domingo, 17 de setembro de 2017

PELO MENOS TIRAMOS O PT


“Pelo menos tiramos o PT”.


Para grande parcela da população brasileira, esse é seu mais valioso mantra.


Repetem com facilidade a frase que tenta justificar seus erros ou ratificar suas convicções que ameaçam ruir a cada novo escândalo que envolve seus heróis de pés de barro.


Para muitos, tirar o PT do poder era o objetivo mais importante e inegociável da vida.


Incompreensível é que esse objetivo tenha suas bases não na análise e perspectiva sobre o que fizeram ou deixaram de fazer os governos petistas, mas no sentimento irracional de anti-esquerda.


Lula tornou-se para essas pessoas o ícone do PT e o PT o ícone da esquerda.


Tirar Lula/Dilma do Poder era tirar o PT, consequentemente, tirar a esquerda do poder mesmo tendo sido esse poder conquistado nas urnas.


Para essa gente deve-se defender democracia (isso é, tirar o PT) mesmo com ações antidemocráticas.


Assim agiram movidos pelo antismo, e esse antismo é basicamente cultural e não político pois não resiste ao mínimo debate racional.


A anti-esquerda cresceu no Brasil com o fermento do ódio anticomunista, criado pela direita mais retrógrada que, para justificar seus golpes, jamais teve moralismos em qualificar seus adversários como comunistas, mesmo sabidamente não sendo.


Getúlio Vargas foi acusado de comunismo, mesmo tendo sido o governante que fechou a Aliança Nacional Libertadora, baniu o PCB e prendeu suas lideranças, inclusive Luís Carlos Prestes. Vargas não teve pudores nem para entregar numa bandeja à Gestapo, para ser morta, Olga Benário, agente comunista internacional e mulher de Prestes.


Da mesma forma João Goulart, fazendeiro gaúcho e discípulo de Vargas, foi taxado de comunista para ser apeado do poder. Suas propostas de reformas do sistema de ensino, planejamento urbano e agrário foram rotuladas de propostas comunistas e contra elas se organizaram marchas da Família com Deus e pela Liberdade.


No Brasil, a elite esperta sempre usou o preconceito para dirigir a classe média burra.


Dessa forma, se Lula é PT, o PT é esquerda e esquerda é comunista, o que vale é tirar o PT do poder, perseguir e aniquilar a figura de Lula para fazer sangrar a esquerda brasileira.


Pior ainda é que esse anticomunismo virulento e radical não nasce do debate ideológico e da defesa das coisas boas do capitalismo contra os erros do comunismo real, mas do medo de ver os mais “miseráveis” ascender à patamares sociais (que julgam ser a bandeira da esquerda) vedados aos “miseráveis”.


Hoje, o mantra se repete entre uma população mais ou menos arrependida.


Diante das barbaridades cometidas e anunciadas pelo governo Temer, parte da população antista começa a perceber que caiu numa armadilha, mas, para justificar seus erros repete que “o importante foi tirar o PT”.


Não entende essa parcela da população que tirar o PT do poder em cima de uma conspiração da mídia e do judiciário foi fácil, difícil será pagar o preço. E o preço é a desnacionalização do país com à venda do seu patrimônio em leilão, pago em suaves prestações.


O preço poderá será a perda de seus direitos trabalhistas e previdenciários.


Perdemos, mas, o importante foi tirar o PT.


Tirar o governo mais pacífico da história, incapaz de qualquer ato de força e persuasão foi mais fácil que tirar um Brizola (também rotulado de comunista) capaz de botar fogo no circo. Difícil é reconhecer que junto tirou a esperança de milhões de brasileiros que ousaram sonhar.


Junto com tirar uma presidente legitimamente eleita do poder, sem cometimento de qualquer ilícito, tirou-se também o Brasil do clube dos países modernos e em desenvolvimento, respeitado lá fora como nunca fora antes em sua história.


“Pelo menos tiramos o PT”, mais do que um mantra, ameaça se tornar, num futuro imediato, o título do mais triste e bizarro capítulo da história brasileira.



Prof. Péricles

Um comentário:

Daniel Reis disse...

Getúlio, Jango e Lula, não são comunistas, mas fazem parte de um grupo de pessoas que ofendem o capitalismo de "cooptação", ou a relação "Império X Colônia" onde a nação imperialista coopta a colônia para ser base de seu desenvolvimento.

Getúlio e Lula tentam nacionalizar o petróleo.
Jango faz a lei que limita a remessa de lucro para o império.

E é isso que é combatido: a independência do país frente ao imperialismo.