terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O QUE DIZEM OS GATOS



Num certo momento os persas estavam próximos de estruturar o primeiro império conhecido da história. Para consolidar seu poder, após a conquista da Babilônia e da Palestina, seu imperador, Cambises considerou fundamental ampliar seu território às terras mais distantes do Egito. Com essa conquista estaria fechado um arco de dominação que se estenderia no planalto do Irã e das terras férteis do atual Iraque até o nordeste da África, dominando as principais rotas comerciais.

Assim, confiante e decidido, Cambises invadiu o Egito no ano de 525 a.C.

Governava o Egito o jovem faraó Psamético III, que reinava a pouco mais de cinco meses quando morrera seu pai. Marchou com suas tropas ao encontro do invasor encontrando-os na decisiva batalha de Pelusa (ou Pelúsio).

Psamético esperava receber apoio naval e terrestre dos Gregos, mas esse reforço jamais chegou até o faraó.

A batalha foi muito fácil para os persas.

Enquanto as tropas egípcias eram comandadas por um inexperiente faraó, os persas contavam com uma raposa no comando.

Segundo o historiador Heródoto, Cambises além de possuir soldados veteranos em combate e bem treinados, ainda fez uma aliança com tribos nômades que não só deixaram de ajudar as tropas de Psamético como ainda auxiliaram os persas.

Heródoto afirma que, Cambises ordenou que vasta quantidade de gatos fosse colocada à frente de suas tropas e amarrados em seus carros de guerra. Além disso, determinou que fosse pintada a figura de Bastet,o deus-gato dos egípcios, em seus escudos.

Temerosos de atingir os animais sagrados e de cometer algum tipo de sacrilégio, as tropas egípcias foram totalmente envolvidas e a batalha terminou num massacre. As baixas do Egito teriam sido de mais de 50 mil homens entre mortos, feridos e desertores.

Psamético III recuou com o que restou de suas forças para a cidade de Mênfis, mas não suportou por muito tempo o cerco de Cambises e acabou se rendendo ao invasor.

A Batalha de Pelusa demonstrou como é necessário conhecer o inimigo para poder vencê-lo. Cambises estudou os egípcios e assim, conhecia seus pontos fracos e suas crenças, seu amor aos gatos e o temor ao deus-gato.

Começou a vencer a batalha antes mesmo de sua realização.

Essa lição deveria ser melhor compreendida, por exemplo, pela oposição política brasileira.

Derrotada nas últimas três eleições presidenciais, os partidos de oposição ameaçam repetir seus erros não trazendo nada de novo ao debate político nacional.

Se quiser ter alguma chance nas urnas ano que vem, é fundamental que a oposição ao atual governo abandone táticas totalmente superadas, como alianças de última hora para a construção de uma espécie de salvador da pátria.

A internet promoveu uma silenciosa transformação entre o eleitorado brasileiro, ainda não completamente compreendida. Não basta mais o apoio tácito da mídia para formar opinião. A maioria das pessoas estão melhor informadas graças ao acesso a inúmeros novos mecanismos de informação.

Tão pouco adianta para a oposição bater nas conquistas sociais tipo Bolsa Família ou afirmar que o país está mal e a beira do precipício se as pessoas estão empregadas e recriando uma classe média que nunca consumiu tanto.

Muito menos adianta insistir que o PT inventou a corrupção no Brasil. O povo sabe muito bem que isso não é verdade e lembra que outros governos, inclusive de quem hoje usa o dedo acusador, fizeram o mesmo ou pior do que os mensaleiros.

Se a oposição no Brasil quiser ter chances nas eleições de 2014, deveria entender melhor porque o governo do PT agrada tanto ao povão e depois de bem compreendida a lição, partir para propostas reais e palpáveis de fazer melhor.

O Brasil precisa de uma oposição melhor, mais objetiva e realista que contribua de fato com um debate sério e realista. É necessário à saúde política do país que a oposição seja menos Psamético.

Seria conveniente colocar alguns gatos que o PT teme, à frente de suas tropas, como por exemplo, cadê a reforma agrária que era prometida pelo partido e por Lula? Cadê a participação popular nas decisões?

A melhor forma de combater o personalismo é inserindo as organizações populares nas discussões e decisões políticas ao invés de apenas denunciar o populismo.

Talvez esteja faltando estratégia a quem faz oposição no Brasil.

Certamente estão faltando gatos no seu arsenal e Cambises entre suas lideranças.



Prof. Péricles






sábado, 11 de janeiro de 2014

BELZEBU E A BABILÔNIA


Os povos mesopotâmios habitavam uma das regiões mais férteis de seu tempo, e, em seu tempo isso decidia tudo. Boas terras irrigadas eram mais valiosas, muito mais valiosas, do que as ricas terras petrolíferas da atualidade.

Ter uma terra assim favorecia a agricultura e permitia a sobrevivência.

Por isso mesmo era cobiçada por todos os povos, e todos aqueles que se sentiam minimamente equipados para uma guerra a invadiam. Claro que, para não serem expulsos, os povos que ali habitavam resistiam de todas as formas e as guerras se prolongavam.

Tão antigos quanto os Egipcios, os povos da Mesopotâmia desenvolveram uma escrita que rivaliza com os hieroglifos em antiguidade.

De tantas guerras, os babilônio aprenderam desde cedo que era muito fácil morrer. Seus pais morreram jovens e eles também morreriam pois esse parecia ser o preço de morar num paraíso tão invejado.

Como era fácil morrer cresceu um forte sentimento de apego à vida e aos prazeres e as terras douradas entre os rios Tigre e Eufrates viram florescer povos que adoravam festas e a alegria, fato refletido em sua cultura, especialmente em sua religião.

Os Babilônios não acreditavam na continuação da vida após a morte. Para eles, apenas os deuses eram eternos. Então, aos prazeres, enquanto possível!

Assim o exigiam seus deuses, como Marduque e Baal e deusas como Ishtar.

Baal era tão apegado nos prazeres da carne, no sexo, drogas e rock in rol que provocava escândalos nos hebreus, um povo tradicionalmente mais exposto aos conceitos de pecado e virtudes. Aliás, de Baal derivou-se a palavra Belzebaal, depois Belzebu, o demônio entre os semitas.

Esses escândalos abalavam tanto seus vizinhos que, o povo de Baal tornou-se símbolo de pecado e de perdição. Alguns dos mais poderosos ícones bíblicos como Belzebu, a Torre de babel, Sodoma e Gomorra, localizavam-se segundo as escrituras, nessas terras periodicamente inundadas pelo Tigre e pelo Eufrates.

Provavelmente os pais do “povo de deus” ensinavam os filhos a se afastarem das mulheres babilônicas adoradoras de Ishtar.

Ishtar era a deusa do amor, mas não do amor mãos dadas e olhinhos piscantes, mas do amor barra pesada, que incluía variadas formas e posições. Ishtar, senhora do sexo e do prazer feminino. Todos os sacerdotes de Ishtar eram homossexuais (cultuados e não discriminados) e em homenagem a essa deusa se celebrava, uma vez por ano, a “prostituição Sagrada” quando toda mulher solteira ou casada, deveria praticar a prostituição, exigir pagamento, e especialmente, exigir prazer. Obviamente os maridos não estavam incluídos na clientela.

Num tempo em que o prazer sexual era, praticamente, monopólio masculino, esse povo brilhante, parece ter entendido a necessidade da realização sexual da mulher para manter o casamento e a família.

Para eles, a morte precoce era inevitável, mas o prazer, uma opção.


Prof. Péricles

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A ESCOLHA DE D. PEDRO


O Brasil começou a se emancipar de Portugal, de fato, em 1808, quando a sede do governo português transferiu-se para a colônia e é declarada a “abertura dos portos brasileiros às nações amigas” o que, na prática queria dizer, Inglaterra.

O processo de emancipação que uniu interesses de nossa elite com as elites inglesas se fortaleceu com o Tratado de Stragford em 1810 e a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido em 1815.

Em 1822, a independência política era absolutamente inevitável e irreversível.

Porém, algumas coisas muito importantes ainda deviam ser bem esclarecidas. Por exemplo, quem lideraria o processo de rompimento definitivo?

Para os latifundiários brasileiros o ideal era que fosse o Príncipe regente D. Pedro, visto que, dessa forma poderia ser mantida a forma monárquica de governo e, por extensão, manter a escravidão.

Não fosse D. Pedro, seria outro, porém, exigiria outras manobras para manter o sistema escravagista.

Claro, que em tudo isso ainda haveria a vontade pessoal do Regente.

Iria querer D. Pedro proclamar a independência do Brasil? Isso o faria Imperador da jovem nação, mas, representaria a perda dos direitos à sucessão de seu pai, D. João VI, ao trono português.

Toparia D. Pedro trocar o trono de Portugal pelo trono do Brasil?

A resposta ocorreu em 9 de janeiro de 1822 (essa semana completou 192 anos).

Nesse dia, D. Pedro, então um jovem de 23 anos, deveria fazer sua escolha. De um lado haviam decretos estabelecidos pelas Cortes de Lisboa exigindo seu retorno imediato. De outro, um abaixo-assinado contando mais de 8 mil assinaturas para que ficasse.

A decisão de D. Pedro nesse dia foi muita mais importante para ele próprio, sua carreira e seu futuro, do que pra a independência do Brasil, apesar do que dizem os livros didáticos de história.

A escolha foi a melhor para ele?

Ao menos em relação ao tempo em que foi rei ocorreu uma incrível coincidência.

No Brasil D. Pedro acabou proclamando a independência e se tornando o primeiro Imperador do país. Governou apenas 8 anos e 7 meses de setembro/1822 a abril/1831.

Se não tivesse o dia do Fico e ele retornasse para Portugal, vindo a ser o futuro rei com a morte de seu pai, D. João VI ocorrida em março/1826 e considerando que, ele próprio, D. Pedro, faleceu em setembro de 1834, seu governo duraria 8 anos e 6 meses.

Igualite.


Prof. Péricles

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ANÁLISE 2013: MOVIMENTO DE JUNHO NÃO TEM DONO



O ano de 2013 destruiu velhos conceitos conservados com o vinagre do mau humor acerca do comportamento do brasileiro, especialmente dos jovens, que seria marcado pela apatia, sendo, por isso mesmo, um povo (uma juventude) alienado e facilmente manipulável.

Pois, o grande fato do Brasil, em 2013, foi justamente, o povo, a partir de sua juventude, nas ruas.

Ao que parece (a falta de certezas é característico no que aconteceu) tudo começou com um movimento de protesto em relação ao preço do transportes urbanos. Surgiu até uma organização, mais ou menos organizada, denominada de MPL – Movimento pelo Passe Livre, que buscou capitanear as ações iniciais.

Mas, o movimento engrossou, e, de repente, em suas fileiras surgem novos elementos e novas reivindicações, ao que tudo indica, sem uma pauta previamente delineada.

Contra a corrupção em geral, contra a PEC 37, contra a Cura Gay, contra a Copa do Mundo no Brasil, contra a mídia oficialista, contra a violência, etc.

Iniciando em São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, Manaus, Belo Horizonte e sendo, reprimidas com violência pela polícia, as Marchas espalharam-se por todo território nacional provocando a perplexidade das autoridades que hesitam entre reprimir e consentir.

Tudo ocorreu de forma muito ligeira e, aparentemente, espontânea, tanto que, tapou de ridículo muitos pseudo-intelectuais que tentaram definir e reduzir o movimento a algo que fosse mais apetecível aos seus “profundos conhecimentos e arraigadas certezas”.

Teve até “comentarista” de tele-jornal virando celebridade internacional por sua estupidez, sendo mostrado criticando tudo aquilo de forma jocosa e com desdém num dia e sendo obrigado a pedir desculpas no dia seguinte.

Os movimentos de rua de junho no Brasil destruíram convicções e conceitos. Quanto mais se tentava defini-lo, mais indefinições eles apresentavam.

Além de expor estúpidos que se acham intelectuais expôs intelectuais de conceitos estúpidos. Numa velocidade acima do que as idéias podiam compor apresentou novos atores e caminhos.

Acima de tudo, os movimentos de rua de junho de 2013 não tiveram dono. Alguns tentaram assumir a paternidade e utilizá-la como instrumento partidário de oposição ao governo federal, mas a jogada gorou.

Foram movimentos de esquerda, nos moldes anarquistas de questionar a ordem burguesa constituída, onde os Black Bloc (encapuzados que partiam para o conflito e o quebra-quebra) eram a ponta, ou movimentos de direita, nos moldes fascistas onde os Black Bloc representavam o extremismo em busca da violência gratuita?

Houve alguma ligação externa com outros movimentos do tipo “Primavera Árabe”, “Protestos da Turquia” (que foram na mesma época), “Occupy Wall Street”?

Se tudo isso beneficiará opositores do atual governo, o quanto pesará nas próximas eleições e se haverá movimentos similares, teremos que aguardar 2014 para fazer qualquer análise.

Ainda para serem respondidas essas e outras perguntas, fica a certeza de que, os movimentos populares de junho, com manifestações em quase 500 cidades brasileiras, incluindo todas as capitais e que moveu milhões de brasileiros, foi o grande fato político do ano.


Prof. Péricles







domingo, 5 de janeiro de 2014

DAI A CESAR O QUE É DE CESAR



Um fato marcou tanto os Evangelistas que acabou sendo relatado, não por um, mas por três deles (Mateus 22:15-22, Marcos 12:13-17 e Lucas 20:20-26) dá conta que, certo dia, a banda que fazia oposição a Jesus, não tendo nenhum candidato capaz de ameaçar sua credibilidade, teve uma ideia genial para deixa-lo na maior saia justa.

Naquela época havia um ódio surdo dos judeus contra o Império Romano, que após conquistar toda a região da Palestina cobrava, como era de praxe de todos as suas províncias, impostos considerados extorsivos. A maracutaia do pessoal da mídia foi o seguinte: no meio de intensa atividade, com Jesus cercado de ouvintes por todos os lados, vigiado até pelo STF dos fariseus, lançaram a seguinte indagação (antes elogiaram Jesus uma barbaridade como é comum nos canalhas): mestre, Roma nos cobra impostos diariamente. Alegam que isso é necessário para a o pagamento da dívida externa do Império, perguntamos ó mestre, é justo que nosso povo sofrido, pague esses tributos sendo que nosso impostômetro já anda pelos dez dígitos?

Veja só que obra-prima de hipocrisia, coisa até parece articulada pelo Dem (não, não o Partido, mas o demônio). Se Jesus diz “Não, de jeito nenhum, o imposto é um abuso” ele seria dedurado como esquerdista, subversivo (ou terrorista, expressões que essa turma adorava) e que estaria preparando uma guerrilha urbana para expulsar os bons romanos da terra santa e Guerrilha urbana, todos sabem, é coisa de comunista. Jesus, provavelmente seria preso.

No entanto, se ele dissesse que era justo, que o imposto voltaria como investimentos sociais do governo, a turma do DEM o chamaria de populista, defensor de vagabundos e de Bolsa Invasor e, ainda por cima o taxariam de traidor de seu próprio povo.
E agora pensaram os apóstolos... game-over?

A multidão se calou. Segundo Marcos dava pra ouvir uma mosca voando.

Jesus, mestre sereno e sábio estende a mão e pede uma moeda. Após examina-la pergunta “de quem é essa cara retratada nessa moeda?” Oh é de Cesar mestre, responderam todos, oposição e situação, e então, complementa o nazareno “pois daí a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”.

Bingo! Perfeito! Ferrou a galera lazarenta do Dem e de outros pássaros.

Numa só frase Jesus destruiu o plano macabro e a pergunta, aparentemente irrespondível, foi amplamente respondida.

O Brasil é um país soberano que não sofre cobrança de tributos de qualquer povo invasor.

Mas temos muitos fariseus em nosso meio. Não só ao pé do monte e sobre as margens dos lagos, mas por todos os lados e em todos os canais.

Esses fariseus já governaram o Brasil em várias outras situações e nunca conseguiram construir nada parecido com uma sociedade mais justa, como apregoava Jesus.
Mas adoram dar palpites e criar situações negativas.

Aqui 10% da população detém 49% da renda (segundo o IBGE).

Temos não apenas gente que é contra o Bolsa Família como também quer o que é de César, de Paulo, de Maria e de João. O que é meu e o que é de todos.

Gente que quer tudo, concentrar a posse da terra e do capital, comandar as oportunidades e que odeia pagar impostos. Imposto, aliás, segundo os neoliberais, que são os novos fariseus, deveria ser pago apenas por pobres para pagar ações de filantropia.

“Investimentos sociais são intervenções indevidas no estado na economia” dizem, e “para que existe o Criança Esperança?” especulam.

Talvez fosse a hora de alguém pegar nossa moeda, que retrata imagens de nossos animais nacionais, nossa natureza e ecossistemas e lançasse ao ar a indagação: “Afinal, a quem pertence esses tesouros”?

Prof. Péricles



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

ANÁLISE 2013:O XEQUE-MATE DO ANO


O fato marcante na política externa em 2013, pelas suas potencialidades de definição dos tempos futuros foi a surpreendente reversão de expectativas na Síria, ameaçada de ataque pelos Estados Unidos e OTAN, dados como certos e inevitáveis por comentaristas de política externa de nossa mídia.

A Síria acabou não apenas não sendo atacada, como saí fortalecida dos acontecimentos.

Antes, alguns fatos devem ser relembrados:

- o Oriente Médio é a região de maior produção de petróleo no mundo. Acreditam os especialistas que ainda exista petróleo para até o final desse século e, embora muito se tenha investido em fontes alternativas, o petróleo continua e continuará sendo a matriz preferida de produção;

- até por isso, a região tem sido área de intensas disputas políticas e militares onde os Estados Unidos possuem três históricos aliados: Israel, Arábia Saudita e o Kwait. Também tem peso e importância auxiliar o apoio do Iraque, da Turquia e do Egito.

- Rússia e China, potências militares e políticas, possuem penetração menos alicerçada, porém constante, com o apoio do Irã e, e muito especialmente, da Síria.

- os ataques de 11 de setembro de 2001 desencadearam uma reação militarista e beligerante dos Estados Unidos na região. Foram acionadas ações de monta, com ataques pontuais e que, em seu somatório, deveria levar ao controle político e estratégico total do Oriente Médio, como podemos ver:


1. Em 07 de outubro de 2001, os Estados Unidos bombardeiam e invadem o Afeganistão, derrubando os Talibãs, uma quadrilha de sanguinários, do poder. Os talibãs eram aliados, mas não eram completamente confiáveis aos ianques e a desculpa oficial é a procura por Osama Bin Laden. Mas o Afeganistão torna-se um atoleiro em que todos os dias morrem soldados americanos atacados por fantasmas, tornando impossível a retirada do país.

2. Em 20 de março de 2003 os Estados Unidos invadem o Iraque derrubando seu histórico aliado Saddam Husseim (que havia se tornado inimigo ao invadir o intocável Kwait em 1990). Este posto já era seu e a queda de Saddam, além de não acrescentar nada abre uma luta interna que pode levar a maioria xiita que era contida por Saddam, ao poder. Foi, na verdade, um gol contra de George Bush.

3. Em 11 de fevereiro de 2011, nas águas de uma tsuname chamada de Primavera Árabe, os Estados Unidos não conseguem evitar a queda de seu aliado Hosni Mubarak, eterno presidente do Egito. Mas, em 22 de agosto do mesmo ano, usando velhos acordos militares com os aliados ocidentais, conseguem derrubar o antigo inimigo Muamar Kadafi, da Líbia. Embora Kadafi esteja velho e seja um cão (como foi apelidado no passado) que não morde mais, os EUA aproveitam para colocar no poder, aliados que lhe serão úteis numa cartada mais decisiva, a Síria.

Assim chegamos ao ponto. A questão da Síria e as novidades nesse jogo de xadrez.

Embora o governo de Bashar AL-Assad não seja nenhum primor de democracia, possui apoio da maioria da população e representa na região os interesses contrários à Israel e aos Estados Unidos. Assad tem mantido a Síria em paz, num exercício incrível de tolerância, as vezes concedendo aos extremistas islâmicos determinadas demandas, outras aos cristãos, mantendo o controle sobre os xiitas e sunitas, abrigando milhares de refugiados palestinos e impedindo atrocidades.

Os rebeldes ao seu governo foram evidentemente armados e financiados pelo ocidente. O plano parecia óbvio: apoiando os rebeldes e derrubando Assad, mais ou menos como foi com Kadaffi na Líbia, a porta para o ataque final ao Irã (hoje a maior preocupação militar do ocidente) estaria aberta. Juntando-se o apoio territorial da Turquia seria fácil demais. Derrotando o Irã e impondo um governo aliado no lugar dos Aiatolás, o cerco estaria fechado. Game-over. Não haveria mais contestação ao império dos Estados Unidos.

Justamente nesse ponto, quando tudo marchava nesse sentido, Obama já tinha amordaçado o congresso e a opinião pública já estava bem abastecida de fatos que levavam a crer que a Síria é uma potência em armas químicas que matava sua própria gente, e Assad um novo Hitler, surge uma pedra no meio do caminho, chamada Vladimir Puttin.

O mandatário soviético, primeiro, ordenou que navios de guerra e porta-aviões estacionassem na região em evidente recado à Obama. Em seguida, apresentou uma proposta a Bashar AL-Assad (e ao mundo) que desconsertou os americanos. Sob vigilância de especialistas da ONU, o governo Puttin, diretamente, se responsabilizaria pelo desarmamentos sírio de qualquer armamento químico. A Síria aceitou, e o cachimbo de Obama caiu.

O governo americano que não convencera plenamente a opinião pública e nem mesmo os próprios militares da necessidade de um ataque, ficaram, literalmente, sem ação. Não havia como impor uma guerra nessas condições e foram obrigados a recuar.

As conseqüências prometem ser tanto surpreendentes, como radicais.

Arábia Saudita e Kuwait, que apoiavam publicamente um ataque a Síria se desgastaram muito no mundo árabe e perderam preciosos pontos de força e credibilidade.

A Rússia volta a ter um peso respeitável nesse jogo que a China promete acompanhar o movimento.

Uma das surpresas de tudo isso é a incrível reaproximação dos Estados Unidos com o Irã, de governo novo, menos beligerante e mais negociador. Isso implicará no enfraquecimento de Israel e na necessidade desse país de buscar negociações diretas com os palestinos para recuperar espaços.

A política internacional é versátil e no Oriente Médio muda, muitas vezes, com uma velocidade alucinante. O ano de 2014 promete apresentar novidades na região mais conflagrada do globo. Talvez começamos apenas a assistir o desmonte da grande máquina de guerra que os americanos montavam e uma reviravolta no seu plano de dominar a produção de petróleo de forma quase monopolista.

Prof. Péricles