terça-feira, 26 de abril de 2011

REVOLTA DA VACINA, OS RATOS E A MARSELHESA

“Pelo menos os colchões, Dr. Oswaldo... não queime os malditos colchões”
Suado diante dos dias quentes daquele final de primavera de 1904, e exasperado pela situação nas ruas, o Presidente Rodrigues Alves olhava para aquele médico a quem confiara a missão estratégica de combate à febre amarela, com olhos angustiados. Será que esse sanitarista genial e maluco, que descobrira e isolara o vírus da febre amarela, criando sua vacina, e que perseguia os ratos (o povo o chamava de “papa ratos”) não entendia que, para muitos cariocas o colchão que suas tropas incendiavam era único e queimá-lo provocava o rancor e a fúria?

Não, Oswaldo Cruz não entendia.

Para ele, saúde se fazia em campanha nos moldes militares. Campanha de Guerra.

Se o maldito vírus se escondia entre os farrapos dos quais os pobres escondiam seus corpos, ou nos colchões onde dormiam, a missão da campanha era simples: queimar os colchões, abater os ratos e mosquitos à tiros, e não podendo abater também os pobres, ao menos obrigá-los à vacinação.
No Brasil do início do século XX saúde era tratada como um fim político. Nem pensar em esclarecer os pobres. Eles estavam até sendo vacinados, para quê seriam necessários esclarecimentos?

Por isso, a resposta do Dr. Oswaldo foi um olhar indolente de quem entendia que tanto zelo do presidente da República, devia-se apenas ao fato da imagem do Brasil (e de seu governo) ser ridicularizada na Europa. Imagina, empresas de turismo chegavam a prometer em grandes cartazes de propaganda, levar seus fregueses à Buenos Aires sem passar pelos focos contaminados do Rio de Janeiro.

Mas enganavam-se ambos, médico e presidente ao diminuir as causas da revolta, caracterizando-a como algo esporádico e despolitizado.

A situação do Rio de Janeiro, no início do século XX, era precária. A população sofria com a falta de um sistema eficiente de saneamento básico. Este fato desencadeava constantes epidemias, entre elas, febre amarela, peste bubônica e varíola. A população de baixa renda, que morava em habitações precárias, era a principal vítima deste contexto.

Para piorar, Rodrigues Alves decidira urbanizar a capital do país, que deveria começar a ser a “cidade maravilhosa” e para isso velhas ruas foram alargadas, enquanto novas vias públicas invadiam bairros e vielas.
Adivinha quem teve suas casas desapropriadas (sem pagamento) e expulsos das áreas mais antigas de habitação? Isso mesmo, os pobres, gente que nem médico nem presidente conheciam muito bem.

Entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904, explodiu no Rio de Janeiro a Revolta da Vacina.

A parte mais pobre do povo desceu os morros, convicta da justiça de suas reivindicações, influenciada pelas conversas apaixonadas que rolavam no Boteco do Manduca, o mais popular Boteco da favela. O Manduca, analfabeto, mas bem informado e idealista, chegara a desfraldar uma bandeira da França na frente de seu estabelecimento, e juntos, emocionados pelo fervor do idealismo e da cachaça, botequeiro e freguesia cantaram a Marselhesa.

Povo e polícia se engalfinharam de forma violenta. Populares destruíram bondes, apedrejaram prédios públicos e espalham a desordem pela cidade.
Nos sete dias de revolta, muitas vezes Manduca promoveria o mesmo ato simbólico.

Juntos, aquele povo de um só colchão, que entendia de ratos de um jeito diferente do Dr. Oswaldo Cruz, aquele povo miserável, promoveria uma inacreditável união de esforços para por fim à campanha militar/sanitária desencadeada por um governo distante e mais preocupado com sua imagem e suas ruas alargadas.

Finalmente, em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodrigues Alves, fazendeiro paulista que acabaria morrendo, ironicamente, vítima de uma epidemia (Gripe Espanhola, em 1918), revoga a lei da vacinação obrigatória.

A Revolta da Vacina talvez nunca tenha sido vista pela história oficial com a profundidade merecida. Até hoje é ensinada nos colégios como um momento apolítico de um povo ingrato que sequer percebia a importância e os benefícios da vacinação.

Suas causas, seus revoltosos, e claro, seu Manduca, botequeiro que recitava o hino da França, entendendo ser esse um momento solene de liberdade, igualdade e fraternidade, mereciam, pelo menos, um olhar mais crítico,mais humano e reconhecido.

Prof. Péricles

domingo, 24 de abril de 2011

REFLEXÕES SOBRE A LÍBIA

Sem dúvida alguma, a luta pela liberdade, contra a opressão de ditaduras de qualquer natureza, merece o apoio do ocidente bem intencionado.
Longe de nós apoiarmos o continuísmo de Muamar Khadafi ou qualquer outro governo que se pretenda perpétuo.

Porém, também jamais apoiaremos de forma apressada, qualquer intervenção militar da OTAN ou dos Estados Unidos que ameacem a soberania dos países mais frágeis.

O fato é que, diante da "ajuda humanitária" que vem, de quem vem, talvez sejam necessárias algumas reflexões, como as apontadas abaixo:

1 - A ONU CONSTATOU EM 2007 EM RELAÇÃO À LÍBIA:

- Maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);
- Ensino gratuito até a Universidade;
- 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago pelo governo;
- Ao casar, o casal recebe até 50.000 US$ para adquirir seus bens;
- Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração;
- Empréstimos pelo banco estatal sem juros;
- Inaugurado em 2007, maior sistema de irrigação do mundo, vem tornando o deserto (95% da Líbia), em fazendas produtoras de alimentos.

2 – QUE INTERESSES PODEM ESTAR POR TRÁS DA “BOA VONTADE” DA COLIGAÇÃO?

- Tomar seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;
- Fazer com que todo mar Mediterrâneo fique sob controle da OTAN. Só falta agora a Síria;
- E o maior provavelmente: O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema financeiro mundial. Suas reservas são toneladas de ouro, dando respaldo ao valor da moeda, o dinar, e desatrelando das flutuações do dólar. Khadafi propôs, e quase conseguiu, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar.

3 – CONSEQUÊNCIAS DO ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:

- a OTAN comandada pelos EUA, já bombardeou as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis que são capazes de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e infra estrutura de água, esgoto, gás e luz estão sèriamente danificados;
- as bombas usadas contem DU (Urânio depletado) tempo de vida 3 bilhões de ano (causa câncer e deformações genéticas);
- metade das crianças líbias está traumatizada psicologicamente por causa das explosões que parecem um terremoto e racham as casas;
- principalmente as crianças, sofrem com a falta de remédios e alimentos;
- a água já não mais é potável em boa parte do país. De novo as crianças são as mais atingidas;
- cerca de 150.000 pessoas por dia, estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida;
- se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de uma população de 6,5 milhões de pessoas , estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver: Água e comida.
Em suma: O bombardeio "humanitário" acabou com a nação líbia. Nunca mais haverá a nação Líbia. Foram varridos do mapa.

Fonte : www.globalresearch.ca rascunho

quinta-feira, 21 de abril de 2011

TIRADENTES E A INCONFIDÊNCIA MINEIRA

Aproveitando o feriado de 21 de abril, vale algumas reflexões sobre Tiradentes e a Inconfidência Mineira.
Em 1755 ocorreu em Portugal, na região de Lisboa, um dos maiores terremotos da história. Para muitos, o maior que já aconteceu. Infelizmente não havia equipamento específico para registro de sua intensidade. Lisboa foi destruída.
O Marques de Pombal (ministrão do Rei) temia que a destruição da capital desestimulasse os parceiros comerciais europeus e que fosse negado um empréstimo que Portugal recorria já algum tempo.
Como poderia acalmar os parceiros investidores? Com o Brasil, claro. Mais precisamente, com o ouro do Brasil.
Dessa maneira os impostos arrocharam ainda mais e a administração Pombalina cria na região das minas a horrenda, Derrama.
E foi a Derrama, uma das causas, talvez a principal, da revolta que deu origem ao movimento da Inconfidência Mineira.
Os inconfidentes eram, em imensa maioria, filhos de classes mais favorecidas, mas, dela também participaram padres e militares.
Joaquim José da Silva Xavier era alferes (patente militar já extinta entre sargento e tenente). Não é justa a afirmação que era um movimento apenas de “filhinhos de papai”. Mas, definitivamente, era de uma elite intelectual. Gente que conhecia o iluminismo e as mudanças no mundo contemporâneo.
Tiradentes, embora não fosse um intelectual era um sujeito bem informado. Nomalmente guardava a Declaração de Independência dos Estados Unidos no bolso da calça e gostava de recitá-la quando discutia independência com alguém.
O que queriam os inconfidentes?
Basicamente defendiam reformas, além da independência política do Brasil. Queriam a criação de uma fábrica de pólvora em Vila Rica, que São João Del Rei se tornasse capital, pagamento de pensão vitalícia, como estímulo para mulheres que tivessem mais de quatro filhos (era necessário aumentar o povoamento), etc.
Sobre questões mais profundas como a forma de governo (Tiradentes era republicano) e a questão da escravidão (Tiradentes defendia sua abolição) a maioria jamais se pronunciou ou registrou seu pensamento.
Quando em reunião conspiratória na casa de um deles, os que chegavam ao bater à porta tinham que pronunciar uma senha, a senha “uai” (abreviatura de unidade, amor e independência) e daí a origem da característica expressão mineira, até hoje.
Traídos, o movimento que era frágil e condenado ao fracasso, pois não contava com qualquer base popular (o povo literalmente não sabia o que estava acontecendo), caiu como um castelo de areia.
Presos incomunicáveis por três anos (todos ficaram esse tempo todo com a roupa com que foram presos), torturados (Claudio Manuel da Costa foi “suicidado” na prisão), foram julgados e condenados, a maioria ao degredo.
Tiradentes foi condenado à morte. Segundo muitos, por ser o único chinelo da turma, mas também por ter a coragem de sustentar seus ideais, sem medo da pena, que sabia bem, seria a capital. A Coroa, para desestimular outras inconfidências, buscou ainda, criar terror. Esquartejou o corpo e distribui seus pedaços em lugares públicos de Vila Rica (hoje, Ouro Preto).
O movimento e seus elementos sempre foram questionados na história do Brasil e a figura de Tiradentes, em vários momentos, foi vista de maneira diferente.
A Independência veio 30 anos após a morte do Alferes (executado em 1792). Mas a monarquia brasileira, durante toda sua existência (1822-1889) procurou esquecer o movimento tido como republicano e abolicionista e Tiradentes permaneceu esquecido, sendo, inclusive, proibida a publicação de seu nome.
Apenas após a proclamação da República, em 1889, sua memória foi recuperada, e sua figura, erroneamente apresentada como fisicamente parecida com Jesus Cristo (Tiradentes não tinha cabelos compridos, pois era militar e inclusive teve os cabelos raspados para afugentar os piolhos da prisão para a execução).
Talvez porque toda nação necessite de heróis, de preferência martirizados, como o maior mártir de toda civilização cristã.
Mas essa é outra história.
Que nesse 21 de abril possamos refletir sobre nosso país, sobre homens capazes de defender suas idéias, sobre verdades e mentiras.
E, por que não, salve Joaquim José da Silva Xavier.
Uai.

sábado, 16 de abril de 2011

O ENÍGMA KHADAFI

Muammar Khadafi nasceu em uma família tradicional da região líbia, segundo consta, numa tenda no deserto, próximo a cidade de sufir.
Estudou na Europa, em colégio tradicional, se destacando em literatura e geografia.

Fez a academia militar na cidade que hoje simboliza à oposição ao seu regime, Benghazi, segunda maior da Líbia. Ocupa a patente de coronel.
Em 1969 participou do movimento que derrubou o primeiro e único rei da Líbia pós-colonização, Idris I. Em pouco tempo, assumiu a liderança do movimento, já vitorioso. Desta maneira, está no poder à 42 anos.

Quando surgiu no cenário internacional, causou preocupação no ocidente e esperança nos orientais.
Admirador do político nacionalista egipcio, Gamal Nasser, Kaddafi expôs suas idéias políticas no famoso "Livro Verde" que pretendia ser uma espécie de Livro Vermelho do líder chinês Mao Tse-tung.
Nesse livro propõem uma alternativa ao capitalismo, mesclando elementos do socialismo e do islamismo fundamentalista.

Declara ilegais as bebidas alcoólicas e os jogos de azar. Exige e obtém a retirada americana e inglesa de bases militares, expulsa as comunidades judaicas e aumenta decididamente a participação das mulheres na sociedade. Além disso, retira da Líbia todos os americanos vindos através da aliança entre Idris I e os EUA, fecha danceterias, bordéis e bares instalados pelos americanos, impondo a toda Líbia o respeito aos preceitos morais do islamismo.

Na década de 70 foi tão temido pelos Estados Unidos como Saddan Hussein até pouco tempo. Apoiou grupos extremistas anti-americanos e anti-israelenses. Segundo se acredita, teve, inclusive, ligações com os atentados de Munique, nos Jogos Olímpicos de 1972 e ao atentado que provocou à queda de um avião sobre a cidade de Lokerbie, na Escócia, causando mais de 200 mortes.

Em 1986 após uma explosão numa discoteca em Berlim, onde morreram cidadãos americanos, os Estados Unidos o denominaram de "Cachorro Louco" e bombardearam Trípoli e Benghazi, onde sua esposa e filha vieram a falecer, vítima desses bombardeios.

No final da década de 90, assumiu responsabilidades sobre a queda do avião em Lokerbie, entregando os terroristas aos tribunais da Escócia e pagando indenização à todas as famílias atingidas.
Em 2003, Khadafi anuncia afastamento dos grupos extremistas. Torna-se um aliado dos europeus e reatou com os americanos.

Atualmente a Líbia apresenta a melhor situação econômica entre os países do norte da África. Ocupa a 58ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) enquanto, o Brasil, por exemplo, ocupa a 68ª posição. O país recebe levas de imigrantes de outros países que buscam emprego, que falta em seus países de origem.

Entretanto, em 2011, Khadafi enfrenta uma revolta que teve início com representantes líbios na ONU seguida de tentativa de destituição do poder através de luta armada que parte de Benghazi. Após denúncias de estar bombardeando alvos civis, sofre uma intervenção militar, supostamente liderada pela ONU, mas, na verdade, capitaneada pelos Estados Unidos.
Foi criada por essas forças militares uma área de exclusão aérea, anulando o poder da Força Aérea do ditador.

Mas, apesar de todo apoio militar, os rebeldes não conseguiram levar ao povo, a revolta, dita popular. Prova disso que, os rebeldes não só não avançam sobre Trípoli, como recuam em determinadas regiões.

Restam os questionamentos:

- Quais os reais interesses no movimento rebelde? É memo popular? É italiano (a Itália importa 90% do petróleo líbio)? É francês? É norteamericano?

Na nossa enquete foi perguntado aos nossos visitantes se eram a favor da intervenção militar, contra ou sem opinião. O resultado final foi:

58% a favor
35% contra
7% sem opinião

A todos os que participaram, nossos agradecimentos.
Vamos acompanhar os acontecimentos, e, quem sabe, em breve tenhamos as respostas para nossos questionamentos.

Prof. Péricles

sexta-feira, 15 de abril de 2011

ACIDENTES NUCLEARES

A mídia sempre foi muito competente em abafar casos incômodos aos interesses mais poderosos que governam nosso mundo. Muitas vezes, um mundo de mentirinhas.

Por exemplo, fomos “educados” a pensar que a energia nuclear é algo absolutamente seguro, sem necessidade de receios quanto à acidentes. Afinal, acidentes são coisas hoje do oriente como foram, num passado recente, coisa dos comunistas.

Assim, o acidente nuclear de Fukushima, no abalado Japão, após um terremoto de 9.0 graus na escala Richter, pegou os incautos em honesta surpresa.

Para muitos, o único acidente nuclear grave, até então, havia sido o de Chernobil, na ex-União Soviética.

Mundo de mentirinha.

Muitos acidentes nucleares já ocorreram em variados graus de gravidade.

Voltada para "fins pacíficos", como fazem questão de alardear todos os governos que detêm tecnologia nuclear, a energia atômica obtida das usinas nucleares está longe de merecer qualquer comemoração. Os problemas com os rejeitos radioativos e os acidentes nucleares registrados até agora demonstram que é totalmente falho o modo pelo qual esta energia é gerada atualmente, ou, o que vem a dar no mesmo, demonstram que o ser humano não passa de um aprendiz nesse assunto, apesar de evidentemente estar convencido de dominar integralmente todo o processo.

Atualmente existem mais de 400 usinas nucleares em operação no mundo, a maioria delas nos Estados Unidos, França, Inglaterra e países do Leste europeu.

Vamos ver os principais acidentes nucleares até hoje registrados, embora silenciosamente:

Em 1957 escapa radioatividade de uma usina inglesa situada na cidade de Liverpool. Somente em 1983 o governo britânico admitiria que pelo menos 39 pessoas morreram de câncer, em decorrência da radioatividade liberada no acidente.

Em setembro de 1957, um vazamento de radioatividade na usina russa de Tcheliabinski contamina 270 mil pessoas.

Em dezembro de 1957, o superaquecimento de um tanque para resíduos nucleares causa uma explosão que libera compostos radioativos numa área de 23 mil km2. Mais de 30 pequenas comunidades, numa área de 1.200 km², foram riscadas do mapa na antiga União Soviética e 17.200 pessoas foram evacuadas. Um relatório de 1992 informava que 8.015 pessoas já haviam morrido até aquele ano em decorrência dos efeitos do acidente.

Em janeiro de 1961, três operadores de um reator experimental nos Estados Unidos morrem devido à alta radiação.

Em janeiro de 1969, o mau funcionamento do refrigerante utilizado num reator experimental na Suíça, inunda de radioatividade a caverna subterrânea em que este se encontrava. A caverna foi lacrada.

Em março de 1979, a usina americana de Three Mile Island, na Pensilvânia, é palco do pior acidente nuclear registrado até então, quando a perda de refrigerante fez parte do núcleo do reator derreter. Uma testemunha que morava numa cidade próxima à usina de Three Mile Island relatou dessa forma a situação logo após a confirmação do acidente: "As famílias estavam sendo reunidas desesperadamente e as ruas estavam uma loucura. Houve acidentes em frente à escola. Pais histéricos vinham apanhar as crianças no colégio, trombando uns com os outros, atravessando sinais vermelhos, numa situação de pânico geral."

Durante a Guerra das Malvinas, em maio de 1982, o destróier britânico Sheffield afundou depois de ser atingido pela aviação argentina. De acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica, o navio estava carregado com armas nucleares, o que põe em risco as águas do Oceano Atlântico próximas à costa argentina.

Em abril de 1986 ocorre o maior acidente nuclear da história (até agora), quando explode um dos quatro reatores da usina nuclear soviética de Chernobyl, lançando na atmosfera uma nuvem radioativa de cem milhões de curies (nível de radiação 6 milhões de vezes maior do que o que escapara da usina de Three Mile Island), cobrindo todo o centro-sul da Europa. Metade das substâncias radioativas voláteis que existiam no núcleo do reator foram lançadas na atmosfera (principalmente iodo e césio). A Ucrânia, a Bielorússia e o oeste da Rússia foram atingidas por uma precipitação radioativa de mais de 50 toneladas. depois do acidente, foram mobilizadas aproximadamente dois milhões de pessoas no processo de limpeza de toda a região atingida. Em abril de 1992, um comunicado oficial do governo estimava que o número de mortes naquele grupo, devido à radiação, situava-se entre 7 mil e 10 mil. Três anos depois, em abril de 1995, o Ministério da Saúde ucraniano informava que mais de 125 mil pessoas haviam morrido entre 1988 e 1994, vítimas da radiação.

Segundo o ministrou Andrei Serdiuk, "a radiação repercutiu na piora generalizada da situação demográfica e do estado de saúde da população da Ucrânia;1 aumentaram as doenças no sangue, no sistema nervoso, nos órgãos digestivos e respiratórios."

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Em setembro de 1987, a violação de uma cápsula de césio-137 por sucateiros da cidade de Goiânia, no Brasil, mata quatro pessoas e contamina 249. Três outras pessoas morreriam mais tarde de doenças degenerativas relacionadas à radiação.

Em dezembro de 1996, o jornal San Francisco Examiner informa que uma quantidade não especificada de plutônio havia vazado de ogivas nucleares a bordo de um submarino russo, acidentado no Oceano Atlântico em 1986. O submarino estava carregado com 32 ogivas quando afundou.

Em julho de 1997, o reator nuclear de Angra 1, no Brasil, é desligado por defeito numa válvula. Segundo o físico Luiz Pinguelli Rosa, foi "um problema semelhante ao ocorrido na usina de Three Mile Island", nos Estados Unidos, em 1979.
Em outubro de 1997, o físico Luiz Pinguelli adverte que estava ocorrendo vazamento na usina de Angra 1, em razão de falhas nas varetas de combustível. Na época ele declara: "Está ocorrendo vazamento há muito tempo. O nível de radioatividade atual é progressivo e está crítico."

Em abril de 1995, uma usina nuclear perto de Bombaim (Índia) deixou vazar água radioativa. A notícia do acidente só foi divulgada em julho. Em outubro daquele ano, um jornal de Tóquio divulgou a notícia de um acidente com um submarino nuclear chinês, que afundara em 1983 próximo de Vladivostok, na Rússia; o acidente causou a contaminação da região e foi mantido como segredo militar pela ex-União Soviética e pelo atual comando da frota russa. Em dezembro de 1995, no Japão, vazaram cerca de duas toneladas de sódio líquido do sistema de refrigeração do "super reator nuclear" da usina de Monju. Os especialistas haviam escolhido esse tipo de reator porque o uso de sódio no lugar de água para refrigeração tornava mínimo o risco de vazamentos, por diminuir os fatores de corrosão… Também em dezembro, cientistas japoneses descobriram, na neve da Antártida, uma concentração de radioatividade 500 vezes superior à normal, à qual
atribuíram os testes nucleares americanos realizados na atmosfera em 1963; segundo esses cientistas, "ficou comprovado que as provas nucleares afetam qualquer parte do globo, independentemente de onde tenham sido realizadas."

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A VINGANÇA DO ALUNO "ZOADO"

Mais uma vez nossa grande imprensa prefere o sensacionalismo, a demagogia e a emoção fácil.
Em vez de se debruçar sobre as causas da violência como produto da sociedade que criamos, de questionar o individualismo exacerbado, de refletir sobre os abusos dos mais fortes e "belos", contra os mais fracos e "feios" conforme os valores sociais que iniciam na infância, mas que se repetem ao longo da existência social, o que assistimos é o mais fácil e cômodo, ou seja, a exploração da lágrima fácil e da audiência segura e comovida. Fácil julgar a sociedade alheia que apedreja a mulher infiel, mas como é difícil olhar para o próprio umbigo.

Abaixo temos artigo do jornalista Luis Nassif.
Vamos refletir sobre tudo isso, sem medo de nos identificarmos entre suas linhas:

Luis Nassif, 09/04/2011
Folha de São Paulo

Assassino não atirou a esmo, dizem ex-colegas.
Para eles, atirador procurou em vítimas características específicas.
Amigos de colégio se reúnem e lembram como Wellington Oliveira era "zoado" pela turma da escola.

"A gente chorou pensando que Wellington matou as crianças em represália pelo que aconteceu quando estudávamos juntos", disse ontem à Folha o hoje assessor cultural Thiago Costa da Cruz, 23, que conviveu com ele na 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries na escola Tasso da Silveira, onde ocorreu o massacre.Um grupo de cinco amigos desde os tempos de colégio reuniu-se em um churrasquinho nas imediações da Tasso. Lembraram-se de como o garoto esquisito era "zoado" pela turma da escola, em especial pelas meninas.

"Estávamos na 7ª série, os hormônios a milhão, e uma das meninas mais malvadas, a C., ficou pegando no Wellington, se esfregando, e dizendo "vem cá". O Wellington entrou em pânico. Gritava "não", "não", "não", desesperado. Ele empurrava a C. e ela gritava cada vez mais alto que queria ficar com ele. Foi assustador", diz Thiago, espécie de porta-voz do grupo.

O ataque de C. contra Wellington causou surpresa, pois ela também era uma vítima da classe por estar longe de ser das meninas mais bonitas, e por ser gordinha. "Mas ela sabia que zoar com o Wellington era um jeito de ficar do mesmo lado dos bonitos e inteligentes da classe."
Ninguém gostava de Wellington, dizem os antigos colegas, a não ser Bruno, um menino fanho e de voz fina, com a cara do personagem cômico Mister Bean. Bruno era destroçado pelo meninos, que o chamavam de "bicha".

A dupla Wellington e Bruno era ridicularizada todo o tempo, inclusive com segredinhos que todos compartilhavam, menos eles. Para compensar, os dois fingiam possuir também segredos e maldades sobre a classe. Para evidenciá-los, soltavam gargalhadas fora de tempo e lugar. "Parecia coisa satânica, mas era só um jeito de se defenderem", diz Thiago.

O grupo dos cinco jovens debruçou-se sobre as notícias na internet. Mas desligaram o computador quando um dos amigos notou a semelhança física entre as vítimas e os antigos colegas. "A gente teve certeza de que ele não matou a esmo.
Wellington procurou em cada vítima uma característica pessoal das pessoas com quem ele teve uma rixa na escola. A L., que falava direto pra ele "Sai daí, seu feio", quando queria sentar em um lugar que ele estivesse ocupando, é idêntica a uma menina que ele matou. Outras meninas têm um olho, uma boca, um jeito que parecia muito com as meninas da nossa classe", afirma Thiago.
"Tinha um menino, que ele poupou, dizendo "Fica frio, gordinho, que eu não vou te matar". Pois bem, esse gordinho é a cara, cuspida e escarrada, do R., que mora aqui no beco. Era assim que toda a classe chamava o R., que de fato era gordinho."
"Nós temos certeza de que, quando subia aquelas escadas, ele viajava no tempo, até dez anos atrás, quando estudávamos juntos", afirma.

A cor das paredes ainda é a mesma, bege por cima e, embaixo, mostarda. O mesmo primeiro andar, a mesma 7ª série das piores chacotas. O mesmo turno matutino. "Nós que devíamos ter morrido.

Não era para ninguém ter pago por uma coisa que nós fizemos", diz, entre lágrimas, Thiago, ele mesmo discriminado nos tempos de escola por ser homossexual.