terça-feira, 31 de outubro de 2017

OS MENINOS DA LAGOA


Então, o menino voltou-se para o velho médico que a vida inteira estudara as doenças e perguntou “tio, o que o senhor tem contra o câncer?”. O velho médico, suspirou e com toda a paciência explicou o quanto o câncer limitava a qualidade e o tempo de vida das pessoas.



Mas, o menino que tudo ouvia com olhar de esperto, não acreditava no que estudara o velho homem (pois a televisão dizia que câncer era bom) tornou a falar “Mas, tio, eu sou a favor do câncer”.



Diante da insistência burra e inocente, o médico suspirou e deu de ombros.



E o câncer tomou conta da pequena aldeia, que se chamava Hipocrisia, e só então o menino entendeu o quanto fora tolo, mas já era tarde. Mas não culpou a televisão, afinal, ele era esperto.



Resolveu então seguir a vida, sem pensar muito, afinal, havia outros meninos, os que moravam na beira da lagoa que viviam situações piores e com mais doenças para lhe servir de consolo.



O importante não era ter saúde, era ter menos chagas que seus vizinhos.



Um dos seus vizinhos, que habitava a Lagoa havia chegado ao poder e isso sim, era intolerável.



Em Hipocrisia as pessoas poderiam se alimentar bem, mas como até os meninos da lagoa comeriam bem, muitos preferiam comer capim, e diziam ser gostoso comer capim, pois ao menos haviam tirado um menino da lagoa do poder.



Em Hipocrisia as pessoas poderiam ter orgulho de sua aldeia e de seu destino, mas, como isso poderia parecer obra de um menino da lagoa, preferiam viver como servos e vender suas riquezas aos esquisitos do norte, mais ricos, a quem invejavam e tentavam agradar.



Enquanto isso, o velho médico continuava lutando para acreditar nas velhas terapias.



O pior de tudo para ele e os outros que a tudo viam com o coração apertado, não era perder a esperança em hipocrisia.



Era perder a fé em seus meninos.




Prof. Péricles





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