domingo, 2 de julho de 2017

A MISSA, O PADRE E A FAMÍLIA


Por Maria Lúcia Dahl,

Fui a missa outro dia, perto da minha casa, e um padre que eu nunca tinha visto antes, me perguntou se eu era a Maria Lucia Dahl. Fiquei espantada, respondi que sim, e ele, o padre principal da igreja, começou a contar para um outro padre mais moço, que tinha visto todos os meus filmes e novelas.


Fiquei pasma e ele me disse que era uma alegria enorme que eu estivesse ali na sua paróquia.


Senti-me super-feliz, achando que poderia ser uma mensagem de Deus, e no final da missa, o padre pediu pras pessoas esperarem que ele queria apresentar uma pessoa que ele muito estimava e que estava contente por ela ter escolhido a sua igreja entre tantas outras. Então, fui até perto do altar onde ele estava junto com o padre jovem e ele me apresentou como uma ótima atriz, escritora e jornalista.


Fiquei impressionada com o que estava acontecendo por que não sou nenhuma estrela da capa de Caras e por isso agradeci a Deus como se estivesse sendo abençoada.


Agradeci a todos e fui pra casa muito feliz , me sentindo menos sozinha, pois minha filha e meu neto caçula foram para S. Paulo e o meu neto mais velho, de quinze anos, alem de estar indo morar em Los Angeles, passa as 24 horas que deveria estar na minha casa, no apartamento da namorada ou com uma turma de vários amigos.


Sabia que chegava uma hora em que filhos e netos nos abandonam para viver suas próprias vidas, mas não que hoje em dia isso começasse quando eles têm 15 anos. E tem mais: quando ele fica comigo sozinho, (o que é uma raridade), se tranca no quarto jogando no computador ou vendo televisão.


Papo comigo, não existe mais. Quando vou visita-lo nos seus aposentos, está sempre ocupado com centenas de mensagens em toda parte e de todo jeito o que o faz me dizer sobre a nossa conversa combinada: “Vó, agora estou ocupado. Espera só um instantinho”.


Instantinho esse, que depois que as férias começaram nunca mais voltou, esperando as corridas de bicicleta, o futebol na TV, a praia no Arpoador e outras que tiram completamente o tempo do pobre instantinho que esperava pra voltar.


Então me dei conta de que não era mais aquela pessoa que convivia com netos, filha e que apesar dos amigos e do companheiro, graças a Deus, não me reconhecia nesse novo papel de atriz solitária, pois família faz parte da nossa alma, então compreendi por que fiquei tão feliz quando o padre percebeu que essa pessoa triste de agora ainda era eu.



Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa e29 peças teatrais. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil.

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