segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

DIGNIDADE


Dignidade é uma coisa que, definitivamente, não se compra na farmácia ou na padaria. É o software de cada um, vem de fábrica. Pode ser burilado pela educação e outras influências, mas está lá, nasceu com o sujeito e será seu chip inviolável para toda a vida.

Existem mendigos abandonados nas calçadas que possuem olhar mais digno do que juízes de Direito.

A pessoa pode ser formalmente elegante e bem vestida, frequentar os melhores restaurantes, ter uma gorda conta corrente, mas no íntimo das quatro paredes bater na esposa. É um indigno, por mais que engane os outros.

Conheci uma moça, prostituta, que era capaz de chorar ao ver a dor de alguém e isso a tornava mais digna do que a imensa maioria dos seus fregueses. Não é a função nem a remuneração que torna o sujeito digno.

Por isso, se faz necessário um pouco de paciência. Aquela pessoa de vocábulos ricos pode ser uma ameba moral.

Existe um depósito oculto na alma de cada um onde se armazenam essas coisas que não podem ser mensuradas quantitativamente, e que se destacam apenas pela vivencia.

É como um almoxarifado.

Num escaninho da mente temos solidariedade, noutro fraternidade, respeito, ética, enfim, aquele rol de valores que compõe a dignidade humana. Na medida que vivemos vamos usando cada um desses “materiais” e quanto mais velhos ficamos mais rapidamente reabastecemos nossos escaninhos da alma. Mas, os que não têm essa matéria prima estão sempre desabastecidos e confundindo amor próprio com dignidade.

Por mais enganador que seja, ninguém consegue demonstrar ter o que realmente não tem, e quando insiste acaba caindo em contradição.

Por exemplo: é impossível amar o Brasil sem amar seu povo, amar a democracia e defender golpismos e golpistas ou defender a igualdade entre as pessoas sendo preconceituoso e racista.

O pior mal caráter é aquele que não assume seus desejos e busca enganar as pessoas com defesas ambíguas de valores pontuais.

Para não assumir seu antipetismo afirmar que todos os partidos são iguais. Para não assumir seu fascismo ressaltar o pretenso ataque aos valores tradicionais que estariam sendo violados e aí arrola Deus, pátria, família, ordem e progresso.

Coisas assim que explicam, por exemplo, como pode um político que, num passado recente, representou seu papel de candidato à presidência pelo PCB com enorme dignidade, demonstrar agora uma agressividade injustificada numa solenidade pública, agredindo com palavras ácidas um intelectual que aos ser homenageado pronunciou palavras contrárias aos seus instintos de superioridade governista.

Embora sejam diferentes personagens de um mesmo ator, dá para apostar que o verdadeiro é esse, sem a dignidade que um dia representou ter.

Toda máscara tende a cair um dia.

Seria extraordinariamente mais fácil viver se cada um assumisse o que realmente sente e os valores que realmente lhe interessam defender.

Mas, aí, voltamos ao início desse texto... dignidade é algo que não se compra, nem se conquista com um curso superior... é seu chip de fábrica.



Prof. Péricles





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