sábado, 7 de janeiro de 2017

VERA RUBIN, A MULHER QUE CONVERSAVA COM AS ESTRELAS


Ela sempre foi fascinada pelo céu. Nada, absolutamente nada, era mais interessante para ela do que a observação do céu noturno. Ficava imaginando como seria cada estrela vista de ângulos diferentes e o que significava o bailado dos astros.


Coerente com sua paixão dizia a todos que um dia seria uma astrônoma para poder ver o céu mais de perto, as estrelas em suas múltiplas formas e mal percebia os sorrisos irônicos dos que duvidavam.


Estudou com afinco focada nesse objetivo. Passou pelo Instituto Carnegie, em Washington e quando se candidatou à Universidade de Princeton para a pós-graduação, ouviu que “Princeton não aceita mulheres”.


Não se abalou e fez então, doutorado na Universidade de Georgetown. Conforme prometido, era enfim, uma astrônoma.


E que astrônoma.


Inquieta, inovadora, curiosa, desde cedo chamou a atenção de seus colegas, infelizmente não só por seu talento, mas pelo fato de ser mulher.


Objeto de piadinhas machistas e comportamentos hostis, num ambiente quase que exclusivamente masculino.


Um professor chegou a dizer que ela deveria se afastar desse campo de estudo tão complexo e “próprio para homens”.


Outra vez um professor se ofereceu para apresentar o trabalho dela, imaginando que ela não fosse aguentar tanta pressão dos “colegas”.


Mas ela prosseguiu, apresentou seus trabalhos, venceu. Mais importante que os preconceitos era seu amor pelas estrelas.


Tornou-se uma modelo de pesquisadora séria que tinha alegria em compartilhar seus conhecimentos, não deixando jamais de auxiliar os que estavam começando.


Não ganhou respeito, mas conquistou-o quando observando os céus como no seu tempo de criança, conseguiu provar, de forma científica, a existência da matéria escura, teorizada pelo astrônomo Fritz Zwicky, em 1933, mas que só com ela deixou de ser uma hipótese para se tornar um preceito científico.


Brilhante. Como são as estrelas.


Hoje, a composição, função e origem dessa matéria não luminosa que existe além da galáxia ótica e compreende cerca de quatro quintos da matéria do universo, é o assunto mais instigante e pesquisado nos meios astronômicos.


E foi ela, Vera Rubin, que “trouxe” esse mistério fabuloso da criação, para o conhecimento científico.


A menina que adorava observar as estrelas morreu em 25 de dezembro último, aos 88 anos.


Segundo muitos cientistas proeminentes como Lawrence M. Krauss e Katie Mack, Vera Rubin deverá ser sempre lembrada como uma das cientistas mais brilhantes e injustiçadas de seu tempo, visto não ter recebido aquilo que lhe seria de direito, e que, certamente, um homem receberia, o Prêmio Nobel de Física.


Vera Rubin, a mulher que nos convenceu que a matéria escura existe.


E por que essa mulher genial não recebeu o prêmio?


Melhor perguntar para os colegas machistas, ou então, para as estrelas.



Prof. Péricles

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