sexta-feira, 15 de março de 2013

POLÍTICAS AFIRMATIVAS



Imagine que você e um grupo de amigos e vizinhos brasileiros, mudem-se, em definitivo, para outro país, por exemplo, a Bongoróvia.

Você e seus amigos são surpreendidos, logo na chegada, por condições de trabalho que, absolutamente não eram as esperadas por vocês e prometidas pelos empregadores que vieram buscá-los aqui, no Brasil.

Apesar disso, não há volta. Vocês queimaram o passaporte num compromisso pétreo exigido pelos que aqui vieram buscá-los. Então, vocês prosseguem no trabalho, embora se sentindo passados para trás.

O tempo passa e as condições só pioram. Os filhos crescem, você envelhece, os netos chegam, e você ainda dando duro sem poder se aposentar. Pior, ganhando pouco, muito, muito pouco.

O salário era tão pequeno que seus filhos e netos não tiveram condições de estudar. Para ajudar você começaram a trabalhar muito cedo. Nem você, nem seus filhos e netos tiveram condições de acumular qualquer patrimônio.

O vento do tempo sopra e um dia sua alma parte deixando em Bongoróvia uma descendência pobre, ignoranten atrasada, desinformada e sem condições de competir por salários melhores.

Muitas décadas depois os descendentes dos seus empregadores declaram o compromisso firmado extinto. Seus netos já não são obrigados a viver na Bongoróvia.

Porém, mesmo com o fim do compromisso, seus netos e bisnetos que sequer conhecem o Brasil e por aqui não possuem nenhuma raiz, permanecem em Bongoróvia onde são naturalmente excluídos de qualquer emprego com melhor salário e praticamente alijados de qualquer possibilidade de estudo.

Na verdade, os bongorovianos criaram uma realidade que excluí sua gente de qualquer participação mais próxima à dignidade, e pior, não se sentem culpados por isso ou obrigados a qualquer acordo.

Pergunta: você não acha que deveria haver por parte da Bongoróvia e dos bongorovianos um compromisso de facilitar a inclusão social de sua gente?

Você não acha que, seria justo uma compensação por tantos anos de exploração e exclusão que começou com você e se espalhou aos seus herdeiros?

Foi mais ou menos isso que aconteceu com os africanos, trazidos à força para o Brasil e reduzidos à condição de escravidão.

A tal de “Lei Áurea” que, em apenas um artigo, considerou o fim da escravidão, não previu qualquer compromisso entre o governo e os recém-libertos. Ao contrário, antes de maio de 1888 quando da abolição, o governo brasileiro desenvolveu uma política de imigração, trazendo europeus, especialmente alemães e italianos para suprir as vagas que a liberação da mão de obra escrava traria.

Escravo por 3 séculos e alienígenas no mercado de trabalho.

Compromisso do governo? Nenhum.

Políticas governamentais de assistência, treinamento ou qualquer tipo de inclusão do escravo no mercado de trabalho? Nenhuma.

Pois a alguns anos se desenvolve no Brasil aquilo que chamamos de “Políticas Afirmativas”.

E o que são as Políticas Afirmativas?

São medidas especiais e temporárias, tomadas ou determinadas pelo estado, espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como de compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros.

Portanto, são ações atuais mas de causas históricas.

No caso são políticas públicas que visam, de alguma forma, compensar a população negra do Brasil do grande esquecimento a que foi submetida ao longo de 125 anos pós alforria.

Entre essas políticas encontram-se as cotas voltadas aos jovens negros nas faculdades públicas.

Os conservadores retrucam, e fazem disso uma questão de oposição e crítica ao governo, mas o fato é que, em todas as instâncias, em todos os tribunais a que apelaram via PSDB e DEM, para acabar com as cota, foram derrotados.

As cotas são hoje uma realidade e nem por isso o Brasil acabou ou entrou em declínio. Ao contrário, mais e mais talentos juntam-se à obra da construção de um país mais justo e de todos.

E você, meu amigo bongoroviano, no silêncio de seu túmulo, não acharia justas as políticas afirmativas?




Prof. Péricles

quarta-feira, 13 de março de 2013

CRISES E ATITUDES



Ninguém face à crise pode ficar indiferente. Urge uma decisão e encontrar uma saída libertadora. É aqui que se encontram várias atitudes para ver qual delas é a mais adequada a fim de evitarmos enganos e desilusões.

A primeira é a dos catastrofistas: a fuga para o fundo: estes enfatizam o lado de caos que toda crise encerra. Vêem a crise como catástrofe, decomposição e fim da ordem vigente. Para eles a crise é algo anormal que devemos evitar a todo custo. Só aceitam certos ajustes e mudanças dentro da mesma estrutura. Mas o fazem com tantos senões que desfibram qualquer irrupção inovadora.

Contra estes catastrofistas já dizia o bom Papa João XXIII referindo-se à Igreja mas que vale para qualquer campo: “A vida concreta não é uma coleção de antigui¬dades. Não se trata de visitar um museu ou uma academia do passado. Vive-se para progredir, embora tirando proveito das experiências do passado, mas para ir sempre mais longe.”

A crise generalizada não precisa ser uma queda para o abismo. Vale o que escreveu um suíço que muito ama o Brasil, o filósofo e pedagogo Pierre Furter: “Caracterizar a crise como sinal de um colapso universal, é uma maneira sutil e pérfida dos poderosos e dos privilegiados de impedirem, a priori, as mudanças, desvalorizando-as de antemão”.

A segunda atitude é a dos conservadores: a fuga para trás. Estes se orientam pelo passado, olhando pelo retrovisor. Ao invés de explorar as forças positivas contidas crise atual, fogem para o passado e buscam nas velhas fórmulas soluções para os problemas novos. Por isso são arcaizantes e ineficazes.

Grande parte das instituições políticas e dos organismos econômicos mundiais como o FMI, o Banco Mundial, a OMC, os G-20, mas também a maioria das Igrejas e das religiões procura dar solução aos graves problemas mundiais com as mesmas concepções. Favorecem a inércia e freiam soluções inovadoras.

Deixando as coisas como estão fatalmente nos levarão ao fracasso senão a uma crise ecológica e humanitária inimaginável. Como as fórmulas passadas esgotaram sua força de convencimento e de inovação, acabam transformando a crise numa tragédia.

A terceira atitude é a dos utopistas: fuga para frente. Estes pensam resolver a situação-de-crise fugindo para o futuro Eles se situam dentro do mesmo horizonte que os conservadores apenas numa direção contrária. Por isso, podem facilmente fazer acordos entre si.

Geralmente são voluntaristas e se esquecem que na história só se fazem as revoluções que se fazem. O último slogan não é um pensamento novo. Os críticos mais audazes podem ser também os mais estéreis. Não raro, a audácia contestatória não passa de evasão do confronto duro com a realidade.

Circulam atualmente utopias futuristas de todo tipo, muitas de caráter esotérico como as que falam de alinhamento de energias cósmicas que estão afetando nossas mentes. Outros projetam utopias fundadas no sonho de que a biotecnologia e a nanotecnologia poderão resolver todos os problemas e tornar imortal a vida humana.

Uma quarta atitude é a dos escapistas: fogem para dentro. Estes dão-se conta do obscurecimento do horizonte e do conjunto das convicções funda¬mentais. Mas fazem ouvidos moucos ao alarme ecológico e aos gritos dos oprimidos. Evitam o confronto, preferem não saber, não ouvir, não ler e não se questionar. As pessoas já não querem conviver. Preferem a solidão do indivíduo mas geralmente plugado na internet e nas redes sociais.

Por fim há uma quinta atitude: a dos res-ponsá-veis: enfrentam o aqui e agora. São aqueles que elaboram uma resposta; por isso os chamo de responsáveis. Não temem, nem fogem, nem se omitem, mas assumem o risco de abrir caminhos. Buscam fortalecer as forças positivas contidas na crise e formulam respostas aos problemas. Não rejeitam o passado por ser passado. Aprendem dele com um repositório das grandes expe¬riências que não devem ser desperdiçadas sem se eximir de fazer as suas próprias experiências.

Os responsáveis se definem por um a favor e não simplesmente por um contra. Também não se perdem em polêmicas estéreis. Mas trabalham e se engajam pro-fundamente na realização de um modelo que corresponda às necessidades do tempo, aberto à crítica e à autocrítica, dispostos sempre a aprender.

O que mais se exige hoje são políticos, líderes, grupos, pessoas que se sintam responsáveis e forcem a passagem do velho ao novo tempo.

Leonardo Boff


domingo, 10 de março de 2013

CUBA E SUA LUTA




Podemos discordar do regime político de Cuba, que se mantém sob o domínio de um partido único. Mas é preciso seguir o conselho de Spinoza: não lisonjear, não detestar, mas entender. Entender, ou procurar entender. A história de Cuba – como, de resto, de quase todo o arquipélago do Caribe e da América Latina – tem sido a de saqueio dos bens naturais e do trabalho dos nativos, em benefício dos colonizadores europeus, substituídos depois pelos anglo-saxões.

E, nessa crônica, destaca-se a resistência e a luta pela soberania de seu povo não só contra os dominadores estrangeiros, mas também contra seus vassalos internos.

Já se tornou lugar-comum lembrar que, sob os governos títeres, Havana se tornara o maior e mais procurado bordel norte-americano. A legislação, feita a propósito, era mais leniente, não só com o lenocínio, e também com o jogo, e os mais audazes gângsteres de Chicago e de Nova Iorque tinham ali seus negócios e seus retiros de lazer. E mais: as mestiças cubanas, com sua beleza e natural sensualidade, eram a atração irresistível para os entediados homens de negócios dos Estados Unidos.

A Revolução Cubana foi, em sua origem, o que os marxistas identificam como movimento pequeno burguês. Fidel e seus companheiros, no assalto ao Quartel Moncada – em 1953, já há quase 60 anos – pretendiam apenas derrocar o governo ditatorial de Fulgêncio Batista, que mantinha o país sob cruel regime policial, torturava os prisioneiros e submetia a imprensa a censura férrea. A corrupção grassava no Estado, dos contínuos aos ministros. O enriquecimento de Batista, de seus familiares e amigos, era do conhecimento da classe média, que deu apoio à tentativa insurrecional de Fidel, derrotada então, para converter-se em vitória menos de seis anos depois. Os ricos eram todos associados à exploração, direta ou indireta, da prostituição, disfarçada no turismo, e do trabalho brutal dos trabalhadores na indústria açucareira.

Foi a arrogância norte-americana, na defesa de suas empresas petrolíferas, que se negaram a aceitar as novas regras, que empurrou o advogado Fidel Castro e seus companheiros, nos dois primeiros anos da vitória do movimento, ao ensaio de socialismo. A partir de então, só restava à Ilha encampar as refinarias e aliar-se à União Soviética.

Os norte-americanos, sob o festejado Kennedy – que o reexame da História não deixa tão honrado assim –, insistiram nos erros. A tentativa de invasão de Cuba, pela Baía dos Porcos, com o fiasco conhecido, tornou a Ilha ainda mais dependente de Moscou, que se aproveitou do episódio para livrar-se de uma bateria norte-americana de foguetes com cargas atômicas instalada na Turquia, ao colocar seus mísseis a 100 milhas da Flórida, no território cubano.

A solução do conflito, que chegou a assustar o mundo com uma guerra atômica, foi negociada pelo hábil Mikoyan: Kruschev retirou os mísseis de Cuba, e os Estados Unidos desmantelaram sua bateria turca, ao mesmo tempo em que assumiram o compromisso de não invadir Cuba, mas mantiveram o bloqueio econômico e político contra Havana. Enfim, ganharam Moscou e Washington, com a proteção recíproca de seus espaços soberanos – e Cuba pagou a fatura com o bloqueio.

O malogro do socialismo cubano nasceu desse imbróglio de origem. Tal como ocorrera com a Rússia Imperial e com a China, em movimentos contemporâneos, o marxismo serviu como doutrina de empréstimo a uma revolução nacional. O nacionalismo esteve no âmago dos revolucionários cubanos, tal como estivera entre os social-democratas russos, chefiados por Lênin e os companheiros de Mao.

Os cubanos iniciaram reformas econômicas recentes, premidos, entre outras razões, pelo fim do sistema socialista. Ao mesmo tempo tomaram medidas liberalizantes, permitindo as viagens ao exterior de quem cumprir as normas habituais. É assim que visita o país a dissidente Yoani Sanchez (que mantém seu blog na internet de oposição ao governo cubano) e é reverenciada pelos setores de direita. Ocorre que ela não é tão perseguida em Havana como proclama e proclamam seus admiradores.

Tanto assim é que, em momento delicado para a Ilha, quando só pessoas de confiança do regime viajavam para o exterior, ela viveu dois anos na Suíça, e voltou tranquilamente para Havana.

É seu direito dizer o que quiser, mas não podemos tolerar que exija do Brasil defender os direitos humanos, tal como ela os vê, em Cuba ou alhures. Um dos princípios históricos do Brasil é o da não interferência nos assuntos internos dos outros países.

O problema de Cuba é dos cubanos, que irão resolvê-lo, no dia em que não estiverem mais obrigados a se defender da intervenção dos estrangeiros, que vêm sofrendo desde que os espanhóis, ainda no século 16, ali se instalaram. Foram substituídos pelos Estados Unidos, depois da guerra vitoriosa de Washington contra o frágil governo da regente Maria Cristina, da Espanha. Enfim, o generoso povo cubano, tão parecido com o nosso, não teve, ainda, a oportunidade de realizar o seu próprio destino, sem as pressões dos colonizadores e seus sucessores.

Dispensamos os conselhos da senhora Sanchez. Aqui tratamos, prioritariamente, dos direitos humanos dos brasileiros, que são os de viver em paz, em paz educar-se e em paz trabalhar, e esses são os direitos de todos os povos do mundo. Ela, não sendo cidadã de nosso país, não deve, nem pode, exigir nada de nosso governo ou de nosso povo. Dispensamos seus avisos mal-educados e prepotentes, e esperamos que seja festejada pela direita de todos os países que visitará, à custa de seus patrocinadores – como o Instituto Millenium –, iludidos pelo seu falso prestígio entre os cubanos.

Por Mauro Santayana, via Jornal do Brasil

quarta-feira, 6 de março de 2013

HUGO CHAVES, NASCE O MITO



Gostaria de acreditar que enquanto a maioria absoluta dos venezuelanos chora copiosamente a “morte” de Hugo Rafael Chávez Frías não existe quem a esteja comemorando. Entretanto, não me iludo. Apesar de ser um homem de paz que nunca revidou com violência a violência que sofreu nos idos de abril de 2002, Chávez era odiado com fervor por uma minoria.

Seus inimigos não o combateram por seus defeitos, que, como qualquer ser humano, deveria ter muitos. Não, não. Ele foi combatido por suas qualidades, porque sua obra – que ultrapassou as fronteiras de seu país – tornou o mundo mais justo e a vida dos compatriotas desvalidos menos penosa.

Foi chamado de “ditador”, mas nenhum governante das três Américas jamais se apresentou tantas vezes ao voto popular limpo e inquestionável quanto ele. De 1999 até o ano passado, incontáveis foram as eleições que venceu sem que nunca um só questionamento à lisura dos processos eleitorais que lhe deram as vitórias tenha sido sequer levado a sério.

Chávez logrou fazer da Venezuela a campeã das Américas em redução da pobreza e da desigualdade social. Sua obra social, como não podia ser atacada por conta de êxitos como o de tornar o seu país o segundo da América Latina, ao lado de Cuba, a extirpar a chaga do analfabetismo, foi ignorada pela mídia internacional e até pela venezuelana.

Nunca me esquecerei de uma viagem que fiz à Venezuela em 2007, quando fui a um dos morros que cercam Caracas e, em visita ao uma unidade do programa social de Chávez que acabou com o analfabetismo, vi adolescentes e até adultos recém-alfabetizados estudando a constituição do país.

Mas a obra de Chávez extrapolou as fronteiras de seu país natal. A revolução bolivariana se espalhou pela América Latina. Sua influência mais forte tem sido sentida na Argentina, na Bolívia e no Equador, com um modelo revolucionário que reformou constituições e democratizou a comunicação de massas.

Perto da redução da pobreza, da miséria e da desigualdade que Chávez promoveu, a que conseguimos no Brasil, em comparação proporcional, não lhe chega nem aos pés. Isso porque, com risco da própria vida e sacrificando a paz pessoal, ele comprou brigas com poderes imensuráveis que, se não tivesse comprado, teria tido uma vida mais fácil no poder.

Dolorosamente, a morte física de Chávez será explorada de forma nauseabunda por multibilionários das mídias de ultradireita que infestam esta parte do mundo. Tentarão culpa-lo pela própria morte. Em lugar de destacarem sua obra, destacarão o processo sucessório na Venezuela.

A esses, digo que se antes tinham poucas chances de derrotar esse herói latino-americano, esse verdadeiro patrimônio da humanidade, agora suas chances são nulas, morreram fisicamente com ele, que acaba de renascer. Hugo Rafael Chávez Frias renasceu, chacais da miséria humana. Tornou-se um mito que os assombrará até o fim dos tempos.

Morto fisicamente, Chávez adquiriu poderes que nem todos os editoriais, colunas, telejornais ou reportagens mal-acabadas da Terra conseguirão equiparar. Sua verdadeira história só agora começará a ser contada às gerações futuras, mostrando que quando um homem devota sua vida ao bem comum como ele fez, torna-se imortal.

Descanse em paz, Hugo.

Por Eduardo Guimarães
Pátria Latina – 06/03/2013

segunda-feira, 4 de março de 2013

HABEMUS PAPAM



Estamos vivendo aquela expectativa natural, na escolha de um novo Papa.

Agora vem o isolamento, a espera, a nuvem negra quando ainda não escolheram, e branca quando já foi escolhido o novo Papa.

Muita gente anda dando seus “chutes” e fazendo suas apostas na nacionalidade do futuro Pontífice e eu entrei na onda.

Imagina, por exemplo, se o Papa for brasileiro.

Dezenas de brazucas enrolados na bandeira do Brasil, alguns segurando um cartaz “Eu Já Sabia”. Hino nacional brasileiro a todo pulmão na Praça de São Pedro.

Antes mesmo de receber o Anel do Pescador o novo papa aparece no programa “E Agora papa?”.

Aliás, a televisão iria protagonizar os momentos mais emocionantes.

Já pensou a Globo querendo adquirir os direitos exclusivos da Missa do Galo...

Xuxa fazendo carinha de sofrida cantando uma música emocionante (e irritante) acompanhada por um coral de crianças contra a pedofilia...

Pedro Bial promovendo o primeiro BBB direto da Basílica de São Pedro chamando os cardeais de “meus heróis”.

Na música, com certeza, apareceriam “As Papetes” nova banda de Funck composta de gostosas seminuas cantando “Excomunga, excomunga a Vagabunda”.

Claro que haveria o uso político do Papa brasileiro.

Os conservadores diriam que o Papa é a cara da tradicional família brasileira e dos valores cristãos contra esses “esquerdistas” admiradores de Cuba e de Chaves.

A galera progressista convidaria o companheiro Papa para distribuir pessoalmente os recursos da Bolsa Família entre os mais necessitados, com transmissão ao vivo, claro.

Com certeza não faltariam boatos de que o Papa iria virar símbolo de algum partido nanico.

Quer saber? Melhor não pensar nessa possibilidade. Um papa brasileiro não!!

Seria mais interessante que o novo Papa fosse da África. O candidato de Gana está bem cotado, mas isso não quer dizer muita coisa. Um Papa africano seria o primeiro Papa negro da história e isso daria voz a inúmeras comunidades que jamais passaram da sala de espera do Vaticano.

Um Papa do Líbano, único país majoritariamente católico do Oriente Médio ou do Egito copta, seria bem representativo.

Não sei... mas depois de dois papas não italianos, se fosse apostar eu apostaria que o próximo papa será da Itália.

Qualquer que seja a nacionalidade, que seja um Papa progressista, capaz de levar a Igreja pelos caminhos necessários da mudança, da modernidade e principalmente, da democratização.

Um Papa que faça a Igreja Católica ouvir o clamor de seus fiéis que esperam por novos ares em sua fé.

Mas um papa brasileiro não, por favor... Galvão Bueno narrando a via-sacra, Nãããão!

Prof. Péricles




sábado, 2 de março de 2013

O TREM DAS ESTRELAS



Estavam todos suavemente acomodados. Alguns olhavam para o lado de fora como a catar recordações perdidas. Outros conversavam no balanço das horas.

Num espaço mais a frente aquele senhor muito magro, calvo, de óculos de lentes redondas, e de trajes longos, pacientemente falava a um grupinho, sobre a importância da não-agressão, mesmo quando se é agredido.

- “Principalmente nessas horas, dizia Gandhi, devemos manter a serenidade. Não é preciso aniquilar pela força com o invasor, basta não obedecê-lo para tornar inviável a dominação dos brutos”.

O que o senhor acha presidente? – alguém perguntou.

Lincoln, até então muito compenetrado, ajeitou a cartola, que mesmo assim permaneceu torta, e esfregando a barba respondeu:

- “Bem, no meu caso para manter a paz eu tive que ir a Guerra. Não se tratava de lutar contra a dominação e sim de impedir uma divisão. Também tive que trapacear para aprovar a 13ª Emenda, coisa que nosso Gandhi, claro que não concordaria, mas, às vezes é assim mesmo, temos que ter força para manter a paz”.

Ao ouvir essas palavras, um homem negro, o mais jovem do grupo, se aproximou e com um sorriso franco no rosto, Martim Luther King pôs um braço sobre os ombros de Lincoln, que acabara de silenciar, e complementou:

- “Verdade meu Presidente, às vezes é preciso pressionar, como fizemos com mais de 300 mil participantes na Marcha Sobre Washington, mas também concordo com nosso Mahatma quando afirma que a paz, a não-agressão também possui seus resultados inquestionáveis. Enfim, pela paz e pela liberdade temos todos nossas razões e nossos sonhos. Eu pelo menos tenho um sonho”. E todos riram gostosamente com a sacada do Pastor King.

Inclusive aqueles dois que não param de tagarelar, apontou o Gandhi negro.

Quem são perguntou alguém.

- Ithzak Rabin e Yasser Arafat.

- “Claro disse Lincoln, eles representavam dois povos que se odeiam visceralmente e estavam praticamente selando a paz quando foram assassinados. Talvez por isso não parem de falar ao infinito, sobre a violência que poderia ser evitada e como seria possível construir um Oriente Médio pacífico.”

Mais barulhento ainda é aquele grupo comenta um anjinho gorducho que estava calado... estão no fundo do vagão como se fossem clandestinos fazendo uma espécie de reunião.

- “E é uma Reunião disse Chico Mendes... são meus compatriotas do PCB – Partido Comunista Brasileiro... gente que sempre foi contra a luta armada e defendeu a luta política pacífica contra a Ditadura Militar brasileira, mas que foi impiedosamente perseguida e morta por uma tal de Operação Radar dos órgãos da Repressão.”

Puxa cochichou um anjinho com a asa amassada, todos nesse trem defendiam a paz e por isso foram mortos...

Sim, sussurrou outro anjo, com um colar de hippie, todos foram assassinados, todos vítimas da violência que combatiam.

É mesmo disse o asinha amassada. O mundo teima em matar os que defendem a paz. Eliminam a tiros e de todas as formas os pacíficos enquanto tornam heróis os agentes da guerra e da violência.

- "Sim, retornou o do colar de hippie, isso faz parte da estúpida história humana e de sua ânsia de exploração da própria espécie. Os que morrem dessa forma absurda acabam vindo pra cá, para esse trem da paz entre as estrelas para que continuem brilhando pois a mensagem da paz jamais acaba, ela apenas se transforma... A vitória da violência é apenas aparente, pois mesmo matando os homens jamais se matará a idéia e outros homens empunharam a bandeira... Mas o que é que você olha tanto criatura?"

Bem, fala o gorduchinho, sem virar o rosto, é que estou tentando lembrar de onde conheço o maquinista, aquele moço cabeludo e de barbas com aquelas enormes feridas nas mãos.

Passageiros Ilustres:

- Mohandas Karamchand Gandhi: Morto a tiros em 30 de janeiro de 1948 por um hindu radical. Gandhi fez uma revolução sem violência e libertou seu país, a Índia.

- Abraham Lincoln: Morto com um tiro na cabeça por um ator e espião confederado em 14 de abril de 1865. Presidente que estancou a violência da escravidão nos EUA.

- Martim Luther King: Morto a tiros em 04 de abril de 1968 quando se encontrava na sacada de seu quarto de hotel por um racista fanático, em Memphis. Na luta pelo fim da segregação racial em seu país, King superou os líderes que defendiam o uso da violência.

- Itzak Rabin: herói de guerra e premiê israelense assassinado por um radical de direita contrário à paz com os palestinos, no dia 4 de novembro de 1995, minutos antes participara de um comício pela paz na Praça dos Reis, em Israel.

- Yasser Arafat: Líder maior do povo palestino, junto com Rabin ganhou o prêmio Nobel da Paz de 1994. Morto em 11 de Novembro de 2004, sabe-se hoje, em decorrência de anos de contínuo envenenamento realizado pelos serviços secretos israelenses.

- Francisco Alves Mendes Filho (Chico Mendes): ativista que lutava pela preservação da floresta Amazônica e pela manutenção da paz entre seringueiros e grileiros no Acre, morto em 22 de dezembro de 1988, com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa.

Prof. Péricles