sábado, 1 de julho de 2017

MILHO PARA AS GALINHAS


Talvez o melhor mesmo, fosse esquecer.


Esquecer daquela mulher fantástica que você deixou passar por sua vida e ir embora para algum ponto distante deixando apenas o suor e o desejo.


Esquecer da última trovoada que te pegou sem guarda-chuva e do dia ensolarado que te surpreendeu de mau humor.


Deixar pra lá as incoerências do teu sentir e do teu agir que normalmente te deixam sem jeito, embora ninguém perceba.


Talvez o melhor fosse olhar aqueles olhos intensos e apenas observar o jeito malicioso de ajeitar os cabelos. E só isso já bastaria pelo resto do tempo que se perde por não observar direito.


Ou, quem sabe, sufocar o riso que teimoso incomoda quando percebe a ironia de quem te chama para o amor com um simples sorriso.


Sei lá, ultimamente não tem valido à pena as coisas mais sérias, aquelas que um dia foram catalogadas como ideais.


A descrença em seu próprio povo dói mais do que martelada no dedo.


Traído por sua gente, traição que expos a fragilidade de teus raciocínios.


É o que deve ter sentido o povo judeu ao perceber que seus vizinhos, aqueles mesmos que conversavam na fila do pão, apoiavam os abusos do nazismo.


Ou silenciavam.


As vezes o silêncio pode doer mais do que uma punhalada.


Até é possível continuar vivendo junto, mas nunca mais será a mesma coisa.


Deixa pra lá. Toma mais um mate que de amargo basta a vida.


Estende teus olhos sobre as gotas geladas do último sereno.


Não importa o que se diga, ou o que se faça num país dominado por mugidos.


Os golpes já foram dados e todos eles te acertaram em cheio.


Acertaram tuas utopias, tuas fantasias, tuas inocências.


O Brasil nunca mais será o mesmo nos teus planos.


Que planos?


Toma mais um mate e esquece.


Ou faça como o passarinho diante do vento forte, que se encolhe e se prende ao galho pois sabe que o vento forte vai passar um dia. E passa, toda tempestade termina.


Puxa um banco e senta na soleira de tua porta, e espera.


Enquanto joga o milho para as galinhas, o tempo passa e a gente envelhece.


Assim como toda verdade cabe na palma da tua mão.



Prof. Péricles



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