quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O MINUANO SUSSURRA SEU NOME

Local da Morte de Sepé Tiarajú

Em 1750 com a assinatura do tratado de Madri, a região denominada de “Sete Povos das Missões” (noroeste do atual estado do Rio Grande do Sul) passou a fazer parte das terras portuguesas no continente.

Imediatamente, por iniciativa do Marques do Pombal, os Jesuítas de língua espanhola que, vindos da região do Paraguai em 1680, haviam fincados raízes por aqui, construindo às sete missões (São Borja, São Miguel, Santo Ângelo, São João, São Lourenço, São Nicolau e São Luis) foram expulsos para o outro lado do Rio Uruguai.

O fato foi recebido com inevitável resignação pelos padres mas com extrema pavor por seus aliados, os índios Guaranis.

Para os guaranis havia apenas dois tipos de brancos, os Jesuítas que lhes protegiam em troca de sua submissão religiosa e os bandeirantes que os atacavam com armas de fogo e, sempre que possível, os escravizavam, levando para terras distantes.

Para eles, a saída dos Jesuítas significava abandono e escravidão.

Em fevereiro de 1753 uma comissão de demarcadores ao chegar em São Miguel foi impedida pelos índios de seguirem adiante no trabalho de demarcar oficialmente o novo território.

Segundo os relatos, eles eram liderados por um jovem índio chamado Sepé Tiaraju.

Um ano depois, soldados portugueses estacionados no forte de Rio Pardo (atual cidade de Rio Pardo) convidaram, gentilmente, um grupo de guaranis a entrar no forte e ao penetrarem na guarnição foram imediatamente presos.

O oficial em comando acusou o grupo de ter roubado cavalos durante a noite. O líder do grupo de guaranis, Sepé Tiaraju disse saber onde estavam e prometeu ir busca-los. Mesmo escoltado por doze portugueses conseguiu fugir sem deixar rastro, muito menos, os cavalos.

Fatos como esses somado a insistência dos Guaranis de não abandonar a região enfureceram o governo português.

Era inadmissível aceitar a liderança de um selvagem que ousara dizer “Essa terra tem dono” numa afronta intolerável aos novos “senhores” do Continente de Rio Grande.

As “Guerras Guaraníticas” iriam se desenrolar entre os anos de 1754 a 1756.

A primeira expedição, foi organizada em parceria por forças portuguesas e espanholas e chegaram ao Continente no início do mês de setembro de 1754, mas, devido as péssimas condições climáticas de frio e chuvas intensas, tiveram que recuar.

Novas tropas portuguesas vindas do Rio de Janeiro unem-se a tropas espanholas vindas de Buenos Aires e Montevideo no início de 1756.

Algumas escaramuças menores, vencidas pelos índios fariam crescer a lenda do guerreiro invencível.

O desenrolar dos fatos acabaria levando a uma batalha que ambos os lados perceberam ser decisiva, a Batalha de Caiboaté, localidade próxima do atual município de São Gabriel.

Antes, porém, um grupo especial comandado por oficial português, e composto de renegados e desertores, que faziam guerra por dinheiro, recebeu a missão de matar Tiarajú. Não se conhece muitos detalhes, mas, conseguiram atraí-lo para uma emboscada.

O heroico índio foi morto em 7 de fevereiro de 1756, atingido por arma de fogo.

Três dias depois, a 10 de fevereiro, os índios foram forçados a enfrentar as tropas luso-espanholas em Caiboaté.

A morte de seu líder e maior estrategista seria fatal para os nativos.

O chefe dos Guaranis colocou suas forças postadas na forma de uma meia lua, o que enfraqueceu os flancos e fez com que seus homens fossem presas fáceis para o ataque de artilharia (armada até de canhões), além da cavalaria pelos lados.

A batalha de Caiboaté foi tão desigual que durou apenas uma hora e quinze minutos e o sangue indígena derramado foi tanto que formou uma grande pasta de lodo. Os sobreviventes capturados, feridos ou não, eram sumariamente executados.

O exército espanhol perdeu três homens e teve dez feridos. O português, um morto e 30 feridos. Os mortos entre os guaranis foram de 1500 a 1750 guerreiros.

Um militar português o coronel José Custódio de Sá e Faria chegou a escrever em seu diário, no dia 10 de fevereiro de 1756, que “fazia grande compaixão a multidão de mortos”.

A morte de Sepé e a chacina final representaram a derrota definitiva dos índios guaranis, os verdadeiros donos dessas terras.

Em maio de 1756, as tropas coloniais ocuparam os Sete Povos das Missões.

Em 1762 a Espanha voltou atrás e anulou o Tratado de Madri reiniciando a guerra contra os portugueses.

As Missões tornaram-se ruínas.

E Sepé tornou-se lenda e um dos mais fortes mitos na formação do povo rio-grandense.

Até hoje ainda dizem que o Minuano quando percorre as terras do Rio Grande sussurra o seu nome... Tiarajúúúúúúúúúúúúúúúúúú.


Prof. Péricles




segunda-feira, 26 de outubro de 2015

SABIÁS CANTAM, TUCANOS PIAM



Por Moisés Mendes


Panfílio sempre canta antes dos outros sabiás da Aberta dos Morros. No ano passado, começou a cantar no final de agosto. Panfílio é o sabiá guaxo que seu Mércio trata com minhoca servida no bico.


Panfílio vem dando sinais de que está perto de cantar: desaparece por uns dias para remarcar territórios e conferir as sabiás da redondeza.

Na semana passada, Panfílio quase se engasgou com um susto do seu Mércio. Seu Mércio escutava no rádio a entrevista de um ministro do Tribunal de Contas da União. Augusto Nardes dizia que o governo Dilma deu pedaladas como nunca antes. Sempre pedalaram, mas não pedalavam tanto.

Seu Mércio deu um tapa na testa, tastaviou no banco de cortiça e quase pisou no Panfílio.

Imagine, pensou seu Mércio, medir o tamanho das pedaladas e decidir se é pedalada para um pito, para ficar quieto (como sempre ficaram), ou se é para cassar mandato.

Seu Mércio é guarda de rua na zona sul da Capital. Já viu assombração ao meio-dia e já montou mula com cabeça de macaco. Mas nunca na vida ouviu tanta entrevista de um ministro do TCU. Pelo menos aprendeu o que é pedalada, o truque dos governos para manipular contabilidades e maquiar despesas. Dizem que é delito grave, mas só agora.

A oposição torce pela reprovação das contas de Dilma pelo TCU para chegar ao impeachment. Se falhar, sobra a chance de reprovação das contas da campanha de Dilma no Tribunal Superior Eleitoral. Se também não der certo, teria a ilegalidade da dieta de Dilma, importada da Argentina e não regulamentada no Brasil.

Seu Mércio ouve a Rádio Gaúcha da manhã à noite. Do muito que já ouviu, concluiu o seguinte: Aécio quer porque quer ser presidente agora. Mas tem que ser agora. O PSDB perdeu oito eleições, não pode esperar até 2018 e correr o risco de perder mais duas em turno e returno.

Aécio perdeu a eleição para presidente até em Minas, a terra dele, onde não elegeu nem o governador. Por isso quer uma eleição só para ele.

Seu Mércio reflete e põe a minhoca no bico de Panfílio. O sabiá engole a minhoca com os olhinhos fechados. Seu Mércio garante que já viu o sabiá se lamber de faceiro. Ele sabe que Panfílio vai cantar logo. Mas seu Mércio não acredita que Aécio tenha gogó para cantorias antes do tempo.

Até porque tucano pia muito, mas, que se saiba, cantar mesmo, não canta.



Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre/RS




sábado, 24 de outubro de 2015

BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO



Por Tarcísio Lage


Escândalo aqui, escândalo ali, tribunal com juiz acusado de corrupção julgando contas do governo, impeachment já, impeachment é golpe e toma lá um festival de pragas e discussões com xingatórios que assola a internet e até imprensa bem instalada, sem falar dos bancos com seus lucros abundantes e com regateios para conceder um mínimo aumento dos salários de seus empregados.


Mas não é nada disso que me arrepia o cabelo, que aliás, nem os tenho. No entanto, o que me arrepiou mesmo, por dentro e por fora, cabelo onde os tenho e a pele toda da cabeça aos pés, foi a pesquisa da Data Folha do dia 28 de setembro com a pergunta simples e rasteira:


“Você concorda que bandido bom é bandido morto?”


Com o estômago já revirado, li o resultado: empate. Ou, por outra, metade dos mais de 1.300 entrevistados em 84 cidades acima de 100 mil habitantes respondeu sim: bandido bom é bandido morto.


Não se especificou bem o que se entende por bandido. Mas creio que a referência é aos assaltantes saídos das favelas e das comunidades pobres da sociedade e não aos ladrões de colarinho branco trabalhando em escritórios de luxo ou dependências governamentais e vivendo em apartamentos de luxo e palacetes no Leblon, Ipanema, Lago Sul de Brasília, Jardim Paulista e outras pragas paulistanas onde a arte do bom viver é o orgulho máximo da burguesia bem nutrida.


Mas, vá lá, mesmo se a resposta de OK à proposta “bandido bom é bandido morto” coloca todos no mesmo saco – como se a bandidagem fosse como o saco do PMDB onde cabe tudo – eu ainda digo que é algo para vomitar. Ou pior. Para temer. Temer muito.


Quer dizer, então, que metade da população do Brasil, considerando-se eficiente o método de pesquisa da Data-Folha, é a favor de ir matando os bandidos, instalando esquadrões da morte em cada esquina ou armando a população para que se faça um OK Curral a cada instante na Avenida Paulista, na orla do Rio de Janeiro e mais invasões de favelas e comunidades pobres como se já não houvesse o bastante!


No chamado mundo ocidental, o Brasil é um dos poucos países onde ainda existe Polícia Militar, resquício da ditadura.


E tomem nota: só este ano em São Paulo foram mortas pela polícia militar 571 pessoas entre suspeitos de crime e gente inocente por estar no lugar errado e na hora errada.


Mande bala, na lógica de uma polícia já considerada uma das mais violentas do mundo e onde um punhado de bandidos mortos vale por um ou dois inocentes abatidos por engano. Efeitos colaterais, como dizia Rumsfeld quando invadia com Bush e Cheney o Iraque em ruínas.


No entanto, não há guerra no Brasil e as causas da violência urbana têm profundas raízes sociais.


A principal delas é péssima distribuição da renda que faz do país um dos mais injustos do mundo, ainda que a situação tenha melhorado um pouquinho nos últimos anos. E, no entanto, é por causa dessa política de melhor distribuição da renda que a classe media e a direta gritam pelo impeachment ou pela quebra da institucionalidade.


Mas não vamos desviar o assunto. A segunda causa da violência no Brasil é o tráfico de drogas. Isso poderia ser facilmente resolvido liberando-se o comércio de algumas delas com já vem ocorrendo em vários países.


Vale repetir que até a ONU chegou à conclusão da inutilidade da guerra contra as drogas. Há, inclusive, um relatório de 2011 assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito.


No entanto, dois setores são radicalmente contra a liberalização: os traficantes e a polícia, para que continuem com o jogo de gato e rato, numa teia de corrupção e violência.


Enfim, o tráfico é um vasto assunto certamente para um outro artigo. O que nos interessa aqui é ressaltar como ele contribui para o aumento da violência.


Veja, por exemplo, o caso do México, onde os assassinatos na guerrinha suja entre a Polícia, a DEA dos EUA e os carteis são com resquícios de maldade.


Para finalizar. Sugiro que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que encomendou a pesquisa da Data-Folha, peça uma outra para ver quem concorda com essa afirmação: um bandido bom é um bandido recuperado.


O resultado pode decepcionar dado ao avanço ideológico da direita no Brasil.



Tarcísio Lage, jornalista, escritor, começou na Última Hora de Belo Horizonte no início dos anos 60.As Tranças do Poder é seu último livro.




quinta-feira, 22 de outubro de 2015

MONTANHAS AZUIS

Às vezes, dá uma vontade danada de sair em silêncio, escapar do burburinho pelo buraco da fechadura das portas mal-humoradas. Você já percebeu como as portas são mal humoradas? Ao menos as fechadas.

E quando as horas do relógio ditam as fases de nossa rotina... nossa que vontade deixar de existir mesmo existindo!

Será que ao fechar os olhos com as pálpebras bem apertadas a gente fica invisível?

Quando criança funcionava. Pena que a idade adulta nos tire os superpoderes e a gente perceba que jamais se está invisível de si mesmo. Que porcaria!

Triste como a descoberta de que as montanhas azuis não são azuis, mas parecem assim pela distância misturadas com o horizonte.

Por que os rios não secam se dia e noite suas águas vão embora, e se perdem no mar, sendo que a água é recurso não renovável?

E as utopias são renováveis?

A reciclagem das fantasias que um dia fizeram que coubesse todas em nossos sonhos desde dragões até princesas, bruxas e fadas, espadachins e heróis que voam e uma infinidade de criaturas que dormiam, todas, embaixo do travesseiro.

Pra onde vai toda a rebeldia dos dias jovens capaz de destruir exércitos quando os dias jovens dão lugar aos dias velhos?

Como é chato o mundo das coisas sérias.

Horários pra tudo. Dias organizados que não variam e a segunda que sempre vem depois do domingo e o sábado que vem antes dos dois. Ou seria depois?

E essas semanas que se repetem em meses pré-definidos desde o dia do salário, até o próximo salário.

Deveríamos contar o tempo por número de salário e não por anos vividos, e o legal é que muitos, como os milhares de mendigos, ficariam eternamente jovens.

O ano das pessoas sérias é muito chato.

Sempre com 12 meses, feriados marcados, início e fim comemorado sem motivo, sendo que o ano não passa de uma volta que a Terra dá sobre o sol sempre do mesmo jeito, sem nenhuma reboladinha, na mesma velocidade e constância.

Não que eu seja fofoqueiro, mas é o que acontece com a lua que desde 1969, volúvel, deixou de ser dos poetas para ser dos cientistas que a viram nua, tão de perto, mas tão de perto que, pasmem... concluíram que não havia vida nenhuma por lá.

Quanta incapacidade criativa! A culpa não é da lua, é dos cientistas!

Para quem curte a história da vida, do país e das pessoas que habitam esse país, dói profundamente ver gente defendendo a ditadura ou chamando golpe de estado de intervenção.

É por demais chocante entender que as pessoas que se acham sérias considerem justas as diferenças que excluem e só consigam se sentir mais belos se existir feiura e por isso cultivem a feiura fanaticamente. Que necessitem que existam pobres mais pobres para acreditarem que foram competentes e previdentes.

Dilacerante é que existam argumentos endeusando criaturas da pré-história da memória nacional como deputado que se orgulha pelas torturas e defenda pena de morte ou pastores que enriquecem com a manipulação da fé e da ignorância entre os que os procuram.

Se é verdade que o conhecimento liberta, talvez também o seja que o conhecimento machuca, não o conhecimento da vida e da história, mas o conhecimento sobre as pessoas e de suas mediocridades.

Eu já decidi.

Vou continuar acreditando em justiça e igualdade, mas não aqui, com essas almas sombrias e sem cores.

Não. Com esses rançosos de egoísmo eu não brinco mais.

Vou procurar a minha turma.

Mesmo que muito longe, onde as nuvens se escondem atrás das montanhas azuis.



Prof. Péricles


terça-feira, 20 de outubro de 2015

O CIRCO DA PILANTRAGEM

Pilantragem e Civismo
Por Laerte Braga    

 
Kalanag foi um mágico que se apresentou no Brasil lá pelos idos de 1960. 

Como, ninguém nunca soube, mas descia do palco até a platéia com uma jarra d’água e mandava o espectador escolher a bebida preferida. Vinho, uísque, cerveja, da tal jarra saia tudo. Se levarmos em conta que os mágicos àquela época dispunham de poucos recursos tecnológicos, aquele negócio de jogos de luzes, máquinas que engolem pessoas, esses aparatos todos dos mágicos de hoje, Kalanag era de fato um prodígio.

Circos ainda ocupam um espaço importante tanto na lembrança dos que assistiram aos velhos grandes circos do passado, como os que hoje têm o privilégio de observar uma arte – falo de tudo o que o circo traz -. Aquela armação de lona sobrevive em muitas cidades do interior do País. Hoje, uma nova roupagem recheada de salamaleques dos tempos atuais, levou o circo para dentro dos ginásios, das grandes áreas de espetáculos e numa certa forma preservou e preserva as características do espetáculo circense.

Águas dançantes apareceram no Rio de Janeiro no final da década de 50 e o show aconteceu no Maracanãzinho como ponto culminante de um dos grandes circos norte-americanos em seguida a trapezistas, palhaços, mágicos, equilibristas, toda a troupe.

Foi uma semana antes da célebre luta entre Archie Moore e o brasileiro Luisão, mas essa é outra história.
 
A descaracterização da palavra circo, transformada, entre outros sinônimos, em local de pilantragem, de maracutaia aconteceu por conta de se emprestar à pilantragem e às maracutaias o epíteto de um grande circo, com mágicas com dinheiro público, trapaças nos negócios de governo, grandes palhaçadas de políticos, toda essa sorte de ilusionismo do chamado mundo real.

O circo de Brasília, por exemplo, não tem nada a ver com o Circo de Moscou. E nem com as lonas remendadas que povoam as cidades do interior brasileiro.  Ali, nessas cidades, crianças e adultos ainda são capazes de gargalhadas quando o palhaço tropeça e daquelas interjeições de espanto quando o mágico faz sumir um carro em pleno palco substituindo-o ou por um elenco de mulheres, ou por pássaros coloridos que saem voando dentro dos limites da lona.

O circo de Brasília tem a batuta de três dos mais espertos “mágicos” da política brasileira.

O presidente do Senado, José Sarney. O presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer e o presidente do Supremo Tribunal Federal – atual STF – o “ministro Gilmar Mendes.

Sarney, proprietário dos estados/fazenda Maranhão e Amapá seja talvez o mais completo exemplo de Zelig da história da política brasileira. Em 1º de abril de 1964, governador do Maranhão, soltou um manifesto na parte da manhã apoiando o governo constitucional de João Goulart e outro à tarde, aderindo ao golpe militar. Virou capacho de confiança dos governos da ditadura. Acabou presidente da República no episódio da construção da candidatura Tancredo Neves e da morte do mineiro, eleito presidente em 1984.

Michel Temer saiu da casca de jurista e constitucionalista para virar político, deputado em vários mandatos e uma interpretação para cada caso, não importa que seja diversa da anterior, desde que os interesses dos que representa sejam mantidos.

É ponta de lança de FHC e José Serra no PMDB. O maior partido do País, curiosamente sem cara, sem rosto, um amontoado de queromeu, onde ainda pontificam figuras sérias do porte de Roberto Requião governador do Paraná.

O terceiro nessa trindade de pilantras é Gilmar Mendes, presidente do STF. Corrupto de carteirinha, tucano de coração, corpo e alma, ocupa a presidência do que deveria ser a corte suprema do País para transformá-la em instrumento de garantia de todo esse mundo podre e irreal que acaba sendo o real.

E William Bonner, síntese do pilantra na comunicação, está lá para assustar todos os “homer simpson” na hora do Jornal Nacional. O maior produto vendido pelos donos do Brasil aos incautos que ainda acham que esses circos são reais. Não têm a ver com Arrelia ou Pimentinha, palhaços de muito caráter e seriedade.

O circo da pilantragem é no duro mesmo um circo de tragédias e essas tragédias se abatem sobre o povo brasileiro que segundo o imortal João Ubaldo Ribeiro ainda é o culpado de tudo.

A corrupção é só uma conseqüência do modelo político e econômico. Esse é o fato gerador. Esses são os donos do circo.




Laerte Braga é jornalista em Juiz de Fora/MG

domingo, 18 de outubro de 2015

A MAIOR DOR DE ALEKSANDRA

A saudade por si só dói como vento gelado.

As vezes o vento pode ser tão frio que mata em pouco tempo. Em outras a agonia se faz de forma lenta, matando por desgaste e não por congelamento.

Já a decepção tem se processa rápida e não mata, mas prepara o caminho para o firmamento.

Me pergunto, como suportar a saudade misturada com outros sentimentos, como, por exemplo, a mágoa da ingratidão?

Ou ainda, qual seria o terreno mais inóspito, a crueza do Ártico ou a crueza do coração?


Lembro de Aleksandra Sokolovskaia.

Alexandra era uma linda ucraniana, como só as ucranianas costumam ser.

Ficava ainda mais bela ao viver como só os jovens conseguem o idealismo latente na construção de um mundo mais justo e fraterno.

Apesar de todos os perigos participou desde muito cedo dos movimentos clandestinos nos terríveis tempos de agonia e êxtase do czarismo.

Com apenas 18 anos participou da criação de um sindicato no sul da Rússia o que lhe valeria um mandato de prisão.

Conheceu, na clandestinidade, um dos mitos da revolução russa, Leon Trotsky, apaixonaram-se e com ele se casou em 1899, com 27 anos.

Tiveram duas filhas, Nina e Zinaida.

Em 1901 os dois foram presos e deportados para a Sibéria, um lugar tão gelado e de tão difícil sobrevivência que precisava de poucos guardas para ser mantida, já que fugir de lá, era quase impossível.

Só que os revolucionários deram um jeito para providenciar uma fuga. Mas, havia um problema, seria possível libertar apenas um dos prisioneiros.

Ela não permitiu discussão. Embora seu coração de mulher não quisesse a distância, o coração da revolucionária dizia que Trotsky era muito mais importante livre, para o projeto revolucionário, do que ela, e por isso ele deveria fugir, enquanto ela ficaria na prisão gelada e mortal da Sibéria, sobrevivendo enquanto fosse possível.

E assim foi feito, sendo Trotsky resgatado para um lugar a salvo na Europa.

Só que chegando a Paris, em 1903, Trotsky se apaixonou por outra mulher, Natália Sedova, declarou finda sua união com Sokolovskaia e casa-se com a outra.

É daí que vem a indagação.

O que será que mais doeu na bela Aleksandra: o vento gelado que corta a carne com um uivo selvagem nos ouvidos ou a traição do homem amado que para ser liberto precisou que ela mesma continuasse no inferno?

Sabe-se pouco sobre ela.

Não morreu na Sibéria e retornou, anos mais tarde para Moscou.

Não pode viver com as filhas que foram criadas pela mãe de Trotsky e nunca mais se casou.

Continuou suas atividades políticas mas caiu em desgraça na sangrenta ditadura Stalinista, assim como uma geração inteira de revolucionários que o ditador julgava mais brilhante do que ele mesmo.

Foi presa, e novamente deportada para a Sibéria, onde foi vista com vida pela última vez no campo de trabalhos forçados de Kolyma, em 1938.

Tinha então 66 anos.

Com essa idade e submetida as péssimas condições da prisão deve ter morrido em silêncio, de forma quase imperceptível em alguma noite de nevasca maior.

Mesmo assim, cabe a dúvida: qual teria sido a maior dor de Aleksandra Sokolovskaia?

A fria morte provocada pela hipotermia ou a morte por traição do amor de toda sua vida?




Leon Trotsky


Prof. Péricles