terça-feira, 30 de maio de 2017

A DERROCADA DA REPÚBLICA DE CURITIBA



Por Erika Kokay


As “ações controladas” da Operação Lava Jato, de iniciativa da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal, que constituíram provas materiais contra o senador tucano Aécio Neves​ e o presidente ilegítimo Michel ​T​emer, desmascarou de uma vez por todas a parcialidade do juiz Sergio Moro e dos procuradores da “República de Curitiba”.

Não estamos falando de PowerPoint com convicções para ser exibido de forma espetaculosa pela mídia, mas de provas documentais, de amplo e farto material fotográfico, áudios e vídeos, dinheiro rastreado, malas com chips, enfim, todo um processo de investigação sigiloso da Polícia Federal que comprovou esquemas de propina e corrupção envolvendo dois importantes nomes da política nacional.

Desde o início da Lava Jato, Aécio e Temer foram citados dezenas de vezes em depoimentos de réus, delatores e investigados da operação, apareceram em diversos diálogos gravados por operadores de esquemas de corrupção na Petrobras, Furnas, Caixa Econômica Federal, mas nada foi suficiente para que a seccional da Lava Jato de Curitiba tomasse qualquer providência contra eles.

Quem não se lembra das gravações de áudio a envolver o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o então ministro do Planejamento, Romero Jucá ​ (PMDB-RR)​?

Eles revelaram que o impeachment da presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff, era parte de uma estratégia para “estancar a sangria” da Lava Jato. Além disso, foram realizadas citações contundente envolvendo Aécio Neves, naquele momento citado cinco vezes na operação. “Quem não conhece o esquema do Aécio?”, pergunta Machado a Jucá. Pelo visto, Moro era o único que não conhecia ou fingia não conhecer tal esquema.

Várias vezes o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ)​ dirigiu perguntas a Temer. A sociedade brasileira sabia que o conteúdo das perguntas tinha o sentido de pressionar e chantagear Temer. Cunha fazia essas perguntas para deixar claro que sabia muito e que seu silêncio era muito valioso. E o que fazia Moro com essas perguntas? Engavetava. Em vez de agir como juiz, Moro atuava como advogado de defesa de Temer, a exemplo de quando impugnou 21 das 41 questões levantadas por Cunha. Moro chegou a cometer o absurdo de dizer que o roteiro das perguntas de Cunha era um “episódio reprovável” e “tentativa de intimidação da Presidência da República”.

Diferente desse joguete de compadres com corruptos do PSDB e do PMDB, Moro não hesitou em fazer da Lava Jato uma trincheira de perseguição jurídica e política contra Lula, Dilma e o PT.

Em todo o tempo, Moro preocupou-se tão somente em fazer o uso político da operação para vazar delações e fazer escutas ilegais e influenciar o cenário político nacional. Em um momento crucial do processo de impeachment contra Dilma, Moro vazou para a Globo diálogos da presidenta com o ex-presidente Lula. Apesar do diálogo não ter absolutamente nada de comprometedor, foi decisivo para o desfecho do processo, tornando-se um episódio emblemático da atuação política persecutória de Moro.

Em vez de investigar, qual era o uso que Moro dava às delações? Com auxílio da mídia, as utilizava de modo ilegal e discricionário a partir do calendário político-partidário. Ora, as delações eram vazadas em momentos em que a população brasileira ia às ruas em atos pró ou contra o impeachment, em véspera de eleições, em momentos-chave da política nacional.

E por que Moro nunca optou por um processo investigatório profundo? Sabia e sabe que se desse um passo para além de delações sem provas inocentaria Lula. Não poderia continuar com o discurso farsesco de que o ex-presidente é o chefe de um esquema criminoso na Petrobras, dono de um tríplex que não lhe pertence, dono de um sítio que não lhe pertence, enfim, com acusações sem lastro comprobatório de que o Instituto Lula teria adquirido um terreno que nunca foi comprado. Um processo investigatório sério que buscasse provas, certamente inocentaria Lula, o que não interessa e nunca interessou à “República de Curitiba” e àqueles que tramaram um golpe contra a democracia.

A ação da PGR e do STF deixa clara a parcialidade de Moro, a conveniência de suas ações ao sabor da conjuntura política, não tendo em nenhum momento a responsabilidade que o P​oder Judiciário exige de investigar os fatos e elucidar os supostos crimes denunciados.

E o que faz o juiz de Curitiba após as avassaladoras provas contra Temer e Aécio? Tenta de modo desavergonhado manter uma narrativa furada de que “não havia, na época da decisão, qualquer notícia do envolvimento de Temer nos crimes que constituem o objeto daquela ação penal”.

Definitivamente, Moro foi desmascarado. A casa da Lava Jato de Curitiba caiu.



Erika Kokay é deputada federal e presidenta do PT-DF​.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

DESABAFO


O desabafo é um direito inviolável de todo aquele que está na frente de luta pela cidadania e que, do seu jeito, do mais humilde que seja, acompanha essa insana situação política do país.


Dito isso, queiram entender as palavras abaixo justamente como isso, um desabafo, sem pretenções sociológicas, que apenas anseia por criar vida através das letras já que, preso ao peito parece fazer uma pressão cada vez mais insuportável.

É cada vez mais difícil entender certas posições e argumentos ou falta deles.


Por exemplo, como entender pessoas da geração que acompanhou as tramoias para eleger Collor e depois viu ao vivo e a cores as consequências nefastas do neoliberalismo na vida das pessoas, possa apoiar partidos que pregam justamente, o neoliberalismo, o extremo-mercado, inclusive com diminuição das garantias de trabalho e de previdência?


E os colegas funcionários públicos, cujos contracheques permaneceram com valores congelados, inclusive nos centavos, durante os 8 anos de governo FHC, sendo rotulados como inúteis e incentivados ao "pede pra sair" pelos pdvs, apoiarem Aécio Neves nas últimas eleições presidenciais ou qualquer outro neoliberal na vida pública?


Será amnésia ou (teoria da conspiração) um misterioso programa que comanda as mentes das criaturas?


Como se conformar em viver num país em que um só grupo de comunicação detém o monopólio da informação, quando a pluralidade das opiniões é sagrada à democracia? Não ter como popularizar sua versão dos fatos é como estar amordaçado, sem poder gritar diante das informações premeditadamente deturpadas.


E como aceitar que amigos e companheiros espíritas, que estudam com afinco a Doutrina que se propala como o cristianismo redivivo, isso é, a doutrina que busca ser o cristianismo em essência, baseado no amor ao próximo, sejam, de alguma forma, contrários a governos que promovam políticas sociais de diminuição das desigualdades e de combate à fome e à extrema miséria? E pior, que apoiem forças sabidamente contrárias a esses programas?


Como aceitar que companheiros que leem que uma das necessidades da reencarnação seja que, os espíritos, as pessoas, contribuam com a obra da criação, evidentemente participando da criação de um mundo melhor e menos desigual, regozijem-se com atos e políticos fascistas que pregam a homofobia, o racismo, o machismo?


Afinal de contas como entender quem propala a fraternidade apenas na teoria, mas se distancia dela na prática?


Da mesma forma, como admitir que pessoas inteligentes, bem informadas, acreditem na neutralidade de um juiz que aparece em foto aos sorrisos e abraços com gente sabidamente suspeita de ilícitos e que devem ser julgadas por ele mesmo? Que absolva amigos e ameace os inimigos? Juiz não deve ser imparcial?


A cegueira das pessoas que afirmam não enxergar perseguição ao Lula é real ou fictícia? Se fictícia é proposital ou construída pela alienação?


Será que essas pessoas bem-intencionadas que pensam que realmente o que está acontecendo é uma luta contra a corrupção, não perceberam ainda que ajudaram com seu silêncio ou com suas panelas a derrubar um governo com problemas sim, mas honesto, em detrimento de grupos historicamente comprometidos com o lado negro da força?


Incompreensível como habitantes da senzala submetam-se aos interesses da Casa Grande.


Será que vale à pena tanto ódio traduzido no “anti”? É possível que não se perceba que o ódio cega e emburrece?


Será real que não perceberam ainda que graças a eles a Farmácia Popular está em seus últimos dias, a Bolsa Família esteja menor e condenada assim como o SUS e que O Mais Médicos tenha seus dias contados? E não entendam o que isso significa na vida de milhões de pessoas?


Como entender isso? Como aceitar essas coisas sem uma enorme dor na alma?


Talvez nem tenha direito à tantas perguntas e ninguém irá me responder mesmo. Mas, com toda certeza, ao dobrar minhas utopias diante das horas e face aos sonhos acalentados por tanto tempo e agora espedaçados, concluo que, como criança diante da mais complexa das máquinas, eu não entenda mais nada.


Por favor, desculpem o desabafo.



Prof. Péricles



sábado, 27 de maio de 2017

JUIZ BRASILEIRO


Por Maria Fernanda Arruda


Nos moldes norte-americanos, a auto proclamada força tarefa ao nomear suas incursões, o faz para dar impressão à sociedade que está dando correção de rumos à vida política ou empresarial. Tendo o país infinitas camadas miseráveis, acalentou seu sonho de ter desculpas de que sua miserabilidade iria acabar, ou aos mais lúcidos seria uma vingança contra os ricos a que sempre invejaram.

Assim, com colaboração da infame mídia o juiz de formação norte-americana iniciou sua campanha política para balançar a vida econômica do país com essa máscara de moralidade. Mesmo ficando caricata sua expressão “isso não vem ao caso” que passou a usar sempre que lhe cobravam equidade. Mostrou também que era do PSDB e ninguém iria mudar seu rumo. Com ajuda de um procurador investidor imobiliário que explora o programa Nossa vida-Nossa Casa para ter futuro risonho, passou a moldar nova concepção para a figura juiz.

Com colaboração de desembargadores que deveriam ser seus freios, passou a ter direito a ser excepcional e fazer o que quisesse acima da lei. Bem …se antes existia juiz verdadeiro, agora se moldava ‘juiz brasileiro”! Isto é: um juiz que não é só passageiro, mas se faz as vezes de cobrador e motorista. Em vez de julgar a causa, escolhe um autor, ainda que sem causa, para se mostrar seletivo e cumpridor de ordens da CIA. Iniciou sua saga apelidando sua vítima principal de ‘Nine’ em galhofa digna de magistrado que se diverte como se fosse juiz de briga de galos e “quisesse” ver sangue e sofrimento.

Assim foi moldado o juiz brasileiro – o que recebe acima do salário legal mediante penduricalho e jeitinhos que decorrem de viagens ou diárias. Mas o principal foi oficializar o conluio pelo qual não mais haveria independência de polícia investigativa : ele queria que ‘plantassem’ contrato em invasão de domicilio de seu perseguido e o fez com tanta sofreguidão que nem lembrou que contratos tem de ter assinatura…

Se para esse ‘plantio’ tivesse que arrombar porta sob holofotes de tv,melhor ainda. E ainda deu liberdade para que policiais se apossassem de celulares ou tabletes das crianças da casa. Como quem diz no amor e no ódio vale tudo. Se, para dar conta de sua missão fizesse os estragos inconcebíveis de quebrar empresas e empregos e dar bloqueio econômico e de progresso ao país …isso faz parte! O que vale é que tem respaldo confirmado com as medalhas dos fardadinhos todos do país que seguem o figurino de 64 sem alterações.

Juiz brasileiro agora é assim, para que provas se eu que escolho o autor? Se necessárias delações para inglês ver, posso prender quantas dezenas de delatores já que minuta para que façam essas delações já tem prontas nas gavetas do Forum. Qualquer dúvida pega o avião para os EUA e voltará com ordem para ser obedecido em toda linha do poder judiciário e do executivo e demais, se houver.

O ministério público passa a ser auxiliar e nem precisa falar já que ele mesmo acusa. Juiz eclético que conclui sem verificação de nada e nem de seguimento à lei. Quem tem os EUA ao seu lado, por que ficar ligado a essas bobagens… se até o golpe do pré-sal se deu inicio?

O resto é apenas continuação.


Maria Fernanda Arruda é escritora e colunista do Correio do Brasil

sexta-feira, 26 de maio de 2017

O PECADO DE ALIANÇAS COM O INIMIGO


A realidade histórica que nossa esquerda política parece não ter compreendido até hoje é a da luta de classes.

Não se trata necessariamente de um confronto físico, como imaginam fascistas ignorantes, mas de um confronto de posições políticas, econômicas e ideológicas. Há um antagonismo inexorável entre aqueles que se apropriam da riqueza social e aqueles que a produzem e padecem sob a tutela violenta dos apropriadores, ou, formulado de forma mais simples, entre os parasitas do capital e os expropriados do produto de sua força de trabalho.

É escandaloso que, enquanto a maioria das brasileiras e dos brasileiros vive com salário mínimo ou até menos, devendo com ele cobrir suas despesas de habitação, vestuário, alimentação e educação dos filhos, uma minoria abastada não se contenta com seus polpudos ganhos do estado e exigem mesadas empresariais de 50, 500 mil ou até milhões, para garantir vantagens indevidas aos contratados em obras e serviços para a administração.


É preciso colocar a mão na cabeça e perguntar-se: que diabos alguém faz com uma mesada dessas??? Para quê tanto dinheiro? Para comprar SUVs, viver em apartamentos de luxo, frequentar jantares e coquetéis em ambientes para poucos e comprar roupas de custo imoral?


Enquanto isso, nossos irmãos lascados se abrigam em barracos e barracões, de lona, de madeira, de alvenaria e latão, submetidos a todas intempéries possíveis, expostos a ratos, lacraias, baratas, escorpiões e a uma polícia violenta que em nada perde para os bandidos em crueldade. Captam água sem tratamento, convivem com esgoto a céu aberto e acessam a energia elétrica por gambiarras. Vestem-se com roupas velhas doadas ou mais novas, compradas em brechós. São obrigados a sair de madrugada de casa para se espremerem em condução publica cara e de péssima qualidade para chegar ao trabalho, onde abaixam a cabeça para não perder o emprego e comem de suas matulas simples esquentadas, quando possível, num microondas ou frias mesmo, quando o empregador não o disponibiliza. Chegam em casa à noite, fugindo dos assaltos e, esgotados, ainda cuidam de seus filhos e de suas filhas.


E nossa esquerda política, dizendo defender os desapropriados, não consegue, em nome de uma tal "governabilidade", deixar de parlamentar com os apropriadores aos sorrisos, fazendo-lhes concessões em troca de migalhas de poder. Migalhas, diga-se de passagem, até bem-vindas, porque permitem um mínimo de ação inclusiva e redistributiva. Mas são migalhas, nada mais do que migalhas, se comparadas com a capacidade da apropriação criminosa do patrimônio público e social.


Compreender a luta de classes implica não aceitar arranjos de poder em detrimento do esforço de empoderamento da classe trabalhadora e dos excluídos. É não aceitar conchavos espúrios com o inimigo de classe. Acertos táticos eventuais com setores reacionários são possíveis apenas quando não agravam o desequilíbrio de forças no enfrentamento da profunda iniquidade.


Os atores progressistas foram alvo de um ataque vil coordenado por políticos golpistas inescrupulosos, com apoio das instituições judiciais e parajudiciais e da mídia comercial. Seu objetivo é o completo aniquilamento do frágil estado social brasileiro, piorando as condições de vida de milhões de trabalhadores e excluídos.


Quaisquer alianças que preservem os interesses e objetivos dos usurpadores da soberania popular são incompatíveis com o projeto de um Brasil inclusivo e são por isso inaceitáveis para quem padece da profunda desigualdade econômica e política.


Fala-se que os partidos parceiros do golpe, PMDB e PSDB, afundados na lama das megapropinas, procuram "uma solução" para a crise em que enfiaram o País com auxílio da mídia e das agências persecutórias. Qual a solução? Desfazer o golpe? Reinstituir a presidenta eleita arrebatada covardemente por quem lhe devia lealdade de vice? Devolver o poder à soberania popular, para que escolha o caminho a seguir?


Não, nada disso. Isso seria coisa de esquerdista. Querem aprofundar a agenda do golpe e, de preferência, com apoio do PT.


Como assim? Os partidos do golpe estariam tentando convencer Temer a largar o osso o mais rapidamente possível, com garantias de leniência na persecução penal, para que possam manter o rumo das "reformas" com um sucessor escolhido por suas bancadas de trombadinhas entre pessoas que não têm nenhum compromisso com os interesses da maioria dos brasileiros. E, segundo avaliação dos golpistas, não poderiam perder tempo, pois, do contrário, impor-se-ia, na contramão de seus planos anti-povo, a vontade das ruas.


Vencida a hipocrisia, reina, agora, o cinismo absoluto. É evidente que esse Congresso contaminado por práticas corruptas na sustentação de um governo golpista ilegítimo não tem condições de escolher o futuro Presidente da República sem contaminar, também, seu governo com sua extorsão criminosa de vantagens materiais. Só a soberania popular manifestada em eleições diretas e livres poderá restaurar a democracia e permitir a afirmação dos interesses da maioria das brasileiras e dos brasileiros.


Acordos com as forças da reação e do golpe só podem ser estabelecidos dentro desse objetivo: a realização imediata de novas eleições. Nada menos. Nossa preocupação é precisamente impedir a aprovação de medidas anti-povo. Só o restabelecimento de um governo legítimo conseguirá barrar as articulações espúrias no Congresso. Exigimos respeito!


Enquanto em Brasília o MPF leva à frente, sempre com métodos controvertidos, o desbaratamento de quadrilhas no poder político, em Curitiba permanece a intenção de destruir as lideranças de esquerda e, mais precisamente, do PT.


A burguesia sabe cumprir seu papel. A destruição da política como um todo é a afirmação absoluta do poder econômico e do poder burocrático subserviente àquele.


Na luta de classes, temos que combater isso com toda nossa energia. E, para tanto, não é bom confiar no ministério público, na polícia e no judiciário, instituições que fizeram papel sujo no golpe dos corruptos; instituições que não passam de instrumentos dos apropriadores criminosos, a quem sempre trataram com leniência que contrasta com a severidade do julgamento público e escandaloso do PT e da esquerda.


Se hoje essas instituições não têm outra opção que a de se afirmarem no combate às forças corruptas, isso se dá porque foram atropeladas pelos fatos. Não o fazem, porém, para promover justiça social e preservar direitos dos mais fracos. Fazem-no privilegiando bandidos aquinhoados, dando-lhes imunidade judicial porque expuseram seus comparsas. E ainda acham que isso é um prêmio às brasileiras e aos brasileiros.

É importante não nos iludirmos. A saída eventual de Temer não altera nada na correlação de forças. Os golpistas mudam de cara mas não de tática e nem de estratégia. As forças progressistas continuam a ser alvos de um ataque destrutivo, com campanha de desmoralização midiática e com perseguição implacável. E, nesse contexto, não pode haver concessão nenhuma.


A luta de classes não desaparece num passo de mágica, num apelo demagógico à união de todos as brasileiras e e todos os brasileiros. Aceitar esse apelo é aceitar a aliança entre estuprador e estuprada. Precisam reconhecer o golpe que deram e reconhecer como força política legítima os vencedores das eleições de 2014 e, só depois, conversaremos sobre acertos pontuais táticos que permitam o avanço de nossa luta.


Com inimigos de classe, só se negocia entre a capitulação deles e a vitória de trabalhadores e excluídos.



Por Eugênio Aragão





quarta-feira, 24 de maio de 2017

BRASIL PROJAC


Há 21 anos, no dia 2 de outubro de 1995 a Rede Globo, depois de 15 anos entre projetos e construção, inaugurava o Projac (Projeto Jacarepaguá), hoje em dia conhecido como “Estúdios Globo”.

Lembrando os grandes estúdios norte-americanos dos anos 40/50, quando inaugurado, o Projac era o maior núcleo televisivo da América Latina, o Maior Estúdio, ou múltiplo estúdio de produções de sua área (atualmente perde apenas para os estúdios da TV Azteca, do México, inaugurados em 2012).

Os mais antigos, que assistiram novelas globais de décadas anteriores, devem lembrar que as tramas se passavam em cenários acanhados, reduzidos, a tal ponto que pouco se diferenciava a mansão da casa humilde, pelo menos, em tamanho.

Hoje em dia a Globo lembra produções hollywoodyanas, com espaços generosos de gravação.

A TV Globo que faz parte das organizações Globo (rádio, jornal e outros veículos) nasceu, cresceu, floresceu, ficou rica e monopolizou o mercado sob os auspícios da ditadura militar.

Seu passado, portanto, está intimamente ligado com o período mais negro de arbítrio de nossa história, e nem ela esconde isso, tendo até pedido desculpas a seus espectadores.

Mas o problema da Globo não é seu passado. O passado pode e deve ser resgatado, mas não alterado.

O problema, maior do Brasil, é seu presente e seu futuro real em contraste com o imaginado pela Globo.

Acostumada a criar personagens inesquecíveis e grandes obras de ficção, como um cientista louco que se confunde com sua própria criação, algumas pessoas dessa organização talvez misture a realidade nacional com algum tipo de roteiro escrito em seus bastidores.

De certa forma, é como se imaginasse o Brasil inteiro um grande projac que pode ser adaptado aos seus interesses, e a história só vale se contada de seu jeito.

Assim um ex-presidente tem que ser corrupto mesmo que não exista prova nenhuma contra ele. A presidenta eleita deve ser apeada do poder e as reformas que desagradam a imensa maioria dos brasileiros devem ser aprovadas.

Como se o Brasil inteiro trabalhasse nesse projac, a Globo pensa que pode demitir presidentes, procuradores, ministros e a todos em geral, como se seus trabalhadores fossem.

Só que não.

O Brasil precisa reagir e o povo brasileiro escrever seu próprio roteiro onde os meios de comunicação, necessários à democracia, não ameacem a própria democracia.

Uma das poucas coisas muito claras em todo esse drama que o país vive é que, do jeito que a Globo funciona e com seu imenso poder de criar realidades, a democracia brasileira jamais sobreviverá há alguns capítulos entre um golpe e outro.

A Globo é uma concessão do governo brasileiro e não o contrário, o governo uma concessão da Globo.

O Brasil não cabe no Projac, ele é muito maior.




Prof. Péricles

terça-feira, 23 de maio de 2017

O DESESPERO DA GLOBO



O editorial de O Globo pedindo a renúncia de Temer, é demonstração de fraqueza e desespero.


A Globo nunca precisou manifestar por escrito suas posições para mover os cordões do poder. Dessa vez, deixou o roteiro – por escrito!


Está claro que família Marinho, alinhada ao Partido da Justiça, deseja a rápida substituição de Temer por um governo “técnico” – que conclua as “reformas” e dê sustentação para a Lava-Jato concluir sua tarefa principal: impedir Lula de ser candidato.


A Globo deseja “limpar” o golpe. Temer no poder cria uma dissonância: se Dilma foi afastada em nome da moralidade (grande mentira, sabemos), como se explica que uma gangue esteja hoje no controle do país?


A Globo nunca quis moralidade. O grande projeto é desregulamentar o mercado de trabalho, tirar direitos sociais e abrir o Brasil para investimento estrangeiro. De quebra, a família Marinho poderia passar a empresa nos cobres, desde que a Lei de Telecomunicações seja alterada e a TV possa assim ser vendida a algum investidor estrangeiro.


Temer servia como operador dessa agenda – que foi rejeitada nas urnas. E por isso trata-se de um golpe! A vontade majoritária foi desprezada, e o programa derrotado 4 vezes no voto estava sendo implantado na marra.


Mas o timing da PF e da JBS acelerou as contradições, expondo de forma dramática a desagregação do bloco que deu o golpe. Numa linguagem mais “sociológica”, poderíamos dizer que desde 2013 o Brasil vive uma ampla “crise de hegemonia”. O bloco sob o qual Lula e Dilma governavam rachou, mas um novo bloco não conseguiu ainda impor sua hegemonia de forma desorganizada. É como se a disputa seguisse indefinida, agravando a crise e abrindo possibilidades para todo tipo de saída.


E aí entramos no segundo eixo desse texto: o desespero. O tempo corre agora contra a Globo.


A Globo tem pressa. E se desespera. Porque as reformas já pararam. Se o único caminho para tirar Temer for o TSE, isso pode levar dois a três meses! Até lá, o clima nas ruas vai ferver. E a possibilidade de aprovar as reformas se evapora se tudo não estiver resolvido até agosto ou setembro…


Fora isso, a crise expõe mais e mais contradições. Agora Gilmar Mendes também aparece nas delações e pode ser submetido a impeachment, já que tramava com Aécio formas de influenciar votos no Senado.


Temer decidiu ficar, e expõe assim as contradições dos dois grupos golpistas: de um lado, a direita política, de outro o Partido da Justiça. O que unia os dois era derrubar Dilma e aplicar a agenda ultra-liberal.


Acontece que Temer, mais do que qualquer agenda, defende a sobrevivência dele mesmo e da gangue que o cerca.


A Globo ajudou a instalar no poder um grupo que vai permanecer ali o quanto puder, para garantir o foro privilegiado.


Seria fundamental, para a gangue midiática, instalar rapidamente um governo eleito indiretamente, para completar a destruição de direitos e acabar de abrir o país – inclusive parta investimentos estrangeiros nas comunicações. Mas no poder há outra gangue. Que vai usar todas as armas para resistir.


É curioso ver o editorial da Família Marinho invocar os interesses “dos cidadãos de bem”. Onde estavam esses “cidadãos de bem” quando a ditadura matava e torturava com apoio da Globo? Ou quando Collor arruinava o país com beneplácito da família Marinho? E quando FHC comprava a reeleição? Ou quando as empreiteiras e conglomerados privados enchiam as burras dos tucanos?


A Globo descobriu os cidadãos de bem recentemente?


Por isso, tenho aqui invocado a velha fórmula de Brizola: se a Globo está de um lado, fiquemos do outro!


Claro, não estou dizendo que devemos defender a gangue temerária. Mas apontando para duas questões: a esquerda e os movimentos populares vão servir de massa de manobra para derrubar Temer, e na sequência ver a Globo instalar Carmen Lúcia/Meireles/Armínio Fraga no poder?


Para o campo popular, o melhor que pode acontecer é Temer ficar, expondo as contradições da direita liberal, esgarçando o tecido golpista. Que seja longa a agonia do governo golpista, expondo as vísceras do falso moralismo e dos tais “cidadãos de bem”.


Deixemos o “Fora, Temer” para os editoriais da Globo. Quem pariu mateus que o embale. A palavra de ordem do lado de cá já não é “Fora, Temer”. Mas “Diretas-Já” e “Parem as Reformas”.


Vamos para rua pedir que o povo decida qual programa será implantado no Brasil. Ou seja, lutamos pela Democracia e contra o desmonte do Estado Nacional.


Enquanto isso, podemos até nos divertir um pouco com o desespero da Globo. E dizer: “Temer, resista!”



Por Rodrigo Vianna