que é o Colégio Eleitoral? É um sistema em que, quando um candidato ganha mais votos em um Estado (por exemplo, Flórida) os “electors” daquele Estado mais tarde (semanas mais tarde) dão a ele os seus votos.

O número de votos varia de Estado para Estado e na verdade começou como um pérfido sistema para dar aos estados do Sul (os da antiga Confederação, estados escravocratas) um número grande de votos no Colégio Eleitoral.

Para isto, os negros residindo naqueles estados, mesmo os escravos que não tinham direito a voto, eram computados como “3/5 de um homem”. Não eram um ser humano completo, apenas 3/5, para efeito eleitoral.

Na eleição perdida por Al Gore o resultado foi ainda mais escandaloso porque tudo indica que, na verdade, Al Gore ganhou a eleição na Flórida, mas, no tapetão da Suprema Corte, onde havia mais juízes republicados do que democratas, George W. Bush foi considerado o vencedor.

Agora, na eleição do mês de novembro passado, Hillary Clinton teve 2,8 milhões de votos mais do que Donald Trump, mas, por causa do pérfido sistema do Colégio Eleitoral, Donald Trump foi oficialmente indicado como o novo presidente dos Estados Unidos (tomará posse em 20 de janeiro).

Quem é Donald Trump? Um vigarista, mentiroso, racista, xenófobo, misógino e demagogo.

A péssima impressão que se tinha dele antes da eleição só fez aumentar nos últimos dias, pois vem indicando pessoas absolutamente desqualificadas para os postos importantes de sua administração.

Para o Departamento de Energia, vai nomear Rick Perry, antigo candidato presidencial que havia prometido… fechar o Departamento de Energia, mas, num debate em primária presidencial, em 2008, não conseguiu sequer lembrar seu nome.

Para o Departamento de Proteção ao Meio-Ambiente, Trump nomeará Scott Pruitt, um político de Oklahoma que é famoso como testa de ferro de empresas petrolíferas e quer romper o Acordo Climático de Paris.

Para a Secretaria de Defesa vai um general da reserva apelidado “cachorro louco”.

Como embaixador em Israel, um cidadão que considera os judeus favoráveis a um acordo com os palestinos “nazistas”.

Para a Secretaria de Estado, o “chairman” e executivo chefe da Exxon Mobil, Rex Tillerson, cujo interesse maior é negociar acordos petrolíferos com a Rússia, onde sua empresa tem direitos de exploração em 64 milhões de acres.

Para a Secretaria do Trabalho, Andrew Puzder, inimigo declarado da legislação trabalhista e dos sindicatos.

Trump continua a dar declarações totalmente insensatas e parece a caminho de um choque frontal com a China, por dizer que vai restabelecer relações diplomáticas com Taiwan.

É este homem, Donald Trump, que o Colégio Eleitoral consagrou Presidente dos Estados Unidos, embora tenha perdido por larga margem a votação popular.




José Inácio Werneck, jornalista e escritor, é intérprete judicial em Bristol, no Connecticut, EUA, onde vive.



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